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Crítica | Seconds

por Handerson Ornelas
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Bryan Lee O’Maley se tornou um dos maiores nomes dos quadrinhos atuais simplesmente ao lançar Scott Pilgrim, considerada um marco do gênero. Após o imenso sucesso com a saga de Scott – que virou até filme – era de se esperar que a espera e cobrança para sua nova obra fosse grande. Essa seria Seconds, uma divertida graphic novel que, mesmo não sendo perfeita, é entretenimento garantido e marca ótimos pontos no currículo de Bryan.

Primeiro, é bom deixar claro que comparações com Scott Pilgrim não existirão nessa análise visto que ainda não li a obra. Segundo, vamos ao nome do livro e sua sinopse. Katie possui uma vida normal, comanda um bem sucedido restaurante e planeja construir um novo. No entanto, assim como a vida de todos, em determinado momento tudo parece estar indo por água abaixo. Seja o novo restaurante que parece caminhar a passos de tartaruga e que precisa de bastante dinheiro, sejam problemas de relacionamentos ou acidentes com empregados. Katie descobre uma forma de mudar isso: após a aparição de uma estranha garota, encontra em seu guarda-roupa uma caixa com cogumelos, um caderno e as seguintes instruções: 1-Escreva seu erro, 2-Coma um cogumelo, 3-Durma, 4-Acorde renovada. Dessa maneira, Katie recebe uma segunda chance, uma possibilidade de corrigir o passado.

O nome pode parecer estranho de primeira, mas com um pouco de leitura Bryan já faz questão de mostrar as razões. Seconds: segundas chances, segundo restaurante de Katie, segundos (tempo), o nome do restaurante (cenário de quase toda história) e, claro, seconds é como se fala em inglês que alguém está comendo o segundo prato, o “repetir” em português. Seconds parece uma clássica história de causa e efeito, uma espécie de viagem no tempo nos moldes de Efeito Borboleta. Cada momento que Katie corrige algo, a princípio tudo parece bem, mas não é preciso muito tempo para que tudo fique pior do que antes e ela queira mudar de novo. Isso vira uma bola de neve onde tenta corrigir todo dia de sua vida. Não é difícil adivinhar que no final vem a clássica lição de moral típica desse tipo de obra.

O acerto do autor reside na forma inédita e divertida que é contada, tendo como cenário o restaurante Seconds, além de um fundo muito inspirado em fábulas. Bryan quebra as situações mais dramáticas com boas doses de humor, além de cobrir clichês com piadas. É interessante como se trata de uma história fantasiosa que pega elementos da vida de todos – como problemas de trabalho e relacionamento – tratando todos muito bem. Certos momentos realmente pegam a atenção do leitor e torna impossível largar a história, principalmente perto do fim. Não há o que reclamar da arte de Bryan. Pega as melhores características dos quadrinhos nipônicos e mistura com o ocidental, fazendo uma arte que aparenta ser infantil, mas que na temática não tem nada disso. Grande ponto também para a excelente paleta de cores avermelhada, usada nas revisões do passado, além de outras cores bastante vivas.

Os erros de Seconds estão em seu roteiro com alguns momentos menos inspirados, além de certos clichês. Existem trechos de total desconhecimento do que está acontecendo e a explicação para isso só vem no fim, no estilo de certos filmes Hollywoodianos. Não dá pra reclamar desse aspecto, mas a verdade é que, por isso, a total admiração de Seconds talvez só venha em sua segunda lida (ironia?). Há também a inserção de muitos personagens, alguns bem importantes e alguns com participações um pouco decepcionantes, visto que quando são apresentados cria-se  expectativa de maior participação por parte deles. Apesar de pegar elementos já usados, Seconds conta uma história nova e muito bem feita. Bryan Lee O’Malley, após o sucesso de Scott Pilgrim, cria Katie talvez para trazer a simpatia do público feminino, ainda que o livro seja para todos os leitores. A arte e a história envolvente são pontos que podem garantir a Seconds não só uma excelente leitura, mas também uma grande adição ao currículo do autor.

Seconds (EUA – 2014)
Roteiro: Bryan Lee O’Malley
Arte: Bryan Lee O’Malley, Jason Fisher (desenhista assistente)
Cores: Nathan Fairbairn
Letras: Dustin Harbin
Editora: Ballantine Books (EUA)

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