Home TVEpisódio Crítica | The Flash 2X23: The Race of His Life

Crítica | The Flash 2X23: The Race of His Life

por Luiz Santiago
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Episódio e Temporada

estrelas 2

Vamos jogar um jogo — que é mais uma pesquisa pessoal do que um jogo –: peça para algumas pessoas (ou só você mesmo) fazerem um resumo racional da 2ª Temporada de The Flash, considerando três elementos básicos: a) tratamento do cânone do herói no escopo da temporada; b) lógica e coesão dos roteiros no trato do gênero ficção científica ao longo da temporada; c) história e sentido real da temporada como um ano de uma série que precisa contar algo diferente e evoluir. Anote as respostas, crie uma síntese e compartilhe aqui aonde chegou…

… porque quando eu mesmo me fiz responder essas três partes, cheguei à conclusão de que esta 2ª Temporada não só foi uma temporada ruim, como também massacrou o cânone do Flash inserindo inadvertidamente vilões e mocinhos ao bel prazer da produção, descaracterizando o personagem, forçando-o em um melodrama que não fez sentido nem dentro da insanidade da própria série (vide a heresia do final) e, principalmente, fazendo pulular de gracinhas, idas-e-voltas, conceitos e máximas desconexas a cada dupla de linhas dos roteiros, com exceção de apenas 4 episódios: Potential Energy, Welcome to Earth-2, Escape From Earth-2 e, o melhor da temporada, Flash Back. Reparem que mais dois episódios, Versus Zoom e Invincible, tiveram boa avaliação de minha parte, mas como deixei claro nessas críticas, eles possuem “defeitos menores [e não maiores] em grande quantidade“, então acabam sendo bons em comparação aos medíocres ou ruins que foram o carro-chefe deste segundo ano o show. Os primeiros 4 citados, a meu ver, são bons por mérito de enredo e proposta mesmo. Quatro episódios realmente bons em uma temporada de 23. Uau.

Dito isto, observem como os roteiristas Todd Helbing e Aaron Helbing finalizaram esta segunda temporada. Parece requisito primário para a CW obrigar suas equipes de produção a utilizar o clichê “pegadinha do Malandro” no pior estilo faz-não-faz de “resolver” problemas. Isso derruba por terra uma série de coisas previamente erguidas na série, destrói mais da metade da temporada e inutiliza algo que já havia sido péssimo (desfazer o ruim de uma forma ruim) que foi a transformação da Força de Aceleração em algo físico e que havia dado um novo gás para Barry, além de lhe ensinar uma lição de maturidade e abnegação a ponto de obrigá-lo a passar por um teste, entender e enfim aceitar a morte da mãe (forçado, mas ok) e vir para a sua realidade pronto para vencer Zoom.

No episódio passado, eu elogiei a morte de Henry e mantenho a minha posição. Foi a melhor coisa que deveriam fazer com o personagem. Eis que, para piorar as surpresas negativas que aqui tivemos, o Flash da Terra-3 era um sósia do pai de Barry, na Terra-1. A lógica não só mandou lembranças como também cobrou sentido nessa exposição final. Ou melhor, não-explicação. Não bastasse Barry ter tido o seu momento emotivo e seu momento de explosão de raiva e desejo de vingança, o roteiro do episódio investiu ainda mais em uma “descida aos infernos” do personagem, que adotou uma postura de desfaçatez e mesquinhez que não combinam com ele, nem em seu pior momento do início da série atá agora. E onde isso nos leva? Bem, para algo que desde o início da série até agora, Barry, todos os personagens e todos os espectadores são avisados para não fazer e para temer e para fugir e para não apoiar: mudar pontos fixos de grande importância em qualquer timeline. E o que o personagem faz? Bom, ele vai lá e muda.

Tempos atrás eu fui chamado de “eruditinho” por um dos leitores insatisfeitos com a minha opinião sobre a série. Dizia ele que eu cobrava uma “série tão difícil quanto um livro” mas esta era apenas “uma série adolescente onde um jovem qualquer ganha poderes e se apaixona, vivendo a sua vida normal“. Bem, isto não é The Flash Friends, é? Em minha defesa, posso afirmar que não tenho ganas de erudição para The Flash. Eu sei qual é o público-alvo, a proposta e o caminho técnico que o programa se propõe tomar, e nenhum deles é o de um “jovem se apaixonando vivendo sua vida normal“. Barry não é um jovem normal, apensar de tentar ser. Ele é um herói de caráter clássico, daí a completa bobagem que fizeram em torná-lo irascível, tomando atitudes irresponsáveis como aceitar correr com o Zoom (sério? Mas assim… sério MESMO que este foi o motor dramático para derrotar um personagem desse poder e importância?) ou criar uma variação temporal de si mesmo para atrair os Exus-Caveirinhas-do-Tempo e devorar o Zoom?

De um lado, posso dizer que a produção gastou um pouco mais de dinheiro na direção de arte e efeitos especiais, o que fez com que o primeiro embate mano a mano do Barry com o Satanás Zoom tivesse excelente exposição de imagem. A fotografia do episódio é boa a maior parte do tempo (diferente da trilha sonora), então fica fácil para a pós-produção renderizar e adicionar saturações de cor e outros ajustes que fazem as corridas, as aberturas dos portais, as vibes do Cisco e as sinalizações de energia parecerem bem na tela. Evidente que há muitos pecados de excesso, então enjoamos disso bem rápido, mas não tira o fato de serem bem feitos.

Quanto às interpretações, pouco se salva aqui. Ainda defendo um pouco Grant Gustin, porque o rapaz realmente se esforça (ele não é um “ator menor preguiçoso” ele é só um ator menor, mas muito esforçado), todavia, sem um bom roteiro, como cobrar uma boa interpretação dele? Claro que bons atores são bons interpretando qualquer bobagem, mas para atores menores crescerem, eles precisam de desafios e The Flash não é, nem de perto e nem de longe, um desafio para Grant Gustin. Salvam-se aqui apenas Teddy Sears (Zoom), Jesse L. Martin (Joe) e, o tristemente escanteado e esgotado Tom Cavanagh (Wells).

Marcada por inúteis vilões da semana, romances de isopor, fillers e progressiva descaracterização de personagens, a 2ª Temporada de The Flash termina com uma anti-tese de si mesma. É preciso ter muito entusiamo ou ser muito negacionista para defender uma temporada nesses moldes ou um final desses. Aliás… um final que não é um final. Desta vez, nem um bom cliffhanger de verdade o roteiro nos trouxe. Estamos em uma ação sem sentido suspensa até o final de setembro de 2016. Já posso começar a fazer os testes para leitores que saibam escrever críticas e queiram assumir a série? Para mim, já deu.

The Flash 2X23: The Race of His Life (EUA, 2016)
Direção: Antonio Negret
Roteiro: Todd Helbing, Aaron Helbing
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Teddy Sears, Violett Beane, Michelle Harrison, John Wesley Shipp
Duração: 42 min.

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