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Crítica | The Flash – 4X13: True Colors

por Giba Hoffmann
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– Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Dentre as tarefas que The Flash precisava cumprir para se reerguer das cinzas narrativas em que encerrou sua terrível temporada anterior encontrava-se praticamente uma reelaboração da série. Tonalidade, desenvolvimento de personagens e enredo dos arcos de temporada: todas essas frentes precisavam urgentemente de um reexame. A temporada atual tem conseguido surpreender mantendo com certa constância uma bela reformulada nos dois primeiros quesitos, o que tem garantido uma inesperada retomada de fôlego por parte do seriado. True Colors aborda confiantemente o terceiro quesito, dando alguns belos passos para frente, apenas para arranjar tempo de retroceder um bocado antes mesmo de rolarem os créditos. No balanço geral, a soma é positiva – em especial se encarada relativamente ao que a série já alcançou anteriormente.

Neste episódio temos uma unidade temática que costuma aparecer bastante nas histórias de super-heróis, que é a identidade e motivação heroica da pessoa por detrás da máscara, independentemente de seus poderes e habilidades. De um lado, temos Barry Allen desprovido de seus poderes, organizando e pondo em prática uma fuga da prisão clandestina de Gregory Wolfe (Richard Brooks), tentando evitar que seja entregue, junto de um grupo de vilões desta temporada, para um leilão macabro de meta-humanos organizado pela asquerosa Amunet (Katte Sackhoff). Do outro temos Ralph Dibny (Hartley Sawyer) que, mesmo tendo recobrado sua confiança após a vitória contra o Trapaceiro e tendo descoberto um novo e muito útil uso para suas habilidades, sente-se abalado em sua recém encontrada identidade heroica, sob influência sabotadora de Earl Cox (Paul McGillion) um ex-colega de profissão de seus tempos de detetive roleiro.

É bastante interessante rever toda a galeria de novos vilões introduzidos nesta temporada, agora reunidos sob a inusitada liderança de Barry, sem poderes e na fuga da prisão. Apesar de se tratarem de personagens bem terciários no panteão da DC Comics (fato que prenuncia de certa maneira seu destino ao final do episódio), é notável que o elenco funcione bem aqui com uma dinâmica interna que consegue se manter interessante, ainda que a caracterização seja um tanto homogênea, com a exceção mais óbvia de Becky Sharpe (Sugar Lyn Beard) em seu encurtado arco de redenção. A ela se juntam Mina Chaytan (Chelsea Kurtz), Sylbert Rundine (Derek Mears) e Ramsey Deacon (Dominic Burgess), um grupo de vilões um tanto bidimensionais, mas que sustentam bem as cenas que dividem com nosso herói fugitivo. É especialmente interessante ver Barry agindo no sentido de tentar podar os ímpetos mais agressivos dos “colegas”, além, é claro, do ótimo desfecho da fuga, com a revelação bombástica de sua identidade (cortesia do sacana Wolfe) seguida por um confronto repleto de reviravoltas.

Do lado de fora dos esgotos de Iron Heights temos o Team Flash trabalhando no próprio plano em interceptar a negociação entre Amunet e seu fornecedor. Por uma sorte digna de Hazard, a equipe é brindada com a descoberta da habilidade de Dibny em usar a plasticidade de suas moléculas para assumir a forma de outras pessoas – adicionando o utilíssimo powerset da Mística ao seu hall de habilidades alongatícias. As tentativas de Dibny em masterizar essa habilidade – se passando por Wolfe visando cancelar o acordo com Amunet – rendem belas sequências cômicas, onde vemos um lado mais divertido de Brooks interpretando o atrapalhado detetive, improvisando absurdamente até chegar no cara-a-cara com Amunet, em um encontro um tanto bizarrro que acaba dando errado, com direito a sequências um tanto terríveis de sua face derretendo à la remake de O Professor Aloprado – por que não? A roteirização criativa e o timing comédico preciso do elenco continuam a ser um dos pontos fortes da temporada, que já se mantém como a mais engraçada da série até hoje.

Mais interessante e significativa do que estes segmentos cujo intento acaba sendo o da pura comédia, a subtrama de Dibny questionando sua capacidade em não decepcionar seus novos amigos é digna de nota, nos dando uma pista das origens da fachada excessivamente despreocupada do cara. Mesmo tendo aceitado sua responsabilidade heróica como algo superior ao próprio instinto de auto-preservação, vemos o Homem-Elástico lidando agora com outra faceta de suas responsabilidades: sua insegurança em relação a deixar de ser o cara que inevitavelmente irá ferrar com tudo de alguma forma. A conversa com Nevasca (Danielle Panabaker) é um ótimo momento para a dupla inusitada de personagens e um dos pontos altos do episódio, ajudando a construir uma dinâmica de relações internas mais complexa dentro do Team Flash. Imagino que futuramente veremos Caitlin precisando cobrar o favor que Dibny ficou devendo aqui. É incrível como em poucos episódios Ralph se tornou um herói mais bem trabalhado do que o pobre Wally West ao longo de toda sua passagem pela série…

Após a rápida confrontação com Wolfe, onde Barry acaba tendo sua verdadeira identidade como Flash revelada, temos uma batalha rápida e cheia de reviravoltas entre o Team Foragidos e o Velocista Escarlate (que aqui não tem nem sua velocidade nem seu traje escarlate). Trata-se de um combate bastante divertido, com usos interessantes de alguns dos poderes dos vilões envolvidos e com o leve twist na forma da ajuda de Hazard. Uma vez que vimos DeVoe (Kendrick Sampson – ao menos nessa cena) e Marlize (Kim Engelbrecht) pela primeira vez jogados para fora de seus planos pela interferência da wild card Amunet, pensei que talvez a ajuda de Sharpe pudesse figurar como uma forma do Team Flash se resguardar contra as previsões do vilão: a sorte crua contra o planejamento exaustivo das possibilidades. Infelizmente não é o caso – o que não significa que se trate de um desfecho pouco emocionante. Apesar de já imaginarmos as intenções de DeVoe, vê-lo “colher” os poderes dos meta-humanos do ônibus um a um (sorrindo brevemente antes de descartar cada um dos corpos) é uma cena impactante que cimenta a imagem do vilão como uma força maléfica de respeito.

E eis que acabamos o episódio com um DeVoe (agora Sugar Lyn Beard) com habilidades absurdamente aprimoradas: além de seu original pensamento super desenvolvido e da telepatia de Dominic Lanse, o vilão agora conta com animação de efígies, aumento e diminuição de matéria, tecnopatia e, é claro, a manipulação quântica da sorte nativa de seu novo corpo. Enquanto que o desenvolvimento funciona ao nível da ameaça supervilanesca, trata-se de um movimento atipicamente descuidado por parte do Pensador, uma vez que deixa um rastro de vários corpos (incluindo do sacana Wolfe, que provavelmente acabará culpado pelo ocorrido de alguma forma) e com o vilão assumindo a forma de uma criminosa condenada, ao invés da forma insuspeita de Lanse.

Na dinâmica interna do casal DeVoe a transformação leva um pouco mais além a situação desconfortável entre o par, sendo que o que parece estar em jogo não é apenas a dinâmica dos meios pelos fins que transformou seu marido em uma irreconhecível croupier azarada condenada à prisão (embora este seja um fator de óbvia estranheza), mas sim a perda de identidade do professor, que parece se diluir a cada passo de seu plano maquiavélico. Com isso temos dois potenciais pontos cegos nas complexas esquematizações do Pensador: Amunet e Marlize. Nesse sentido, espero que o foco da enredo não deslize em direção ao uso de seus múltiplos poderes para conseguir seus objetivos, mas sim que vejamos ainda boas jogadas que se alinhem à proposta inicial do personagem, que é de um vilão planejador e resguardado acima de tudo. No balanço geral, um desenvolvimento empolgante para o arco principal, em que vemos o Pensador momentâneamente sem saber reagir frente a um fator inesperado, partindo para um ataque adiantado cujos efeitos ainda veremos nas próximas semanas.

Caso terminasse aqui, o episódio mereceria principalmente elogios pela coesão temática e pelo enredo arriscado e empolgante, ainda que com as reservas já apresentadas. Porém, a coisa toda acaba desbarrancando um tanto no final devido à ausência de uma sequência emocionante ao som de Cyndi Lauper necessidade estranha que a produção parece ter em resolver apressadamente o arco do Flash aprisionado. A reviravolta na audição judicial de Barry, com Dibny se apresentando como o DeVoe original é completamente risível, fazendo o julgamento do Flash parecer extremamente verossímil em comparação. Claro que em parte isso se alinha com a proposta mais despreocupada e extravagantemente quadrinesca que a temporada tem adotado. Por outro lado, como momento decisivo no arco da condenação injusta de Barry a jogada fica um pouco aquém do esperado, e seus defeitos se tornam assim mais óbvios. Se o juiz está disposto a aceitar a ressurreição de alguém legalmente provado morto sob o argumento absurdo do “Aqui nessa cidade tudo pode acontecer!”, seria necessário no mínimo que houvesse uma investigação, baseada nessa mesma justificativa, a respeito da identidade do homem que adentrou o tribunal de forma tão suspeita se declarando renascido.

Se é possível se trabalhar com a possibilidade de um milagroso renascimento, a hipótese de se tratar de um impostor deveria certamente ser levantada. Mais do que isso – a libertação de Barry diminui um dos momentos mais significativos do personagem dentro do próprio episódio: mesmo após falhar em proteger Sharpe, e com DeVoe tendo sofrido um upgrade para sua terceira forma (“E essa ainda nem é minha forma final!”, diria ele, caso fosse o Freeza), Barry declara que faz questão de sair de Iron Heights apenas de forma legal – derrotando o Pensador em seu próprio jogo e limpando seu nome. Três minutos depois: feito. Ou seja, a opção é anti-climática e sabota uma cena poderosa em favor de uma resolução apressada. Mas isso tudo é passado quando cortamos para um festejo na casa dos West, com um fraco diálogo apontando para os desenvolvimentos lineares da trama: “Poxa, se o DeVoe está perseguindo os meta-humanos do ônibus isso significa que ele vai vir atrás do…. Homem-Elástico!”. Ta-dã-dã! Bem, teria sido melhor encerrar com o DeVoe 3.0. Pode ser um caso de estresse pós-traumático, mas nessas sequências finais, transparece um pouco da velha conhecida forma do seriado onde tudo tende ao linear até o nível da monotonia. Esperamos que seja apenas um deslize, mas se o episódio tivesse acabado cerca de 10 minutos antes, confesso que estaria bem mais animado para a sequência.

True Colors funciona mais como um interessante capítulo no jogo de xadrez entre o Pensador e o Team Flash e uma peça de personagem a respeito de nossos heróis Flash e Homem-Elástico do que como conclusão ao arco de Barry na prisão. Utilizando-se muito bem da construção feita desde o início da temporada, vemos várias faces conhecidas envolvidas em um dos emaranhados da complexa trama de DeVoe, e um dos primeiros momentos em que o cara quase sai derrotado. Resta a expectativa de que o vilão ainda não tenha mostrado sua jogada mais genial, e que a temporada não devolua em uma missão linear e previsível para salvar os meta-humanos do ônibus para então dar lugar a um confronto porradeiro tradicional entre Flash e Pensador.

*The Flash entrará em um breve hiato, voltando em 27 de fevereiro de 2018.

The Flash – 4X13: True Colors — EUA, 6 de fevereiro de 2018
Direção: 
Tara Nicole Weyr
Roteiro: Jonathan Butler, Gabriel Garza
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Neil Sandilands, Jesse L. Martin, Katee Sackhoff, Hartley Sawyer, Danielle Nicolet, Kim Engelbrecht, Kendrick Sampson, Sugar Lyn Beard, Chelsea Kurtz, Richard Brooks, Derek Mears, Dominic Burgess, Paul McGillion
Duração: 43 min

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