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Crítica | Star Wars: Os Últimos Jedi (Trilha Sonora Original)

por Luiz Santiago
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Depois de O Despertar da Força, o compositor John Williams se viu pressionado pelo público, que não teve a esperada receptividade em relação à proposta do maestro para a nova fase de Star Wars no cinema. Naquela ocasião, Williams se viu preso ao passado, retomando temáticas e pouco se importando em criar temas icônicos de identificação para personagens, mantendo-se mais na superfície da atmosfera musical e sombria, como indicava o filme.

Em Os Últimos Jedi, Williams realiza um trabalho mais reflexivo, de forte influência dramática (focando compositores das últimas décadas do século XIX e início do XX) mas ainda bastante enraizado em elementos dos trabalhos que ele fez para Uma Nova Esperança, o Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Após o tema principal, por exemplo, existe um pequeno adendo orquestral chamado Escape, com destaque para as cordas, que poderia marcar o filme através de algo mais heroico, embora mantivesse a linha sombria, como era a intenção do compositor, mas esse ponto fica apenas como sugestão mesmo. E infelizmente, ao longo de toda a trilha, temas importantes em cenas icônicas apresentam, em maior ou menor grau, esse tipo de problema.

Ahch-To IslandRevisiting Snoke tentam criar, cada uma a seu modo, mensagens que aos poucos se confundem com a própria forma como a orquestra resolve a questão musicalmente. No filme, dada a edição e mixagem de som, esse impacto de mudanças não foi tão percebido, mas notamos, por exemplo, da primeira vez que adentramos à sala de Snoke como a música evoca nuances da Marcha Imperial e tenta mergulhar em um épico à la Prokofiev que simplesmente não se conclui bem. The Supremacy é outro exemplo disso, uma composição que permite mensagens de esperança demais para aquilo que sugere e onde é utilizado na obra, com seus incompreensíveis momentos de violinos em destaque, trechos com piano em cantabile e quase nenhum peso em baixos e cellos para destacar o lado negro da Força.

Eu entendo perfeitamente que o filme tem como mote a briga conceitual/filosófica entre o Bem e o Mal, focando inclusive em personagens icônicos para levar isso adiante, mas são raros os momentos em toda a jornada que este ponto é trabalhado com personalidade própria. Vejam que não é mudando o tom de uma peça musical com duas faces de uma mesma realidade, o que infelizmente ainda recebe entraves pela repetição de momentos de outros filmes da saga (não haveria problema se não fosse algo tão constante). O primeiro grande momento da trilha, porém, vem com The Rebellion is Reborn, que mesmo na sugestão inicial já alude a uma “marcha” épica, o que de fato se concretiza na parte final da fita, quando a música alcança o seu clímax.

Infelizmente ainda estamos carentes de bons temas individuais. Em situações como o arco de Finn e Rose; a finalização das missões de Poe e os momentos de compartilhamento de informações no QG dos Rebeldes, o que temos são apenas boas incursões que se apegam ao que o roteiro trata no momento (embora Fun with Finn and Rose ainda traga pontos que não fazem jus às sequências) mas nos faltam algo que dê a um personagem ou marco da história uma verdadeira alma. Temas como Lesson OneCanto Bight são exemplos de ótimas construções que aos poucos parecem se perder em suas intenções, voltando para o eixo e logo em seguida perdendo-se novamente. No todo, são boas composições, claro, mas como unidade de uma cena que evolui, onde personagens são perseguidos, onde diálogos revelam coisas e onde muita ação ocorre, falta peso musical para ser lembrado.

A reta final da obra, quando o futuro da Galáxia é também matéria de discussão, assim como a guerra e a própria rebelião, a trilha parece acertar em quase tudo, com exceção de um único momento, um dos mais importantes do filme: a Batalha de Crait. Notem que a todo momento eu estive falando de peças musicais mistas ou realmente boas nessa trilha. Mas The Battle of Crait simplesmente não funciona. Se você analisá-la isoladamente, como um opus qualquer, verá que tem muita coisa interessante, devendo bastante a Gershwin, vale lembrar. Mas em pensar que esta é a peça que acompanha a batalha-ícone do filme, chega a ser vergonhoso o nível de preguiça na apresentação de material novo. É o único momento desta trilha que realmente incomoda pela repetição desmedida de temas já estabelecidos e de trechos quase aleatórios com trompetes, trompas, tubas e trombones gritando qualquer coisa enquanto as cordas dão um apoio em staccato, fundindo-se aqui e ali com uma percussão que serve para finalizar um momento dramático da peça e iniciar outro.

É muito importante que uma trilha sonora com bastante peso, como no caso de uma franquia, faça relações com o seu passado musical. Só existe um problema neste modelo de composição, que é se a repetição de temas anteriores — mesmo que em tom diferente ou por alguns segundos — se faz presente na maioria esmagadora das “novas” faixas que contextualizam as cenas. No presente caso, ainda temos um corpo musical de momentos belíssimos e bem melhor que o de Despertar da Força, porque (à exceção da preguiçosa The Battle of Crait) ainda mostra pequenas novidades soltando-se parcialmente de amarras. Se estiver na finalização deste terceiro “tomo visual” de Star Wars, John Williams precisará deixar os belos temas por ele já criados e mostrar que este novo tempo também merece composições icônicas e inesquecíveis. Ainda estamos esperando.

Star Wars: The Last Jedi (soundtrack)
Compositor:
John Williams
País: Estados Unidos
Lançamento: 15 de dezembro de 2017
Gravadora: Walt Disney Records
Estilo: Trilha sonora

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