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Crítica | Superman: Alienígena Americano

por Luiz Santiago
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A famosa paixão de Max Landis pelo Superman é bastante conhecida. Ele nunca fez segredo em relação ao que pensava sobre o conceito básico do personagem e gravou um excelente vídeo comentando o aspecto destrutivo e de relação do Superman com seus vilões e com a Terra (veja aqui). Ele também escreveu, dirigiu e apresentou uma hilária, honesta e incrível abordagem sobre a morte e o retorno do Superman (veja aqui), e não deixou de falar, em pouco mais de 40 minutos, sobre a sua própria abordagem dessa “morte e retorno”. É por isso que toda vez que se fala de uma obra escrita por Landis para o Superman, há uma justificada comoção e expectativa, afinal, ele não é apenas um fã apaixonado pelo personagem. Ele realmente tem boas ideias para mostrar o “lado pop que ninguém entende” do personagem.

Na série de 7 edições chamada Alienígena Americano, Landis mostrou que poderia conduzir uma narrativa interessante para esse medalhão da DC Comics, focando em sete fases diferentes da vida do azulão e tendo uma equipe artística diferente para cada uma delas, excelente decisão editorial que fez de Alienígena Americano uma saga chamativa desde o princípio. Em Dove, a primeira revista da série, o autor coloca todo o seu coração em uma narrativa soberba a respeito da infância do pequeno Clark Kent. Absolutamente tudo funciona nessa edição, que não só é a melhor revista de toda a série, como também apresenta a descoberta dos poderes desse garoto do Kansas a partir de um ponto de vista incomum, com suas fraquezas, dúvidas e empenho de Jonathan e Martha Kent para educá-lo, acalmá-lo e protegê-lo, mesmo que ele, a rigor, não precisasse de proteção. Trata-se de uma introdução calorosa, com diálogos bem medidos, cheios de sentimento e com um claro choque de realidade para os personagens e para o leitor, conceito que coube bem na arte de Nick Dragotta.

Como era de se esperar, a passagem de uma faixa etária para outra traria uma gama de novidades, desafios e modelos de abordagem para a vida desse herói em fase de descobertas. Na edição dois, Hawk, o vigor da abertura da série ainda permanece, mas o encerramento parece um pouco perdido. E este é um problema que só irá crescer a partir da terceira edição, trazendo algo que, para mim, é o verdadeiro calcanhar de Aquiles no roteiro de Landis aqui: a verborragia em alguns momentos. Existem cenas e histórias onde uma grande quantidade de texto faz parte da proposta, já que o leitor precisa de explicações ou a trama precisa de um grande contexto para que se entenda os caminhos a serem tomados, as motivações de alguns personagens, o pensamento e intenções que possuem. O texto extenso, aí, é necessário, e o leitor não cansa ou não se importa com ele, porque há organicidade na forma como é colocado em cena. Agora vejamos o caso de Alienígena Americano.

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A versão mais honesta e interessante sobre a descoberta dos poderes do futuro Superman.

Como disse antes, é perfeitamente compreensível que cada revista ganhe um peso maior, já que mostra Clark em momentos diferentes de sua vida, logo, os diálogos devem ganhar mais densidade e todas as situações se tornam mais complexas. Tendo isso em mente, peguemos, por exemplo, as inúmeras divagações da edição três, Parrot; ou o absurdo blablabla de Owl, a edução quatro. A partira da terceira edição, o autor enxergou uma grande necessidade de fazer com que Clark fosse observado em seus demônios pessoais, e em vez de isso ser colocado como algo relacionado à progressão da história, como simples encontro e desafio — a exemplo da excelente sequência em que ele encontra e conversa com o pequeno Dick Grayson –, o texto adotou um outro tom. Notem a diferença do roteiro em toda aquela conversa de teor progressivamente repetitivo que Clark tem com Lex Luthor, na primeira vez que se encontram. É evidente que contexto e explicações eram necessárias, mas reparem que a conversa anda em círculos, não necessariamente da parte de Clark, mas para as alegações e autopromoção de Luthor, colocando um peso negativo imenso na edição.

Daí passamos para as inconstâncias que fazem com que a belíssima edição de estreia e a ótima segunda edição da série pareçam capítulos de outra saga. E em destaque, quero colocar a discussão de Clark com Pete Ross e o encontro do Superman com Lobo, na edição final. No primeiro caso, o erro está na tremenda extensão da briga. Sim, existem momentos, linhas e argumentos que funcionam bem ali, como parte daquilo que o roteiro está querendo entregar. Mas à medida que a contenda avança, a impressão é que vemos o retorno do mesmo conceito, mostrado em outras palavras (voltamos ao impasse com o solilóquio de Luthor). O desfecho da discussão também não ajuda muito, mas o verdadeiro problema é essa “abertura de coração” que diz uma e outra vez a mesma coisa, chegando sempre no mesmo lugar. No segundo caso, é preciso dar os créditos ao autor pela forma como Lobo é retratado. Mas sua colocação na história e a informação que ele traz para o Superman não faz o menor sentido. É incoerente com pistas dadas na própria minissérie e com algo que, sob qualquer aspecto narrativo, seria melhor que tivesse vindo de outra boca e em outro contexto.

Mas vejam, Superman: Alienígena Americano é uma boa história. Existe uma paixão às claras que o leitor pega aqui e ali em cada uma das revistas, mostrando o quanto Landis de fato se importa com o personagem e o quanto sua leitura do que seria o “entendimento e desenvolvimento do Superman” é uma versão cheia de fôlego novo. As problemáticas construções de diálogos e a presença final do Lobo não retiram da obra o seu impacto e a impressão de que nas mãos do autor, o Superman realmente encontra uma representação densa e… importante, como poucos escritores pós-Crise conseguiram dar ao Homem de Aço.

Superman: Alienígena Americano (American Alien) — EUA, 2016
Roteiro: Max Landis
Arte: Nick Dragotta, Tommy Lee Edwards, Joelle Jones, Jae Lee, Francis Manapul, Jonathan Case, Jock
Cores: Alex Guimarães, Rico Renzi, June Chung, Lee Loughridge
Letras: John Workman
Capas: Ryan Sook
Editoria: Alex Antone, Brittany Holzherr
170 páginas

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