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Crítica | Sonata Para Hitler

por Luiz Santiago
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Em um curta metragem de dez minutos, o cineasta e historiador Aleksandr Sokúrov discursa com imagens de Hitler e momentos da Segunda Guerra Mundial ao som de Bach e Penderecki. Sonata Para Hitler é um filme de 1979, realizado com material soviético sobre a Segunda Guerra destinado à destruição. O curta passou uma década proibido na URSS, sendo lançado oficialmente apenas em 1989. O filme trabalha com a oposição dialética de imagens de crianças, multidões, de cidades destruídas e pequenos filmes de Hitler discursando para trabalhadores de fábricas, em comícios ou em sua vida cotidiana.

O filme passa bem longe de uma obra-prima de Sokúrov, mas tem o seu valor como material histórico e como passo inicial para uma discussão sobre o tema. Aqui, o cineasta trabalhava pela primeira vez com a figura do ditador alemão e já vemos a indicação de uma “abordagem de bastidores” que o cineasta tomaria como foco central em Moloch (1999).

Um certo caráter ficcional perfila o documentário e, mesmo quando olhamos para esses registros de época, eles aparecem insossos demais para serem “reais”, de modo que tomamos aquilo como ficção mal feita, o que faz diminuir bastante a nossa simpatia para com o filme. Acrescenta-se aí a estranheza causada pelo estilo hipermidiático tão caro ao diretor e a sua caótica edição de som, que num sentido dramático condiz com o filme, mas por outro lado, incomoda o espectador. De qualquer modo, trata-se de uma película histórica sobre um dos grandes inimigos da URSS. É muitíssimo estranho o filme ter sido proibido por dez anos no país; talvez porque a figura social e política ali tratadas se assemelhassem muito à figura de Leonid Brejnev e da União Soviética à época.

A História ganha ares de “estória” em Sonata para Hitler. Através de diversas exposições ideológicas e pequenas metáforas visuais, Sokúrov nos apresenta quase didaticamente os efeitos causados pelo comportamento de um homem e de um povo. Ao mesmo tempo vemos o lado humano, frágil e pessoal de cada um desses atores históricos, reafirmando sua abordagem humanista no cinema. A intenção do curta é nos fazer pensar que nem só de poder, aço, sangue e força é feita uma guerra, formada uma ideologia e construído um país. Por mais contraditórias e abjetas que sejam as personalidades governamentais, elas possuem as fraquezas de sua espécie.

Sonata Para Hitler (Sonata Dlya Glitera, URSS, 1979 – 1989)
Direção: Aleksandr Sokúrov
Roteiro: Aleksandr Sokúrov
Duração: 10 min.

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