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Crítica | The Flash – 4X20: Therefore She Is

por Giba Hoffmann
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– Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Rumo à reta final, o episódio desta semana de The Flash traz para o centro das atenções uma subtrama que despertou o interesse dos espectadores e que se prova essencial para o desfecho do arco do Pensador. Trata-se, é claro, da relação crescentemente conturbada de DeVoe (Neil Sandilands) com sua esposa (não chamemos de assistente, sob o risco de enfrentar sua fúria) Marlize (Kim Engelbrecht), a Mecânica. Assim, temos uma sequência de Therefore I Am, com o foco agora voltado para a figura ainda um tanto misteriosa da Sra. DeVoe.

Além do título, a continuidade se dá em termos de temática e também de estrutura. Somos levados novamente a acompanhar um pouco da história e do passado do casal, fazendo o uso de flashbacks, que são uma ideia promissora para se desenvolver melhor os personagens no espaço de tempo que ainda falta até o confronto final. Porém, os retornos aqui acabam ficando aquém do que o visto no episódio que originalmente nos introduziu à história dos DeVoe, o que acaba arrastando a coisa toda para baixo. Isso se dá em duas frentes: na dinâmica interna do próprio episódio e nas escolhas do roteiro em relação ao personagem de Marlize. Comecemos pelo episódio em si.

Contrapondo os flashbacks temos uma trama fraca envolvendo o Team Flash sendo totalmente deixado para trás em uma sequência de roubos arquitetados por DeVoe. A equipe anda em círculos e não convence como um grupo determinado a fazer de tudo para parar o vilão, reagindo às notícias sobre os assaltos com um semi-desinteresse que leva a abordagens igualmente preguiçosas ao vilão. O personagem que deveria ser o coração da série, Barry (Grant Gustin), continua a oferecer uma presença desinspirada, sem muita liderança ou qualquer atitude heróica positiva para fazer frente à difícil situação atual em que se encontra o time.

No que tange ao drama romântico da vez, vemos o personagem esboçar alguma reação interessante, tentando resolver as coisas entre Cisco (Carlos Valdes) e Cynthia (Jessica Camacho) de um jeito um tanto bobo, o que poderíamos creditar a uma percepção errada de Barry a respeito da personalidade do melhor amigo. Porém, ao invés de levar para esse lado (que claramente vai contra a intenção da série, já que corria o risco de nos fazer simpatizar com sua posição e oferecer algo para o personagem fazer fora do terreno já batido da auto-piedade), vemos nosso herói agindo cada vez mais de forma insensível e egoísta a respeito da crise, terminando no conhecido e sonolento choramingar de sempre. Para contrabalancear, desta vez pelo menos temos uma cena em que o Flash acerta uma bela bordoada no vilão. Que satisfação!

A subtrama da crise do relacionamento de Cisco em si também não empolga muito, apesar de alguns relativos acertos. Cynthia é uma personagem relegada à coadjuvância no círculo de coadjuvantes, anexada a um Cisco que tem sido bastante mal servido em termos de roteiro. A natureza do relacionamento dos dois é imediatamente sentida como descartável, e o espectador calejado dos dramalhões das séries da CW logo percebe, corretamente, o rumo para o qual encaminhará o episódio.

A atuação de Valdes e de Camacho encontra-se além do que o fraco roteiro merecia, conseguindo entregar momentos de drama genuíno, especialmente na cena em que eles finalmente vão às claras a respeito de suas expectativas sobre o relacionamento. Infelizmente, não é o suficiente para salvar a subtrama de parecer forçada e soar imediatamente esquecível – o que é uma pena, vindo de uma personagem que tinha potencial para trazer elementos divertidos para a série. Com Cynthia entrando para o hall de personagens oficialmente relegados ao esquecimento, ficamos no aguardo para seu “retorno triunfal que ninguém esperava”, à la Leonard Snart no episódio anterior…

Por fim, a subtrama também não serve como paralelo temático com o núcleo vilanesco, como o episódio parece tentar sugerir. Fora o fato de serem dois casais em crise, não há absolutamente nenhuma outra relação entre as histórias, que juntas apenas garantem que a coisa não destoe tanto em termos de tonalidade (o que não significa que seja necessariamente um acerto – já que eu penso que a produção acerta muito mais a mão com comédia e aventuras despreocupadas do que no drama). Neste sentido, é notável o quanto a série se apega a situações já familiares ao invés de explorar assuntos e temas novos ou minimamente inventivos.

No fim das contas, o breve vislumbre que tivemos da Terra-19 e de sua delegacia de polícia, que na verdade serve ali como base para os Coletores, acabou sendo um dos momentos mais interessantes do episódio para mim (junto à rápida piada de que Wally presenteou Cecile (Danielle Nicolet) e Joe (Jesse L. Martin) com um berço que pertenceu a Moisés). A outra coisa que se salva é a subtrama de Harry (Tom Cavanagh) e Cecile, que novamente explora de maneira interessante as habilidades telepáticas de Horton e sua inusitada amizade com Harry. Definitivamente, os conceitos bacanas e inéditos tendem a funcionar bem mais do que a enésima reciclagem da ladainha: “precisamos estar em sintonia para fazer o negócio para parar o vilão”. Mas vai explicar isso pra esses caras…

A outra frente onde o episódio deixa a desejar é justamente no desenvolvimento de personagem para Marlize. Aqui era justamente a oportunidade perfeita para, no movimento já bastante esperado da vilã se voltando contra o Pensador após sua relação ter se degenerado em um triste abuso, dar a ela os contornos de que necessitava em termos de motivação para que o plot twist carregasse um bom impacto. No entanto, as cenas que mostram o histórico do casal só fazem nos mostrar uma relação que desde o início tinha raízes preocupantemente próximas do abusivo, para então desaguar em uma virada vilanesca um tanto caricatural para a personagem

OK, eu entendo ela ter toda a liberdade de ter curtido a esculhambada de DeVoe no debate onde se conheceram e tudo mais. Não estamos aqui para julgar! Porém a cena não nos ajuda muito no sentido de mostrar nada sobre a personalidade de Marlize e muito menos sobre o lado do Pensador pelo qual ela se encantou, uma vez que o que é apresentado já traz desde o início a marca do desconforto e de um cara muito pouco defensável (ou sequer gostável).

Nesse sentido, Therefore I Am teve mais sucesso em humanizar a dupla, e foram esses nuances que faltaram aqui para tornar mais realista a transformação de Marlize na fanática pelos planos de Iluminação do marido. Todo o lance em que ela sofre um ataque em uma missão humanitária é um tanto caricatural, beirando ao risível quando ela acorda com o DeVoe (que estava bêbado na fossa lá nos EUA!) já ao seu lado. Sequer tão ferida assim (o primeiro caso de coma originado de um braço quebrado), o susto e a tragédia bastam para que Marlize passe da fé humanitária juvenil ao fanaticismo pelo diabólico cataclisma malthusiano envisionado pelo marido louco. Thanos ficaria orgulhoso!

Therefore She Is não consegue ser mais do que medíocre em sua abordagem aos interessantes temas que se propõe a explorar. O mote central de DeVoe, de que mesmo as ideias mais geniais concebidas com a melhor das intenções são essencialmente corruptíveis por uma vida social doente, é notável e funciona muito bem como motivação e campo de temática para o supervilão, mas acaba subaproveitada em uma sequência um tanto desajeitada de flashbacks, intercalada com o marasmo desinspirado do S.T.A.R. Labs, de onde pouca coisa se salva como interessante. Com a virada decisiva acontecendo no interior do casal DeVoe, ficamos no aguardo de um desfecho interessante que consiga sair desse ponto do puramente regular e chegar em algo mais empolgante.

The Flash – 4X20: Therefore She Is — EUA, 1 de maio de 2018
Direção: 
Rob J. Greenlea
Roteiro: Sterling Gates, Thomas Pound
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Neil Sandilands, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Danielle Nicolet, Kim Engelbrecht, Jessica Camacho, Jessica Parker Kennedy
Duração: 43 min.

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