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Crítica | “Selva Mundo” – Vivendo do Ócio

por Handerson Ornelas
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Sou um admirador do trabalho do Vivendo do Ócio desde o longínquo 2008, quando venceram o concurso televisivo de bandas independentes, GAS Sound. A banda mostrou pra muita gente ignorante que Salvador não produz somente Axé, mas sim, muito rock n’ roll de grande nível. O grupo chamava atenção pelo rock garageiro, regional, melódico e bastante divertido, o que fez a banda ganhar uma grande quantidade de fãs. Mas escutar seu novo disco, Selva Mundo, mesmo sabendo do talento já mostrado pelo grupo, é surpreendente. Se trata do disco mais maduro do Vivendo do Ócio, o melhor produzido e repleto de canções espetaculares do início ao fim.

É bastante nítido. Logo ao soar fantástico das guitarras de A Espera e Prisioneiro do Futuro, no vocal bem claro, na bateria e baixo extremamente bem encaixados, não há dúvidas, se trata do disco de melhor produção da banda (e uma das melhores produções nacionais do ano). Tudo isso vindo do primeiro álbum independente do grupo, financiado por fãs através do Kickstarter e que ultrapassou a meta estipulada de R$ 53.155,20, gerando R$ 61.225,00. Devidos méritos e parabéns também devem ser dados aos produtores Fernando Sanches e, claro, Curumim, que pra quem não conhece se trata de um dos maiores artistas da nova música brasileira.

O admirável novo trabalho sabe inserir uma imensa quantidade de gêneros e influências e, ainda assim, soar a mais pura essência rockeira. Sabe ser regional, cheio das veias nordestinas, sabe homenagear Salvador (Porrada, Beira do Mar, Salva!), sabe ter seus momentos de peso (Prisioneiro do Futuro e, principalmente, A Lista com sua guitarra onipresente e os espetaculares riffs ao refrão), sabe ser pop, usar fantásticos arranjos vocais, excelentes execuções instrumentais, além de seguir com a sonoridade rockeira bem melódica que garantiu tantos fãs (PrismaNão Te Digo Nada). Felizes aqueles que conseguirem ver influências de Novos Baianos na riqueza lírica e dançante dos refrões de Amor em Construção, que claro, contou com a presença ilustre de Pepeu Gomes pra reforçar minha afirmação. E com certeza não poderia deixar de ressaltar o rumo fortemente experimental e psicodélico, que certamente lembra Tom Zé, onde a banda tenta seguir na derradeira Batalha do Sono, com uma surpreendente performance do baterista Dieguito Reis nos vocais.

Interessante ver, também, a evolução das letras da banda, mais maduras e de métrica indiscutivelmente melhor. Isso se aplica desde a mensagem consciente na belíssima e pacífica Carranca, com participação de Thadeu Meneghini do Vespas Mandarinas (A gente tem que viver/ Sorrindo quando é pra chorar/ Pra fazer a morte tremer/ De medo quando vir nos buscar) até a excelente Porrada, crítica extremamente propícia ao período, diretamente às diversas formas de poder e problemas da atual sociedade brasileira, tudo em forma de um repente bastante rock n’ roll e regional (Meninos passando fome nas esquinas da cidade/ Garotas vendendo o corpo pra comprar felicidade/ Político roubando o sonho, revelando falsidade).

Selva Mundo faz jus ao nome, expande uma rede enorme de influências – de Ramones e Arctic Monkeys a Luiz Gonzaga e Castanha & Caju – e consolida o Vivendo do Ócio entre as melhores bandas do cenário nacional. Se trata de uma excelente evolução de uma banda que já entregava ótimos trabalhos. É um “must listen” da música brasileira em 2015. Não perca tempo em repetir o play quantas vezes puder.

Você pode conferir o disco na íntegra pelo play a seguir. Aproveite:

Aumenta!: Prisioneiro do Futuro
Diminui!:
Minha canção preferida: Porrada

Selva Mundo
Artista: Vivendo do Ócio
País: Brasil
Gravadora: Independente
Lançamento: 9 de setembro de 2015
Estilo: Rock Alternativo

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