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Crítica | Saga – Volume Um

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais volumes.

Saga é uma HQ em andamento nos Estados Unidos e ainda não publicada no Brasil, que está, atualmente, em seu número 9. O primeiro arco, contendo os seis primeiros números, originalmente publicados entre março e agosto de 2012, já foi editado em forma de encadernado lá fora (em outubro de 2012) e é ele o objeto da presente crítica.

Brian K. Vaughan escreve e Fiona Staples desenha e colore essa incrível série que revitaliza o conceito de “ópera espacial”, muito na linha do que George Lucas criou, na década de 70, com Star Wars. Aliás, a comparação entre Saga e Star Wars é completamente inevitável. As duas obras são extremamente imaginativas, com personagens cativantes e uma linha narrativa que prende os leitores/espectadores. Não há dúvidas que Vaughan inspirou-se no conceito amplo de uma enorme saga interestelar para criar sua mais nova série.

Para quem não se lembra, Vaughan é o autor da já encerrada e muito elogiada Y: O Último Homem, série sobre uma praga que dizima todos os portadores do cromossomo Y na Terra, menos Yorick e seu macaco capuchinho chamado Ampersand. O autor também é famoso por escrever Ex Machina, interessante série sobre um prefeito super-herói da cidade de Nova Iorque. E não podemos esquecer de Os Leões de Bagdá, a magnífica história de leões antropomorfizados passada na invasão do Iraque em 2003 pelos Estados Unidos.

Os três títulos acima (e Vaughan escreveu muito mais, tanto para a DC quanto para a Marvel) já demonstram a imaginação e versatilidade do autor que, com Saga, pula direto para uma mistura muito bem equilibrada entre a fantasia e a ficção científica, tendo como pano de fundo uma guerra entre os seres alados do planeta Landfall, o maior da galáxia e sua única lua Wreath, com seus seres chifrudos. Como a destruição de um pelo outro levaria à aniquilação total dos dois, a guerra acabou espalhando-se para todo o resto da galáxia e, quando a série abre, estamos em Cleave, uma planeta perdido que é palco para grandes batalhas entre os dois exércitos.

Só que Vaughan não está interessado na guerra. E sim em suas conseqüências. A prova disso é o primeiro quadro em que, em uma página inteira, vemos um close-up do rosto tenso de dor de Alana, nativa do planeta Landfall, perguntando a alguém que não vemos se “ela está cagando”. Esse o nível de intimidade que o autor quer que tenhamos com sua criação. A primeira frase de Saga é literalmente essa e o que vemos na página seguinte é seu interlocutor, o marido de Alana, Marko, um nativo da lua Wreath, com chifres de bode montanhês na cabeça.

Logo descobrimos que os dois são casados e que Alana está parindo a filha do casal que, aliás, narra toda a história. Com isso, sabemos que, pelo menos de alguma maneira, a menina sobrevive às aventuras que vemos a seguir, mas não necessariamente sabemos exatamente como e se ela tem seqüelas. Afinal de contas, estamos em um universo altamente criativo cujas regras vão sendo estabelecidas no mesmo passo da narrativa de Vaughan e, como fica evidente, há muita ideia boa na cabeça dele.

Obviamente, a união dos dois amantes é odiada pelas duas facções e, de um lado, Landfall determina que um estranho príncipe robô cace os pombinhos e, por outro, Wreath contrata caçadores de recompensa, chamados Freelancers, para aniquilar o casal e trazer de volta a criança híbrida. Assim, com apenas alguns segundos de nascida, o bebê vê mais mortes e fugas do que muitos heróis de ficção vêem em toda sua vida.

Misturar o mote de Romeu e Julieta em um ambiente de fantasia/ficção científica não é terrivelmente original. E o mesmo se pode dizer de colocar um casal fugindo pelo universo das mais diferentes ameaças. No entanto, mesmo assim, Saga funciona bem.

Maravilhosamente bem, para dizer a verdade!

O primeiro volume é todo dedicado à fuga de Alana, Marko e sua filha recém-nascida pelo arrasado planeta Cleave, até a Rocketship Forest, utilizando-se de um mapa que um traidor entrega aos dois no começo da narrativa. Tudo é, claro, uma desculpa para que conhecemos mais dos personagens e desse estranho universo criado por Vaughan.

Logo aprendemos que, enquanto o povo de Landfall se fia na tecnologia, o de Wreath usa muita mágica. Descobrimos que o povo de Cleave, completamente aniquilado, foi todo convertido em fantasmas vermelhos que vagam pelo planeta pregando peças em seus inimigos. Somos apresentados a dois caçadores de recompensa completamente diferentes, um estilo Han Solo chamado The Will que anda com um enorme felino que detecta mentiras apropriadamente chamado de Lying Cat (algo como Gato Mentiroso) e outro muito temido e bem estranho chamado The Stalk. E claro, os dois caçadores têm um passado em comum.

Para nossa surpresa, o pacifista Marko revela-se como um excelente guerreiro, daqueles que é tomado por uma raiva insana no melhor estilo Wolverine, enquanto que Alana é super-protetora de seu bebê e, em determinada sequência, descobrimos que ela literalmente fará qualquer coisa por sua filha.

Mas o mais estranho é uma raça de robôs que não parece ser nativa nem de Landfall nem de Wreath, mas que ajuda Landfall na guerra e na caçada ao casal. Todos eles têm televisões no lugar da cabeça – sim, isso mesmo – e corpo aparentemente humano. Eles fazem parte de alguma monarquia e o rei determina que seu filho, o Príncipe Robô IV, que acabou de voltar de uma campanha militar, deve capitanear a perseguição à Alana e Marko.

Os seis números que formam o primeiro arco são todos usados para nos dar uma breve visão do que pode vir por aí. As possibilidades são imensas, quase infindáveis e o que espero é que Vaughan não abra demais seu universo, ao ponto de não conseguir fechar todas as pontas soltas em seu final, isso presumindo que haverá um final (mas é uma presunção razoável, já que Y: O Último Homem acabou depois de 60 número e Ex Machina depois de 50).

Fiona Staples, relativamente desconhecida no meio dos quadrinhos, faz um trabalho absolutamente fenomenal nos desenhos. Econômica nos traços, ela sabe dar ênfase ao que é mais importante, ajudando e muito na caracterização dos personagens. Além disso, sua capacidade de criar raças alienígenas realmente intrigantes e diferentes é, aparentemente, sem fim. Reparem, por exemplo, nos nativos de Landfall. Todos eles têm asas, mas cada um tem um par diferente do outro. São asas de pássaros, de morcego, de insetos e uma enorme variedade de outras. O mesmo vale para os habitantes de Wreath, cada um com seu tipo de chifre. As criaturas gigantes que aparecem são formidáveis, todas elas lembrando animais conhecidos de nós, mas sempre com aquele toque extraterrestre, o que nos permite ao mesmo tempo aceitá-los e amá-los (ou odiá-los, depende).

Seu trabalho com os quadros é padrão, sem grandes arroubos de originalidade. Mas, diante da estranheza que muitas de suas criações nos causam, foi uma escolha esperta da desenhista, que também só faz splash pages quando absolutamente necessário.

Um alerta, porém. Apesar da clara inspiração em Star Wars, Saga não tem nada de infantil. Há sexo, nudez, profanação e violência a todo tempo. Não esperem discrição no trabalho da dupla Vaughan e Staples. Eles embarcaram nessa história para efetivamente mostrar cada detalhe desse universo beligerante e as realidades nuas e cruas estão lá para quem quiser ver. E se deliciar.

Vida longa para Saga!

Saga – Volume Um (EUA, 2012)
Contendo:
Saga #1 a 6
Roteiro: Briank K. Vaughn
Arte: Fiona Staples
Letras: Fonografiks
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: março a agosto de 2012
Páginas: 160

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