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Crítica | Star Wars – Thrawn: Alliances, de Timothy Zahn

por Pedro Cunha
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Espaço: Coruscant, Batuu.
Tempo: Durante as Guerras Clônicas e depois dos eventos da Terceira Temporada de Star Wars Rebels.

Timothy Zahn talvez seja um dos maiores escritores ligados ao universo de Star Wars. Sua trilogia lançada entre 1991 e 1993 é uma das primeiras obras oficiais do antigo cânone da saga e abriu caminho para um dos maiores universos fictícios da atualidade. Muitas coisas do universo SW mudaram de 1991 para os dias de hoje. Naquela época, a preocupação com uma linha do tempo extensa ainda estava longe de ser realidade e as histórias da franquia se preocupavam muito mais em desenvolver um arco para os seus protagonistas e antagonistas do que em preencher pequenos buracos com aventuras sem propósito em uma grande timeline. Talvez seja por isso que personagens tão icônicos para a Saga tenham sido criados nesse período. Antagonistas como Mara Jade e Thrawn ganharam o interesse dos fãs pois se apresentaram como personagens desconhecidos e incompletos em sua trajetória.

O cenário atual é um pouco diferente. A Disney, agora dona da marca, preocupa-se muito em tapar os buracos — grandes e pequenos –, deixados pelos filmes. É por isso que Star Wars se expande para diversas mídias além daquela que a originou. Séries para TV, video games, livros, quadrinhos, jogos para celular… todos esses meios de comunicação entram no caldo do cânone, e é no meio dessa sopa de conteúdo que Thrawn: Alliances está. No livro, Timothy Zahn escolhe desenvolver sua história com duas narrativas em tempo diferentes, mas que se passam no mesmo local. A primeira se situa durante as Guerras Clônicas, a segunda durante o Império Galáctico. Ambas as tramas são protagonizadas por Anakin Skywalker, sendo que na mais antiga ele ainda não tinha se transformado em Darth Vader, e Thrawn, que durante as Guerras Clônicas ainda servia aos Chiss.

A primeira trama tem como força motora Padmé, que recebe uma mensagem de sua assistente dizendo que o planeta Batuu, localizado na borda da galáxia desconhecida, está passando por uma grande industrialização comandada pelos exércitos separatistas. A Senadora Amidala decide então investigar. Logo que chega ao planeta, vê que a situação é muito mais complexa do que ela é capaz de lidar. Anakin vê a demora de sua esposa em retornar da missão e decide ir ao encontro dela. Chegando no local, ele encontra com um alienígena azul chamado Mitth’raw’nuruodo, ou apenas Thrawn.

A segunda trama se desenvolve a partir de um distúrbio na força sentido pelo próprio Imperador. Esse decide enviar seu aprendiz Darth Vader junto com o Almirante Thrawn, que possui um vasto conhecimento das regiões desconhecidas da galáxia. Toda essa parte da trama irá se apoiar no conflito entre fúria (representada por Vader) e conhecimento (representado por Thrawn). Só nas últimas páginas do livro que as duas tramas irão se interligar, junção tão fraca, que não sustenta toda a aventura escrita por Zahn.

O primeiro livro dessa nova trilogia do escritor pautava-se muito na jornada do seu protagonista alienígena, que enfrentou muitos percalços para chegar a uma alta posição em um império que não valoriza nada além dos humanos. A jornada de Thrawn é muito clara em todo o primeiro livro, apesar do aprendizado do protagonista ser pequeno, ele ainda existe, e o leitor pode muito bem ver que o Chiss saiu de um ponto, no começo da trama, e chegou em outro no final do livro. É claro que essa jornada não poderia ser repetida para o segundo volume, porém, os conflitos do protagonista estavam longe de terminar. Zahn poderia explorar, nessa sequência, a dupla fidelidade de Thrawn, que está sempre dividido entre seu povo Chiss e o Império. Esse conflito interno é até mencionado na narrativa, mas acaba não sendo explorado.

Um dos aspectos mais interessantes do primeiro livro da série, era quando Timothy Zahn intercalava uma narração em terceira pessoa para uma em primeira. Quando isso acontecia o leitor era capaz de entender como o pensamento calculista de Thrawn funcionava e como sua mente achava caminhos diferentes da maioria. Esse aspecto retorna para o segundo livro, porém de forma muito menos inventiva. O recurso é utilizado apenas para momentos em que não era necessário. No primeiro livro o autor conseguia até fazer humor com essa variações, antecipando viradas em diálogos, por exemplo. Aqui, ele só a utiliza para reforçar algo que já foi visto, ou que poderia ser narrado na forma padrão do enredo.

Existe um grande problema na linha editorial de Star Wars. Parece que a Del Rey, junto com o grupo de histórias da Saga vê os livros da franquia como um grande tapa buraco. Poucos títulos lançados após a compra da Disney possuem uma história em que seus personagens passam por arcos de desenvolvimentos e realmente terminam a história diferentes de como começaram. Thrawn: Alliances, é só um exemplo de uma linha editorial que não se preocupa em desenvolver seus personagens, dando-lhes dilemas morais e desafios psicológicos, mas que tem seu foco em contar simples aventuras que poderiam muito bem ser contadas em curtas-metragens, onde os personagens não precisam ser desenvolvidos e a ação é o foco principal da narrativa.

Espero que até o último livro da trilogia a Del Rey e a Lucasfilm entendam melhor a mídia que estão trabalhando e percebam que o que torna um livro bom não é a quantidade de tiros e explosões que ele tem, muito menos onde essa história se passa na timeline da Saga, mas sim, a construção de personagens. Star Wars já nos apresentou, e ainda nos apresenta, personagens novos e velhos com excelentes construções. Espero que os editores da franquia consigam enxergar isso.

Thrawn: Alliances — EUA, 2018
Autor: Timothy Zahn
Publicação original: Julho de 2018
Editora original: Del Rey Books
Editora no Brasil: Não lançado no Brasil até a data da publicação da crítica
Páginas: 368

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