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Crítica | Star Wars: Bloodline, de Claudia Gray

por Pedro Cunha
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Espaço: Base da Nova República Chandrila, Pamarthe Bastatha, Sinensko, Alderaan.
Tempo: Nova República, seis anos antes dos acontecimentos de O Despertar da Força.

Bloodline já nasceu grande, antes mesmo do livro ser lançado, ele prometia revelar acontecimentos importantes sobre o novo cânone de Star Wars. Outro fator que também contribuía para a expectativa elevada para o romance, era a sua escritora. Depois do excelente Estrelas Perdidas, todos esperavam uma nova história narrada pela mulher e que personagem era melhor que Leia Organa para protagonizar essa aventura? O último, mas não menos importante, fator para a euforia do público é que o livro foi o primeiro a ser lançado depois da estreia de O Despertar da Força. Mas será que Bloodline mereceu tanto louvor e exaltação?

O executivo de criação Da Lucasfilm, Pablo Hidalgo comentou em seu Twitter que Bloodline é o House Of Cards da galáxia muito, muito distante. Essa, com certeza, é a melhor definição que a nova obra de Gray pode ter. Somos apresentados a uma política galáctica muito desorganizada. Na ausência, não explicada, de Mon Mothma o senado galáctico se vê rompido. A eterna discussão entre os senadores populistas e centrais enfraquece cada vez mais a força da democracia.

Os populistas acreditam que cada planeta deve ter um sistema individual, liderados pela ex-princesa, os senadores do movimento lutam contra a centralização do poder. O discurso tido por eles é que se uma figura ou planeta assume todo o controle da galáxia fica muito fácil presenciarmos uma transformação da democracia em ditadura. É claro durante o livro que esse é o lado bom desse conflito, algo que não era necessário ser mostrado. Já que o objetivo aqui é termos um debate político, por que não colocar o leitor na mesma dúvida que os personagens?

Dentre os populistas, ou melhor, o grupo de Leia, temos Korr Sella, um leal assistente da governadora. Joph Seastriker um piloto de X-wing, que, futuramente, irá trabalhar para Organa, além do dróide de relações humanas mais amado de toda a galáxia C-3PO.

O movimento central acredita em algo totalmente diferente dos populistas, eles acham que a melhor forma de governar a galáxia é colocando todo o poder nas mãos de um grupo de pessoas, que estariam localizadas em um determinado planeta. Com toda a certeza, a visão desse grupo é muito parecida com o que víamos no Império. Desde a primeira página do livro, Claudia faz questão de mostrar que esses são os antagonistas da história.

Nos centrais, a pessoa que mais se destaca, e acaba se transformando em um dos personagens mais interessantes de toda a trama, é Ransolm Casterfo. Nativo do planeta Riosa, ele é um colecionador de artefatos do antigo Império Galáctico. O que mais intriga em sua personalidade é como a opinião política dele se difere da de Leia. No meio da narrativa vemos que ambos terão de trabalhar juntos em uma missão. Com a convivência, o senador ganha o respeito não só da líder, mas também do leitor. Com certeza o arco de Casterfo é um dos mais bem trabalhados por Claudia.

Por mais que a comparação com a incrível série da Netflix seja válida, o livro não caminha apenas sobre campos da política. Principalmente no segundo ato, vemos momentos de muita ação na narrativa, mas, infelizmente, essa é a pior parte de toda a trama. A escolha de Gray em explorar outros campos sem ser o foco do livro, faz com que a trama se destoe um pouco, perdendo seu verdadeiro objetivo. Ter ação em um livro pautado no diálogo é algo muito interessante, porém todo esse movimento deve ser inserido com muita sabedoria na linha da história.

É claro que o romance não se baseia apenas nesses personagens, já que estamos seis anos antes dos acontecimentos do Episódio VII somos honrados pela aparição de Han Solo, Ben Solo, Luke e até mesmo Bail Organa é um elemento do passado muito mencionado na trama. Han não vê sua esposa há muito tempo, ele trabalha como um técnico para um time de corrida de naves. Já Ben, com vinte e três anos, ainda não é Kylo Ren. Ele está com seu tio aprendendo os caminhos da força, e sua comunicação com a mãe e pai é muito complicada.

Subtramas à parte, todos compraram esse livro por causa do que era prometido em sua história. Em partes essa expectativa é saciada, talvez a maior revelação que o livro trás, não se trata de algo novo para os fãs, mas sim para os personagens. Claudia narra a descoberta da paternidade de Vader para com Leia. Isso era um fato desconhecido por toda a galáxia e, por consequência Ben Solo, essa notícia abala todos os pilares da senadora, porém, nós não temos a oportunidade de ver como o futuro Ren reagiu a isso tudo.

Mas com certeza sabe-se que isso é um fator determinante para a transformação do personagem. Deve ser muito atormentador saber que uma das figuras mais temidas e ameaçadoras de toda a galaxia, um lorde supremo dos Sith, é seu avô e que, todos da sua família, que você aparentemente confiava, sabiam, mas esconderam isso por medo de sua reação.

Não demora muito para Leia perder a sua força política. Com uma estratégia adversária muito bem plantada, a senadora se vê sem nenhuma carta na manga contra o forte argumento de que Vader é seu pai. Como a líder nunca se viu como uma usuária da Força, ela acaba se voltando para aquilo que ela mais sabe fazer. Sai do senado e cria um novo movimento, já que uma nova ameaça está surgindo, Organa assume o papel que foi de seu pai anos atrás e cria a Resistência.

Outra novidade determinante que também nos é apresentado na trama são os fatores determinantes para o surgimento da Primeira Ordem. Com a galáxia ocupada demais em sua Guerra Civil, uma parte obscura do movimento Central acaba agindo clandestinamente nos confins da Orla Exterior. Não demorou muito para Leia descobrir que alguém, que ainda é um mistério, está  criando um segundo Império, e planeja acabar com a frágil democracia.

Um mistério que não é revelado e deixou o crítico que vos escreve com uma grande desconfiança foi: Mon Mothma está ausente do senado. O livro conta que a instituição se manteve muito bem durante a liderança da rebelde. Porém, ela teve que se ausentar de seu posto e, depois desse fato, o caos adentrou o senado. Nenhum ser era capaz de reger a máquina como a líder, já que ela se tornou um símbolo da liberdade. O que seria tão importante para fazer Mothma se afastar do seu cargo, mesmo sabendo que com sua retirada as coisas degringolariam? Será que a líder tem alguma ligação com uma certa catadora de peças, que vive em Jakku? Enfim, esses são apenas delírios de um fã apaixonado por Star Wars!

Bloodline possui uma narrativa muito bem feita, é certo dizer que Claudia perde um pouco o foco durante o segundo ato, mas também é correto afirmar que a escritora soube retomar seus objetivos com muita capacidade. Gray soube lidar bem com todas as revelações do seu enredo, por muitas vezes vemos autores que carregam uma grande responsabilidade de mostrar algo novo para os leitores e, simplesmente, esquecem de montar uma trama. Isso, felizmente, não ocorre aqui.

Era óbvio que a Disney não mostraria sua preciosa história em um livro. Todas as grandes revelações que os fãs querem ver como, os pais da Rey, a identidade de Snoke e mais detalhes sobre a queda de Kylo só serão contadas quando os esperados Episódio VIII e IX forem aos cinemas. Por enquanto nós ficaremos na ansiedade, sendo verdadeiros pedintes de qualquer informação que o Mickey nos der. A nova linha do tempo de Star Wars caminha a passos de tartaruga, e a nova dona da franquia é muito sábia em lidar com a saga dessa forma.

Star Wars: Bloodline — EUA 2016
Autor: Claudia Gray
Publicação original: 2016
Editora original: Del Rey
Editoras no Brasil:Não lançado no Brasil até a data de publicação da critica
Páginas: 352 páginas.

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