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Crítica | Sing: Quem Canta Seus Males Espanta

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Antes de entrar na análise propriamente dita de Sing, preciso fazer um desabafo: esse subtítulo colocado aqui no Brasil é simplesmente tenebroso e, apesar de fazer certo sentido dentro do filme, não corresponde nem um pouco com a qualidade dele. Pois bem, passada essa necessidade de mostrar o quão nefasto é essa necessidade de colocar algo em português no título de qualquer produção cinematográfica, falemos da obra em si. Dirigido por Christophe Lourdelet e Garth Jennings, este segundo que também assina o roteiro, Sing, como o nome já sugere, é uma animação musical, que mistura elementos de reality shows competitivos, como The Voice ou American Idol com uma grandiosa homenagem à música como um todo.

A trama gira em torno de Buster Moon (voz de Matthew McConaughey), um koala que, apaixonado pelo teatro desde cedo, acaba adquirindo seu próprio, um presente de seu falecido pai, que trabalhara por anos a fim de garantir o sonho do filho. Somente o amor por essa arte, contudo, não é o suficiente para salvar essa empreitada de Moon e, após repetidos fracassos de bilheteria, o produtor beira a falência. É nesse momento que decide realizar um concurso de música, uma última esperança para salvar seu sonho e de elevar alguns talentos desconhecidos ao estrelato. Mal sabia ele, contudo, que seus problemas estavam somente começando.

O que mais nos chama a atenção em Sing, definitivamente é a forma como dosa seus diferentes focos a fim de nos aproximar de cada um de seus personagens – de Ash (Scarlett Johansson), a porco espinho com problemas em relação a seu namorado, até Mike (Seth MacFarlane), um ratinho cheio de atitude, evidentemente inspirado em Frank Sinatra, todos ganham seus respectivos arcos e não demora muito para que nos identifiquemos com cada um deles. De fato, a extensa lista de personagens do musical representam diferentes problemas que enfrentamos em nosso dia a dia e o roteiro de Jennings é preciso ao abordar cada um desses pontos de forma que nenhum deles soe subexplorado.

Mais que isso, porém, os indivíduos que acompanhamos na animação trazem consigo diferentes estilos musicais – do jazz ao pop, passando pelo rock, ouvimos diferentes melodias que são capazes de atrair a qualquer tipo de espectador, independente de seu gosto pessoal. Sabiamente, o texto demonstra um forte respeito a cada um desses gêneros, descartando até o velho preconceito do rockeiro em relação à música pop. Ao utilizar uma mistura de composições originais, com outras pre-existentes, a obra apela diretamente à audiência e logo nos pegamos envolvidos pelo que se passa a tela, esteja acompanhado por canções como Firework ou My Way.

Mais do que um ode a música como um todo, Sing é um longa-metragem sobre a busca de nossos sonhos, incentivando todos a seguirem aquilo que realmente querem de suas vidas, independente da dificuldade. Através dos inúmeros personagens que acompanhamos, cada um com uma vida que nada tem a ver com a arte, vemos como é preciso aquele salto em direção ao desconhecido, aquela ousadia que vem de uma hora para outra, nos possibilitando a alcançar o que realmente queremos de nossas vidas. Isso acaba se perdendo um pouco em virtude da previsibilidade do texto, que atrapalha, mas não o suficiente para perder nossa imersão.

Naturalmente, o espectador mais cinéfilo irá pegar, também, a forte homenagem aos musicais americanos de outrora e da era de ouro do cinema como um todo. A referência explícita à Crepúsculo dos Deuses não há como não ser notada. Isso acaba criando um diálogo com os filmes que vemos na atualidade, uma explosão de blockbusters, a maior parte deles, sem a menor profundidade, entretenimento sem conteúdo, que, no fim, não acrescenta em nada. De certa forma, a falência de Moon muito bem representa essa supremacia da superficialidade, de obras que não apelam para nossas sensações, nosso olhar artístico, apenas para nossos olhos, tornando o espectador alguém que simplesmente olha, mas não observa.

Com um elenco de dublagem formado por nomes como Matthew McConaughey, Reese WitherspoonJohn C. Reilly, a obra definitivamente consegue passar tudo que almeja pelo excelente trabalho dessa equipe como um todo. McConaughey em específico rouba as cenas ao lado de Seth MacFarlane. O primeiro nos entrega a perfeita visão do produtor que realmente ama o que faz, que enxerga a arte por trás de tudo aquilo. MacFarlane, por sua vez, nos traz uma representação hilária de Sinatra, fazendo soar como se o próprio músico estivesse ali emprestando sua voz a Mike.

Sing, cujo subtítulo não irei escrever aqui, é, portanto, um grande acerto no gênero da animação, que certamente mereceu suas indicações ao Globo de Ouro. Com ótimas dublagens e uma seleção de músicas que certamente representará a qualquer um, independente do gosto musical, temos aqui um filme que, apesar de sua evidente previsibilidade, definitivamente irá atingir a todos aqueles que enxergam a arte como algo essencial para o homem e mesmo aqueles que somente esperam se divertir nos cinemas: esperem uma bela surpresa – não há como não se entregar para esse longa-metragem.

Sing: Quem Canta Seus Males Espanta (Sing) — EUA, 2016
Direção:
 Christophe Lourdelet, Garth Jennings
Roteiro: Garth Jennings
Elenco: Matthew McConaughey, Reese Witherspoon, Seth MacFarlane,  Scarlett Johansson, John C. Reilly,  Taron Egerton, Tori Kelly, Jennifer Saunders
Duração: 108 min.

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