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Crítica | Sol Alegria

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Sol Alegria é, essencialmente, um filme libertário sobre a iminente opressão que o povo sofre. Sobre uma família que está sempre em movimento, buscando a liberdade que nos é prometida, mas apenas pra esconder o totalitarismo que os envolve. O Brasil é um país que parou no tempo, e o desejo e tesão que corre nas veias de Sol Alegria é a suposta tinta da caneta que assinará nossa carta de alforria.

Filme de resistência, a escolha de Tavinho Teixeira, diretor e protagonista, é a de filmar o último respiro de luz na escuridão. Parte da abordagem anárquica cujo muito interessa práticas subversivas que, na distopia brasileira de 2018, apresentam-se como solução e persistência de mudança. Incesto, uso de drogas, profanação de figuras sagradas. Um Road Movie porque deve-se ir pra frente pra não ser puxado para trás. Do mesmo modo que traduz a situação que vivemos, esse sentimento de despertencimento dentro do próprio país revigora os ideais cinematográficos marginais, remetendo em algumas passagens claramente o cinema de Sganzerla ou Bressane, que passavam suas teses, literalmente, no grito.

Se o país tá careta demais, precisamos de cineastas que não se acanhem em filmar nudez ou uso de drogas, que não tentem acobertar algo tão vivo em nossa cultura dilatando mais e mais nossa crise moral. Se os pastores de Sol Alegria afirmam que a libertinagem vai trazer o apocalipse, que seja de forma mais gostosa e prazerosa, abraçando os prazeres e o espetáculo ao invés de esperar o fim sozinho e com medo. Nosso cinema passa por um momento de limpeza estética, onde planos são parados, cores são frias e cineastas tem medo de filmar assuntos tabu, mesmo que sejam tema de seus filmes (dá para contar nos dedos os filmes recentes sobre sexo que não tem nem ao menos uma cena de nudez). Por outro lado, Sol Alegria tem energia, a câmera não para, é um monumento de libertação onde sodomia e escatologia são as armas principais contra os conservadores que lustram suas armas e rezam seus terços.

No final da estrada que a família do filme percorre, eles se dão conta de que o caminho acabou, e só resta dar uma ré. Conforma-se com o mundo que se vive, é o fim da linha. Por trás de toda a espontaneidade que o filme carrega, há a mensagem oculta da dominação e da intolerância que abraça o país e, aí sim, nos leva ao fim do mundo. Contra o conservadorismo radical, Tavinho Teixeira respondeu com subversão e devassidão, um ultimato que é espontâneo, mas ainda sim trágico. Uma reza dedicada ao fim do mundo, mas uma reza sem perder o ânimo, um espetáculo visual e infinito enquanto nos é permitido.

Sol Alegria (Brasil – 2018)
Direção: Tavinho Teixeira
Roteiro: Tavinho Teixeira
Elenco: Mariah Teixeira, Jonas Medeiros, Mauro Soares, Tavinho Teixeira, Everaldo Pontes, Ney Matogrosso, Vera Valdez, Leonardo Mouramateus, Marcelo Caetano, Toreba Sagi
Duração: 90 min

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