Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Texone – Vol. 4: Chumbo Ardente

Crítica | Texone – Vol. 4: Chumbo Ardente

por Luiz Santiago
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Serenidade. Este é o nome da cidade que fica a duas horas de cavalgada de Passo Red Mountain, nas Montanhas Rochosas, onde em uma manhã de verão, um cavalo precisa ser sacrificado. E assim começa esta curiosa história de Claudio Nizzi, que parece ser uma homenagem ou mesmo um olhar carinhoso do autor para as míticas “cidades condenadas” do Velho Oeste. Desde os primeiros momentos, somos colocados em um ambiente de isolamento, com uma ação em andamento e pouca explicação do por quê e como os protagonistas da história chegaram ali. Apesar da curiosidade, a resposta para isto é desnecessária e o autor faz bem em não perder tempo com o didatismo que poderia vir desta explicação. E talvez para aplacar a curiosidade um pouco, Zaniboni desenha alguns planos em torno de Kit Willer e Jack Tigre, em dado ponto da história, onde podemos tirar algumas suposições de como o cavalo quebrou a pata, dando início a tudo.

Do isolamento e até um pouco de desesperança nos diálogos iniciais, a história passa a um ambiente mais comum para quem já conhece a dinâmica das sagas texianas. A chegada a Serenidade, porém, não demorará em se mostrar perigosa, e todo o restante do texto de Nizzi terá como foco a criação de um plano por parte de Tex e Carson, que devem enfrentar de maneira astuta o homem que está mandando e desmandando na cidade, Morgan Slattery, o tipo de personagem durão das cidades problemáticas do Oeste, aquele a quem todos temem, que domina um pequeno Exército particular, cobra tributos por serviços (ou simplesmente por algum tipo de atividade que rende bem) e jamais deixará que todo esse séquito e dinheiro lhe escorram pelas suas mãos.

A maior dificuldade de avanço da história, portanto, é essa temática mais centralizadora e limitadora, que por ter um propósito-final (colocar os heróis em uma situação de risco e empenhar a cidade para ajudá-los na hora certa) acaba diminuindo praticamente todo o segundo ato do volume, quando Kit Willer e Jack Tigre vão a Serenidade e precisam agir na surdina. O roteiro fica um pouco mais acanhado, e não necessariamente porque este momento da trama pede isso, já que se trata de uma missão de identificação. O fato é que Nizzi centrou todo o “chumbo ardente” em Tex e Carson, fazendo com que os blocos com a dupla tivessem ação à toda prova e, quando eles não estão em cena, diminui demasiadamente o ritmo, dando um contraste que pesa consideravelmente em termos narrativos.

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Rumo a Serenidade…

Uma quantidade muito grande de pessoas tem problemas com a arte de Sergio Zaniboni, o artista chamado para ilustrar essa história que é essencialmente urbana — na medida em que podemos estabelecer este nome em meados do século XIX, no Oeste dos Estados Unidos –, marcada fortemente pelas relações dentro da cidade, na delegacia do Xerife, no Moulin Rouge de Dona Lulu Darling (com quem Kit Carson se encanta) e arredores. E desenhar essa aventura foi um desafio para o artista, que não tinha experiência com desenho de cavalos e cuja grande marca era o reticulado, estilo que precisou adequar com bastante cuidado aos quadros de Chumbo Ardente para que não saísse da estrutura artística mais ou menos padrão nas aventuras do Águia da Noite. Com traços simples, majoritariamente feitos de uma só passada de lápis, quase sem arte-final e com a maioria de todo o trabalho feito à mão (inclusive o reticulado), a arte de Zaniboni realmente causa estranheza, porque é bastante peculiar, dá uma sensação de “perturbação” dos personagens que esse cenário não necessariamente exige. Tanto que o retrato que ele faz de Morgan Slattery é perfeito para aquilo que representa o personagem, e o que ele faz de Tex e principalmente de Kit, normalmente desenhado com mais delicadeza, é um pouco assustador.

Particularmente, não vejo a arte de Zaniboni como algo negativo para a edição. A estranheza e possíveis ressalvas de leitura dramática para os personagens que apontei acima são apenas nuances que qualquer leitor de quadrinho encontra quando se depara com um tipo de arte que, às vezes, sugere algo diferente daquilo que o enredo ou a personalidade dos indivíduos cobra de imediato. Se esta história tivesse um roteiro que distribuísse melhor a ação e não fizesse do final uma espécie de Matar ou Morrer relativamente abrupto, o resultado — que já é muito bom — poderia ser ainda melhor. Chumbo Ardente é uma história simples e, para todos os efeitos, crua. Vale muitíssimo a pena conhecê-la para ter ideia de como mais esse tipo de abordagem pode fazer parte do mundo de Tex e, mesmo com suas falhas, funcionar muito bem.

Tex: Chumbo Ardente (Piombo Rovente / Tex Albo Speciale – Texone #4) — Itália, junho de 1991
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil: Edição Gigante em Cores #4 (Mythos, 2015)
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Sergio Zaniboni
232 páginas

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