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Crítica | Sin City: A Dama Fatal

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Após nove anos de espera, Robert Rodriguez e Frank Miller retornam para a sequência de Sin City, nos trazendo uma obra nos mesmos moldes da original. É o neo-noir, a violência e os queridos personagens Marv, Dwight e Nancy de volta, desta vez em uma adaptação de duas das histórias dos quadrinhos: A Dama Fatal e Just Another Saturday Night. Diferente do primeiro filme, contudo, vemos mais dois contos originais criados para o longa-metragem.

A projeção nos joga direto na ação em seu trecho inicial. Vemos Marv, encarnado perfeitamente por Mickey Rourke, acordando no meio da estrada perto de dois carros batidos – um de polícia e outro civil. Ele não se lembra de absolutamente nada e o que vemos nos instantes seguintes é sua reconstrução mental do ocorrido, uma narrativa repleta das sutilezas que esperamos de Marv. Rodriguez repete nesta introdução que fez em 2005 com O Cliente tem Sempre Razão, nos dando um gosto do que está por vir, nos mergulhando já no universo de Sin City. Trata-se de uma sequência simples, divertida, que não pede muito do espectador. Alguns detalhes em CGI não agradam, mais especificamente a reconstrução da perseguição de carros, mas isso não chega a atrapalhar a história recém iniciada.

Rodriguez, então, comete o grande erro que assola toda esta continuação. Ao invés de nos apresentar a trama de A Dama Fatal, nos leva para um dos contos originais do filme – protagonizado por Joseph Gordon-Levitt. Não que a trama não seja tão envolvente quanto as outras, muito pelo contrário. O grande problema somente perceberíamos no decorrer da projeção. Este é sua montagem. Robert e Frank Miller falharam na forma como intercalam as diferentes histórias presentes no filme e criam um evidente problema de ritmo, colocando o clímax praticamente na metade da obra. O principal arco narrativo, que dá nome ao filme, é resolvido rapidamente, quando poderia ter sido fragmentado e intercalado pelas outras histórias. O resultado final soa como uma grande coletânea que não segue, necessariamente, uma linha de raciocínio.

Esse fator acaba tirando totalmente a força dos dois trechos finais do longa, que mais soam como um epílogo anticlimático. Para piorar, o desfecho da história protagonizada por Levitt deixa a desejar, fazendo-nos perguntar o porquê de Miller simplesmente não utilizar o material original, ao invés de criar este novo arco que inicia bem, mas peca pela repetição em seu encerramento. A estrutura do filme também prejudica o dramático ponto de vista de Nancy (Jessica Alba), que dialoga diretamente com Sin City e, inclusive, nos traz de volta, para uma ponta, o querido personagem Hartigan (Bruce Willis).

Esse grande deslize, porém, não consegue nos distanciar dos acertos do filme em sua narrativa principal. Josh Brolin, completamente imerso em seu personagem, nos traz um Dwight mais jovem do que o homem que vimos no primeiro filme (vivido por Clive Owen). É uma figura perturbada, que deseja conter o monstro dentro de si. Esse esforço, contudo, é dificultado ainda mais com a aparição de Ava (Eva Green), a grande paixão de seu passado, uma mulher sedutora que alega estar nas mãos de um marido cruel, que a tortura por esporte. Esta é, sem dúvidas, a trama mais envolvente da obra e consegue nos manter imersos sem o menor problema – Eva Green, como sempre, está hipnotizante no papel e consegue nos fazer entender perfeitamente o porquê de tantos homens caírem sob seu feitiço.

Neste ponto irei liberar alguns spoilers para quem não leu os quadrinhos originais, portanto se você não deseja ter nenhum aspecto da trama revelada, pule para o último parágrafo.

A natureza de Ava é construída lentamente pela obra e vai se revelando nefasta com o passar dos minutos. O uso controlado da cor, mais discreto que o primeiro filme (afinal não temos um Assassino Amarelo), então, se faz presente nos olhos da sedutora. O preto e branco se torna verde, refletindo perfeitamente a natureza cruel da Dama Fatal. Esse poder da donzela sobre os outros é interessantemente trabalhada como um poder, fator ampliado pelos planos em que a vemos retratada como uma deusa envolta de toda uma atmosfera mística. O próprio Manute (Dennis Haysbert) se refere a ele como tal.

Sin City: A Dama Fatal, portanto, nos traz tudo o que adoramos no primeiro filme: diálogos divertidos, repletos de frases de efeito, que certamente trarão risadas do espectador; o neo-noir misturado à violência gráfica e, é claro, Mickey Rourke como Marv. Este conta com uma participação menor na obra, mais como coadjuvante, mas sempre rouba as cenas com sua crua brutalidade. Com o trabalho de Eva Green, temos, então, um elenco que não deixa nem um pouco a desejar. Infelizmente não é só de acertos que a obra é composta e o grande problema da montagem acaba quebrando o ritmo da narrativa. Ainda assim não podemos deixar de ficarmos curiosos para o que encontraremos ao virar uma esquina em Sin City.

Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For – EUA, 2014)
Direção:
 Frank Miller, Robert Rodriguez
Roteiro: Frank Miller
Elenco:  Mickey Rourke, Jessica Alba, Josh Brolin, Joseph Gordon-Levitt, Rosario Dawson, Bruce Willis, Eva Green, Powers Boothe, Dennis Haysbert, Ray Liotta, Christopher Meloni, Jeremy Piven, Christopher Lloyd, Jaime King, Juno Temple.
Duração: 102 min.

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