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Crítica | The Flash – 4X11: The Elongated Knight Rises

por Giba Hoffmann
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“Not today, Satan!” – Cisco Ramon

 

– Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

O episódio desta semana de The Flash vem dar seguimento ao novo e interessante status quo que se estabeleceu com a prisão de nosso injustiçado herói titular. Com Barry (Grant Gustin) cumprindo sua pena pelo assassinato do professor DeVoe, o restante do Team Flash tem que se virar na sua ausência. Mesmo com a premissa levemente minada por um problema básico de continuidade – se levarmos em conta que a equipe recentemente se saiu bem para proteger Central City sem Barry por seis meses – trata-se de uma proposta interessante ao possibilitar um ritmo diferente e dar espaço para o elenco estendido se desenvolver. A série necessitava urgentemente de uma renovação temática e tonal, tocar a bola pra frente e romper os ciclos que vinham tornando-a uma tentativa sempre falha em recriar o que deu certo lá na primeira temporada. Neste sentido, The Elongated Knight Rises continua a acertar a mão: longe de ser brilhante, certamente é uma divertida história de super-heroismo descompromissada e com o necessário clima de quadrinhos old-school, que considero essencial para o sucesso da série,

Antes de mais nada, precisamos tirar do caminho uma observação a respeito da primeira cena do episódio. A cena de Barry no presídio inicia-se com uma atmosfera densa, trilha sonora e direção abordando com precisão um clima bastante sombrio. O espectador percebe que o episódio vai explorar um pouco da experiência de Barry na prisão  – interessante, algo novo, pensamos que talvez eles consigam trazer algum aspecto mais dramático do personagem de forma bem realizada, agora que deram uma arrumada na casa. Temos um corre corre e uma porradaria que parece mais uma rebelião, mas que aparentemente é apenas rotina na prisão de Iron Heights. OK… E eis que Barry não aguenta ficar parado, utiliza-se de seus poderes pra jogar todo mundo de volta em suas celas e pôr ordem no barraco, saindo e voltando como um raio para o seu lugar… e fim! E todos os guardas acham normal e seguem com suas vidas. Tem câmeras por todo o lugar. Barry preferiu ir preso do que entregar sua identidade. Eu perdi alguma coisa? Enfim, uma cena que começa bem e no final das contas não tem sentido nenhum – coroada com Barry riscando com o dedo vibratório seus dias de cadeia. Pô, só sete dias e essa cara de choro?

Enquanto que este começo, que queria ser sério, provocou risadas, a sequência que segue com Dibny (Hartley Sawyer) e Joe (Jesse L. Martin) tentando impedir um maluco com reféns que ameaça se explodir tenta engatar novamente um humor pastelão que não tem tido muito sucesso. A força comédica da série e do elenco já foi mais que provada, e inclusive muitos dos espectadores (este que vos escreve incluso) apontaram para sua ausência como um dos (muitos) grandes defeitos da temporada anterior. Escutando os clamores do povo, os produtores vêm recheando cada cena com piadas. Felizmente temos mais acertos do que erros – mas não seria fantástico um pouco de equilíbrio? O humor funciona melhor no estilo sitcom, com diálogos e momentos bem escritos entre os personagens,  do que quando forçam algo mais físico e exagerado e a coisa descarrilha muitas vezes pra algo bem infantil, como é o caso da cena inicial do futuro Homem-Elástico. Felizmente a coisa toda dura pouco, e o restante do episódio não deixa a desejar, como essa dobradinha inicial poderia sugerir.

Falando em Dibny, este é o seu grande momento de brilhar, com o personagem finalmente recebendo centralidade após um tempo em escanteio (claro que nada que se compare ao Kid Coluna Grega Flash, que Legends of Tomorrow o tenha). Sem a tutoria direta do Flash, o ex-detetive vê na situação a oportunidade perfeita para ganhar o centro dos holofotes e, de quebra, fazer o bem. Muito mais do que se livrar do terrível “uniforme” que tinha a audácia de ostentar até então (que aquela coisa fique no limbo do esquecimento eterno junto ao Savitar), o arco do personagem aqui avança ao dar destaque a um detalhe muito interessante da virada de Ralph mostrada em When Harry Met Harry. Ocorre que o abraçar tão fácil do espírito heroico que Barry tentava ensiná-lo dependia de um detalhe essencial: o de que Ralph se percebia como invencível com seus poderes elásticos. Contando inclusive com a confirmação científica gabaritada de Harry (Tom Cavanagh) – que hilariamente é jogada contra ele aqui – a conversão do figura parecia dever primeiro ao fato de não poder se machucar de qualquer forma, segundo à possibilidade de fama e reconhecimento e, apenas em terceiro, à vontade de fazer o que é certo. O retorno do segundo Trapaceiro/Trickster, Axel Walker (Devon Graye), armado com o infame “áxido”, criação sua capaz de queimar até mesmo a pele elástica de Dibny, vem colocar em xeque sua resolução.

A escolha do vilão é a mais acertada possível – um palhaço para fazer frente a outro – e arma uma situação absurda que parece encaminhar para um duelo entre humoristas amadores (parece até um filme do Universo Cinematográfico Marvel!). Tendo sido visto pela última vez no já tão distante Tricksters, Alan Walker mais uma vez veste o manto do idolatrado pai em uma versão mais pirralhenta e menos classuda do original – na linha das piadas que foram feitas na ocasião em que ele contracenou com o Jesse James de Mark Hamill, poderíamos dizer que Walker é o Kylo Ren para o Darth Vader de James. O perturbado jovem mastiga o cenário como os melhores vilões de The Flash já fizeram, auxiliado aqui pela estreia de sua mãe, a tresloucada Prank (Corinne Bohrer). Seguindo a tradição de resgatar e homenagear elementos da série dos anos 1990 de The Flash, a personagem é mais uma que vem transposta daquele universo praticamente sem alterações, inclusive sendo interpretada pela mesma atriz. Criada para a série de TV, Zoey Clark era a herdeira da fábrica de brinquedos Clarx Toys que, obcecada pelo vilão Trapaceiro, arquitetou seu resgate de um julgamento e se tornou sua parceira no crime (embora claramente seu amor incondicional não fosse correspondido da parte do maníaco). Uma curiosidade interessante é que, se por um lado a personagem lembra bastante a Harley Quinn, ela na verdade apareceu um ano antes da estreia da agora conhecida anti-heroína na série animada do Batman.

O episódio faz novamente um ótimo uso do background da série antiga, e diverte com a relação completamente pirada entre mãe e filho e a referência à fuga do Trapaceiro original. As sequências de suas vilanices funcionam mais do que deveriam, tanto na batalha do Trapaceiro (feat. bolinha anti-stress assassina) contra o Homem-Elástico, quanto no game show macabro de mãe e filho contra o trio Team Flash. Temos um bom tempo de tela para todos os membros da equipe, sendo que é difícil ter que assumir que Iris (Candice Patton) continua a ser um ponto fraco, com pouco carisma e nenhuma energia no papel forçado de liderança.  A batalha final contra Trapaceiro e Prank envolve o Homem-Elástico, em um raro gesto inteiramente altruísta, protegendo Vibro (Carlos Valdes) e Nevasca (Danielle Panabaker) de um banho de áxido que, no entanto, previsivelmente fora neutralizado por Harry (que bem avisou que só precisaria de 58 minutos). Ficamos com a expectativa de uma reunião da família Trickster com Jesse James, com uma possível revanche entre Dibny e Walker (que, convenhamos, é o rival que o cara merece).  A dinâmica do episódio no geral entretém bastante e faz render a ameaça de Walker, bem balanceada com um subplot interessante entre Barry e um prisioneiro de Iron Heights que fora ajudado pelo seu pai, o misterioso Big Sir (Bill Goldberg).

Algo que me causou estranheza em relação à equipe foi o seguinte: somos apresentados ao Homem-Elástico como um potencial herdeiro do cargo de protetor de Central City na ausência do Flash. Mas e quanto ao Vibro e a Nevasca? Quais são as opiniões do público a respeito deles? Cisco e Caitlin se preocupam em manter suas identidades secretas? Espero que não, já que foram desmascarados no vídeo do game show... Isso é de certa forma enfatizado pelo fato de que Ralph confirma para uma reporter ser o responsável sozinho por salvar o dia contra os vilões. Falta para a série nos explicar quais os posicionamentos de Caitlin e Cisco a respeito de suas novas carreiras super-heroicas – em especial o primeiro, que esteve na ativa durante toda a ausência de Barry, e muito provavelmente causou alguma impressão nos cidadãos de Central City. Eu preciso saber: o que o cidadão mediano acha do Vibro? Ele não vai ganhar um café em sua homenagem no Jitters? Fora isso, temos um bom desenvolvimento do arco do Homem-Elástico, que tem se tornado mais uma boa adição para este universo e que, Savitar permitindo, não simplesmente desaparecerá sem deixar rastros ao final de seu primeiro arco planejado.

Fazendo um bom uso da premissa da injusta prisão de Barry Allen, The Elongated Knight Rises é mais um bom episódio para a temporada, trazendo de volta o divertidíssimo vilão Trapaceiro em uma trama que, mesmo descompromissada, serve para desenvolver bem o restante do Team Flash e dar tempo para as subtramas da alongada (entenderam? Hãn? Hãn?) temporada respirarem. A ausência de DeVoe e Marlize tem um efeito surpreendentemente revigorante para o episódio, que realiza aqui um bom exemplo de um típico “vilão da semana” que não deixa de lado a caracterização dos personagens e não se esquece do principal, que é a diversão, ao mesmo tempo em que nos mantém minimamente ligados a um arco maior.

The Flash – 4X11: The Elongated Knight Rises — EUA, 23 de janeiro de 2018
Direção: 
Alexandra La Roche
Roteiro: Sterling Gates, Thomas Pound
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Hartley Sawyer, Corinne Bohrer, Devon Graye, Bill Goldberg, Richard Brooks
Duração: 43 min

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