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Crítica | Terror no Planeta dos Macacos

por Guilherme Coral
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estrelas 4

O sucesso dos filmes da série O Planeta dos Macacos não demorou a gerar subprodutos, como video-games, séries televisivas e, é claro, quadrinhos. Assim como fizera com Star Wars, a Marvel Comics rapidamente adquiriu os direitos da franquia para criar suas próprias HQs, incluindo as adaptações de todos os filmes lançados até então (A Batalha do Planeta dos Macacos estreara no ano anterior, 1973) e histórias originais baseadas nesse universo. Terror no Planeta dos Macacos, a mais longa dessas produções originais, teve início logo na primeira revista publicada pela Casa das Idéias e duraria até o cancelamento dessa, pulando um número ou outro.

Vendido como o sexto filme da saga, a obra gira em torno de Jason e Alexander, um humano e um chimpanzé, ambos jovens, que acabam se inserindo em uma conspiração de símios que buscam acabar com a raça humana ou subjugá-la. Na tentativa de impedir os planos de Brutus, líder desse grupo radical, formado principalmente por gorilas, os dois são forçados a fugirem para a Zona Proibida, onde pretendem encontrar o líder da sociedade de símios e humanos, o Legislador. Lá eles acabam cruzando o caminho com uma raça de híbridos entre humanos e símios, a qual prova ser mais um perigo para os dois amigos.

Roteirizado, do início ao fim, por Doug MoenchTerror no Planeta dos Macacos, desde a primeira edição, foca nas alegorias raciais levantadas pela franquia. É bastante óbvio que Moench desejava trabalhar a questão do racismo, tão presente no subtexto de O Planeta dos Macacos e escolhe justamente dois personagens jovens, sem a visão maliciosa que dividiria essas duas espécies, como o centro de sua narrativa. Dessa forma, a luta pela igualdade e preservação dos direitos de ambas as espécies dialoga diretamente com as peças centrais da trama, tornando essa, acima de tudo, uma história sobre amizade. Naturalmente que, por vezes, conflitos entre os dois amigos surgem, mas eles funcionam apenas para fortalecer a relação dos dois.

Um dos aspectos mais interessantes da obra é como Moench, aos poucos, insere mais elementos de ficção científica em sua trama. Estamos falando de uma longa história, com mais de vinte capítulos, esse ponto, portanto, serve para renovar a trama constantemente. O que surpreende é que, até o derradeiro fim, Brutus se mantém como o principal antagonista, fugindo completamente do padrão editorial da Marvel, cujas histórias de super-heróis possuem arcos que duram de quatro a seis números, em geral. Isso permite uma continuidade sem grandes elipses, gerando maior engajamento do leitor, que almeja por ver onde toda essa história o levará.

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Evidente que, em determinados momentos, o roteiro exagera na dose, trazendo conflitos desnecessários que apenas dilatam a narrativa sem necessidade. Fica bastante claro que a intenção era a de aumentar o número de edições, tornando essa história mais longa do que ela deveria ser. Felizmente, isso não impacta de forma considerável nosso aproveitamento desses quadrinhos, os quais conseguem captar nossa atenção na maior parte do tempo, oferecendo mais do que mera repetição do que já vimos nos longa-metragens. Outro aspecto prejudicou consideravelmente a revista foi o prematuro cancelamento da publicação, que gerou a necessidade de encerrar a trama sem dar os devidos nós nas pontas soltas, algo que pode decepcionar alguns leitores.

Isso, porém, se torna um mero detalhe quando levamos em conta o trabalho artístico de  Mike Ploog e Frank Chiaramonte, que são substituídos, posteriormente, por Tom Sutton, Herb Trimpe e Virgilio Redondo. Ploog e Chiaramonte criam uma forte identidade visual para a revista ao aproveitarem o preto e branco para criar traços detalhados, os quais nos remetem imediatamente aos filmes. É curioso observar como o traço depende pouco dos diálogos e balões de narração, como era comum à época, tornando toda a leitura mais fluida. É importante observar como cada personagem é bem diferenciado do outro, inclusive os símios, os quais podem ser identificados por determinadas marcantes características.

Dito isso, Terror no Planeta dos Macacos prova ser uma ótima história ambientada no universo da franquia, oferecendo uma trama rica, que aborda questões familiares aos filmes, mas sem cair na repetitividade. Inserindo novos elementos de ficção científica, enquanto lida com as questões raciais levantadas previamente pela série, Doug Moench cria uma narrativa engajante, a qual mantém nossa atenção do início ao fim, nos deixando desolados em razão do prematuro cancelamento da revista, que poderia ter oferecido muito mais.

Terror no Planeta dos Macacos (Terror on the Planet of the Apes, EUA – 1974-1977)
Roteiro: Doug Moench
Arte: Mike Ploog, Frank Chiaramonte, Tom Sutton, Herb Trimpe, Virgilio Redondo
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: agosto de 1974 a janeiro de 1977
Editora no Brasil: Não publicado no Brasil
Páginas: 380

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