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Crítica | Sorrisos de Uma Noite de Amor

por Luiz Santiago
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Mesmo tendo começado no cinema em 1946, com os filmes Crise e Chove Sobre Nosso Amor, Ingmar Bergman só conseguiu reconhecimento internacional de sua obra quase uma década depois, com Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955), filme cujo roteiro foi  livremente inspirado em Sonho de Uma Noite de Verão, de William Shakespeare.

A obra de Bergman já era bastante apreciada na Suécia, tendo ele conseguido o primeiro sucesso comercial em seu país no 4º filme que dirigiu, Música na Noite, mas, antes de Sorrisos de Uma Noite de Amor, nunca houvera uma atenção internacional no conjunto de crítica-e-público massivos para seus filmes, mesmo no caso de obras notáveis e muito bem recebidas na Europa, como Noites de Circo e Uma Lição de Amor.

Em todas as entrevistas que deu sobre Sorrisos, Bergman não escondeu o carinho que tinha pela obra, já que foi a partir dela que a Svensk lhe deu liberdade total para filmar o que quisesse e como quisesse, prova clara disso é que o filme seguinte a este foi O Sétimo Selo, seguido de Morangos Silvestres, duas obras-primas do cineasta que são resultado da liberdade obtida do estúdio e que serviu para que ele se libertasse de certas amarras criativas ao escrever os roteiros, apostando em histórias mais complexas e de maior apelo financeiro para produção.

Flertando com as confusões amorosas trabalhadas por Shakespeare em Sonho de uma Noite de Verão, Bergman escreveu um roteiro de uma comédia romântica permeada por uma entrelinha séria, que questiona o amor em suas diferentes fases da vida. A princípio, o diretor não queria fazer nada parecido com isso, mas após o fracasso comercial de Sonhos de Mulheres, seu filme anterior, ele devia ao estúdio um sucesso de bilheteria caso quisesse continuar no emprego. Foi também durante a produção de Sorrisos que o cineasta apresentou ao Produtor Executivo da Svensk o roteiro de O Sétimo Selo, que foi prontamente rejeitado e só recebeu carta branca para produção depois que Sorrisos recebeu um prêmio do júri no Festival de Cannes e Bergman foi nomeado à Palma de Ouro.

É importante dizer que a história de Sorrisos de Uma Noite de Amor não é uma adaptação de Sonho de Uma Noite de Verão mas uma aproximação dramática, por assim dizer. O roteiro é original porque, ainda que se sirva da dinâmica de encontros e desencontros do Bardo, acrescenta ingredientes que desfazem a versão teatral e assume a sua própria identidade, tornando-se uma comédia romântica quase independente onde temos a volta do tema do verão à obra de do diretor, trabalhado conceitualmente em Mônica e o Desejo, e um olhar bastante especial para temas como a fidelidade, o casamento, a convivência social, a arte e a religião. Tudo converge para uma resolução bela e aconchegante, onde mesmo os infelizes na maior parte do filme encontram alento na companhia de alguém ao seu lado, um consolo que nos dá a aparência de um final feliz, mas a conquista amargurada e a excelente construção das personagens pelo elenco deixam muitos pontos de interrogação pairando no ar.

Com Gunnar Fischer, um dos melhores diretores de fotografia da Suécia, ao lado de Sven Nykvist, Bergman recriou um ambiente incrível de início do século XX e ainda adicionou uma forte visão simbólica para as cenas, vestido as mulheres de roupas claras a maior parte do tempo e os homens de roupas escuras, levando esse contraste em quase toda a produção, com pontuais exceções. Os ambientes seguem uma linha mais ou menos parecida, mas é inegável que Fischer e Bergman quiseram fixar a máxima aparência do verão, apostando em quadros e ambiente muito claros.

A discussão sobre o amor, a comédia deliciosa e um roteiro inteligente fazem de Sorrisos de Uma Noite de Amor um filme gracioso, leve e sério ao mesmo tempo. Assistindo-o, é impossível dizer que sua produção foi precária, estressante e que todos estavam à beira de um ataque de nervos. O resultado final, porém, é uma crônica difícil de ser esquecida e que seria usada para a brincadeira shakespeariana/bergmaniana de Woody Allen em 1982, com o seu Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão.

Sorrisos de uma Noite de Amor (Sommarnattens Leende) – Suécia, 1955
Direção: Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman
Elenco: Ulla Jacobsson, Eva Dahlbeck, Harriet Andersson, Margit Carlqvist, Gunnar Björnstrand, Jarl Kulle, Åke Fridell, Björn Bjelfvenstam, Naima Wifstrand, Jullan Kindahl, Bibi Andersson
Duração: 110 min.

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