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Crítica | Tintim: Rumo à Lua e Explorando a Lua

por Luiz Santiago
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O presente texto traz a crítica para o arco formado pelos álbuns Rumo à Lua (1953) e Explorando a Lua (1954), aventuras de Tintim que optei por não publicar em separado para que não se perdesse o fio central da história (muito mais forte, amarrado e dependente — embora não em um sentido negativo — do que o duo Licorne e Rackham) e para que tivéssemos a oportunidade de trabalhar todos os eventos que compõem essa viagem sem ter que segmentá-los em duas críticas.

A trama começa com a chegada de Tintim e do Capitão Haddock ao Castelo de Moulinsart, na viagem de retorno do Khemed, o chamado País do Ouro Negro. Com a ausência do Professor Girassol e o telegrama convidando-os para ir à Sildávia, temos uma rápida e eficiente inserção de suspense e possibilidade de perigo no roteiro, uma sensação de que alguma coisa vai dar muito errado a qualquer momento, estratégia que Hergé explora todo o arco a fim de manter vivo o interesse do leitor.

De todas as Aventuras de Tintim, esse “arco lunar” é o que tem o roteiro mais denso e técnico, o que evidentemente exigiu de Hergé uma grandiosa pesquisa e uma boa dose de imaginação para não tornar a história chata com tantas explicações e termos físicos e mecânicos. O mais interessante é que narrados pelo Professor Girassol e com a simpatia e braveza do Capitão Haddock, esse lado mais teórico se tornou gracioso e divertido, quase um daqueles almanaques infantis bem escritos, onde as crianças são apresentadas a coisas de difícil compreensão através de uma linguagem fácil e atrativa.

plano critico foguete

E pode-se até dizer que Hergé foi um pioneiro dos quadrinhos ao desenhar e escrever uma missão à Lua com esse tipo de abordagem, levando em consideração o discurso científico (mesmo que pontuado por imaginação). Já haviam diversas aventuras semelhantes no cinema e na literatura, é verdade, mas nos quadrinhos, com o requinte de detalhes e com uma missão organizada e guiada, tendo como propósito explorar o nosso satélite natural, particularmente não conheço nenhuma versão anterior a esta, tendo, é importante destacar, essas características de apelo científico no roteiro e grande número de detalhes na arte.

Os grandes quadros do foguete saindo da Sildávia, a visão da Terra vista do do espaço e toda a exploração na Lua – interrompida, infelizmente, pela ação do Coronel Jorgen, um velho conhecido de Tintim desde o caso do Cetro de Ottokar – são exemplos contundentes da aplicação de Hergé nos desenhos e na enorme atenção dada aos detalhes por quadro. É claro que essa atenção existia já nos primeiros álbuns do autor, mas desde a publicação de seu arco clássico, formado por O Segredo do Licorne e O Tesouro de Rackham, o Terrível, sua arte se tornou mais rica, ao passo que o roteiro mostrava características mais parecidas com aventuras do tipo Indiana Jones ou até mesmo James Bond (no caso desse Rumo à Lua e Explorando a Lua, essa característica detetivesca salta aos olhos).

Há uma grande carga e humor na história, e ela é intensificada pela presença do Professor Girassol e dos Dupondt, cada um a seu modo desencadeando ações que movem a ira do Capitão Haddock e mesmo certas ações de Tintim e Milu, o que completa o ciclo. Essa forte ligação entre os personagens tornou a história mais orgânica, uma posição narrativa que Hergé aplicara com notabilidade em O País do Ouro Negro, voltando a esse mesmo modelo no presente arco, não deixando de fazer inúmeras referências à aventura anterior, no Khemed, e à outra aventura de Tintim na Sildávia, a já citada trama em torno do Cetro de Ottokar.

herge e tintom na lua plano critico

Talvez a gigantesca sucessão de problemas, especialmente no segundo álbum, seja um ponto pouco natural da história a ser destacado como negativo. No início do texto eu citei a impressão de que algo errado parecia que estava para acontecer a qualquer momento, mas nesse caso, me refiro a outra coisa. Eventualmente os problemas acabam de fato acontecendo, e essas pequenas “paradas para resolver pequenos defeitos” quebram o ritmo da leitura e, em menor grau, da história. Porém sabemos que essa era uma estratégia amplamente utilizada pelo artista, algo que parece estranho reclamar a essa altura do campeonato, mas particularmente nessa aventura, essas quebras se destacaram ainda mais e de maneira não tão boa – talvez pelo deslocamento dos personagens ou pela própria característica científica do roteiro.

Todavia, esses pontos não impedem que a exploração da Lua por Tintim e seus amigos seja uma aventura tremendamente divertida, e que esteja entre as melhores já escritas por Hergé.

Objectif Lune / On a marché sur la Lune – Bélgica, 1953 e 1954
Publicação original: Tintim Magazine, 30 de março a 7 de setembro de 1950 (Rumo à Lua) e 29 de outubro 1952 a 29 de dezembro de 1953 (Explorando a Lua).
Publicação encadernada original: Casterman, 1953 e 1954
No Brasil: Companhia das Letras, junho de 2007
Roteiro: Hergé
Arte: Hergé
64 páginas (cada história)

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