Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Star Trek/Doctor Who: Assimilation² – Vols. 1 e 2

Crítica | Star Trek/Doctor Who: Assimilation² – Vols. 1 e 2

por Ritter Fan
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Equipe: 11º Doutor, Amy, Rory / Equipe da USS Enterprise / 4º Doutor
Espaço-tempo: Federação de planetas Delta IV — Universo Paralelo –, 2368 / Egito Antigo, tempo indeterminado e São Francisco c.1945 (segmentos do 11º Doutor) / Planeta Naia VII, 2368 / Planeta Aprilia III, data estelar 3368.5 (segmento do 4º Doutor).

Faz o maior sentido do mundo juntar as duas maiores, mais antigas e melhores franquias de ficção científica, não é mesmo? Doctor Who e Star Trek foram feitos um para o outro e, como em filme isso seria impossível – ou próximo disso – a solução foi mesmo usar os quadrinhos para tornar o crossover uma realidade. E, dentre todas as editoras, talvez a IDW, conhecida por fazer reuniões inusitadas, fosse mesmo a melhor.

O resultado? Bem, o resultado é, digamos, interessante. Mas poderia ter sido bem melhor.

Uma coisa porém, é certa: como autores de longa data de vasto material de quadrinhos do universo de Star Trek, Scott e David Tipton parecem ser muito fãs de Doctor Who. Lendo os volumes aqui discutidos, fica clara a reverência dos Tiptons ao cinquentenário Doutor, já que eles deixam as mais importantes passagens e literalmente toda a ação e salvação nas mãos do 11º Doutor, permitindo muito pouco espaço para Jean-Luc Picard e sua tripulação. Não sei se os fãs de Star Trek gostarão muito disso, mas convenhamos: não tem ninguém mais cool que o Doutor!

E como reunir os universos? Bem, a maneira óbvia seria simplesmente considerar que o universo de Star Trek nada mais é do que o mesmo que o de Doctor Who, mas não é isso que os Tiptons fazem e ainda bem, pois, na mitologia das duas séries, isso não faria sentido algum. Assim, eles criam uma navegação transdimensional do Doutor e os Ponds para a São Francisco dos anos 40 do holodeck da Enterprise. Que lugar melhor para a TARDIS chegar do em que em outro lugar que é maior por dentro do que por fora, não é mesmo?

Além disso, os autores se utilizam de forma muito eficiente de um inimigo de cada franquia que se parecem demais entre si para criar a razão da união de Picard com o Doutor: os Borgs de um lado e os Cybermen de outro. Na verdade, os Borgs e Cybermen se unem com o objetivo de dominar a humanidade, mas os Cybermen são ainda mais ambiciosos e passam a dominar os Borgs. Não deixa de ser uma escolha interessante, mas, em meu ponto de vista, menos interessante do que o contrário poderia ter sido. Afinal, dentro da narrativa de Star Trek, os Borgs são muito mais perniciosos e mortais do que os Cybermen são dentro da narrativa de Doctor Who. Meu ponto é que a ameaça dos Cybermen parece menos séria do que uma ameaça dos Borgs. Basta, para isso, ver a dificuldade que Picard têm para derrotar a Coletividade Borg e a facilidade do Doutor em passar a perna em seus andróides.

Mas, paciência. Não se pode ter tudo não é mesmo? Apesar desse problema, a facilidade com que os Tiptons fazem as duas franquias se cruzarem é impressionante. Em determinado momento, bem no começo da história, vemos o 4º Doutor lidando também com as versões primitivas dos Cybermen junto com o Capitão Kirk, Spock, Magro e Scottie em uma memória suprimida do 11º Doutor. Da mesma maneira, há o uso claro e constante da assimilação de Picard pelos Borgs no episódio duplo da série – The Best of Both Worlds, de 1990 – com o Doutor viajando no tempo para recuperar o “HD” da Coletividade Borg. E isso sem contar com as diversas comparações que Amy Pond faz entre a TARDIS e a Enterprise, para desespero do Doutor.

Isso tudo torna os dois volumes muito interessante para os fãs das duas séries, mas hermético demais para quem vem de fora. E há outra questão ainda. Os Tiptons fazem de tudo para tornar a minissérie palatável para quem vem de fora explicando demais o que acontece, quem é quem e tudo mais. É muito diálogo expositivo e muito pouca ação ao longo dos oito números que formam os dois volumes (no total). Sim, há muitos diálogos familiares das duas séries, mas eles são, em última análise, desnecessários na maioria das vezes e, quando a ação começa, ela é rápida, com pouco senso de urgência e simplista demais, com uma resolução frágil. A única exceção é o finalzinho – o último quadro, na verdade – que faz uma esperta e ligeira ligação com o ótimo filme Star Trek: Primeiro Contato, de 1996.

A arte,  de J.K. Woodward, não me impressionou. Ela é pintada e não desenhada, mas o resultado é que os personagens carecem de expressão e os quadros – especialmente os de ação – carecem de fluidez e sensação de movimento. Woodward bem que se esforça, mas o resultado é apenas mais ou menos. É claro que, com a quantidade de diálogos escrita pelos Tiptons, Woodward não teve muitas oportunidades para pintar ação. Vale notar que o trecho do 4º Doutor com a “velha geração” de Star Trek é desenhado em outro estilo, bem diferente, mas igualmente sem movimento. Uma pena.

O crossover de Star Trek e Doctor Who demorou 50 anos para acontecer e, apesar da diversão que proporciona aos fãs, está aquém da qualidade das duas séries. Bem que a IDW poderia tentar novamente!

Star Trek: The Next Generation/Doctor Who: Assimilation² – Vols. 1 e 2 (EUA)
Roteiro: Scott Tipton, David Tipton, Tony Lee (só no primeiro volume)
Arte: J.K. Woodward (toda a série), The Sharp Bros. (#3) e Gordon Purcell (#4)
Editora nos EUA: IDW Publishing (maio a dezembro de 2012)
Editora no Brasil: ainda não publicado
Páginas: 102 (Vol. 1), 104 (Vol. 2)

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