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Crítica | “The Resistance” – Muse

por Karam
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The Resistance não é nenhuma obra de arte como andaram falando por aí. Mas não me levem a mal! Não sou daqueles que têm birra com o Muse. Muito pelo contrário! Eu gosto da banda. Inclusive os ouvi bastante em algum momento lá de 2011, quando descobri este álbum e mais o Black Holes and Revelations. Tanto gosto que um dos ingressos que comprei para o Rock in Rio 2013 foi o do dia 14/09, em que eles se apresentaram. E foi muito bom vê-los ao vivo – eles me convenceram de que fazem jus ao oba-oba.

Agora que me justifiquei, me sinto mais a vontade para discutir abertamente os aspectos positivos e negativos deste álbum, sem imaginar que algum fã enlouquecido da banda queira me matar depois de ler. Vamos lá: este trabalho de 2009 é um mar de contradições. Por ora te cativa, te surpreende, te faz pensar em quantas bandas de rock temos nos dias de hoje que soam tão grandes e cheias de vida. Ótimo. Porém, em outros momentos, a grandiosidade do som parece se sobrepor em importância à qualidade das canções. A necessidade de ser épico o tempo inteiro prejudica a banda. Uma tolice como “MK Ultra” – a melhor letra do álbum desperdiçada por uma composição fraca e um riff de guitarra que parece ter sido plagiado de uma música tema de um joguinho infantil aleatório – é uma das provas disso. O vocalista Matthew Bellamy, talentoso mas over acting que é, se apega a excessos facilmente e a banda vai atrás, sempre – tem como ser diferente? Ele busca o fôlego para cantar como quem perde o fôlego ao se afogar, e isso vale para todas as canções. É característico do canto de Bellamy e incômodo para quem ouve. A sensação que temos é que ele se esforça demais para fazer das palavras cantadas dignas de serem ouvidas, quando no fim das contas é mais do que óbvio que só seremos convencidos de verdade quando as palavras trabalharem por si. E são poucas as vezes em que as palavras de Bellamy trabalham por si (já que as letras do Muse são em sua maioria formulaicas), mas quando isso acontece – como é o caso de “MK Ultra” – toda a significância dos versos é destruída por um canto quase cômico de tão over, e uma instrumentalização equivocada, que tende para o épico e se esquece de criar uma atmosfera minimamente harmônica que possa valorizar a melodia da canção. Fãs raivosos podem argumentar: “mas isto é rock n’ roll, e no rock ninguém liga pra essas m*****!”. Paciência. Eles estarão enganados, afinal harmonia existe na música, assim como o ar existe na vida, então se rock é música, rock tem harmonia. Uma matemática bem simples – e a galera do Muse, composta por ótimos músicos, sabe muito bem disso. Basta esquecermos da já tão desmoralizada “MK Ultra” e ouvirmos as seis primeiras faixas de The Resistance.

Não, você não leu errado. A primeira metade do álbum é, com algumas ressalvas básicas, excelente. É por isso mesmo que fiquei enfurecido quando a faixa de número sete – a qual me parece que não devo nomea-la aqui se não vão começar a achar que é perseguição… – quebrou o feitiço que o disco havia jogado sobre mim. É claro que, para ouvir Muse, você precisa estar ciente de que o Matthew Bellamy vai se esganiçar durante todo o álbum (expondo as técnicas de respiração que aprendeu ainda criança na aula de natação) e a banda vai se esforçar para acompanhar o ritmo e replicar o som ópera-rock do Queen. Você precisa estar vacinado. Com essas ressalvas em mente, tenho certeza que haverá grandes chances de você ser entretido tanto quanto eu fui durante os aproximados trinta e dois minutos compreendidos da faixa de número um a faixa de número seis do disco. Tudo o que o Muse sabe fazer de bom está nesses trinta e dois minutos. Uma introdução épica – que faz o chão estremecer quando tocada ao vivo – com “Uprising”; um melodrama de melodia belíssima e cantado de maneira apropriadamente (agora sim!) operática, com “Guiding Light”; um pop dançante com sintetizadores mandando ver, no estilo dos anos oitenta com “Undisclosed Desires”; um raivoso grito punk que possui um riff estarrecedor de cair o queixo e causar epilepsia na cabeça, com “Unnatural Selection”; a faixa que dá nome ao disco, um rock mais leve que, com seu piano memorável nos remete à “Starlight” (de Black Holes and Revelations), uma das melhores canções já gravadas pela banda; e, por fim, um delírio musical divertidíssimo chamado “United States Of Eurasia”, mistura bombástica de “We Are The Champions” do Queen e “Pyramid Song” do Radiohead que culmina em Matthew Bellamy tocando Chopin! O negócio fica Cult mesmo!

É uma pena que a banda tenha se prestado a se auto referenciar durante a segunda metade do álbum, esquecendo-se da individualidade das canções e almejando mais pompa do que qualidade. “I Belong to You” abusou da minha boa vontade. Quando Bellamy começou a cantar em francês… Eu poderia ter ficado sem essa. Supostamente, esta canção deslocada estaria lá para comprovar a versatilidade do Muse, mas trata-se de apenas uma tentativa embaraçosa de fazer uma música que não se encaixa no nível de conforto dos três integrantes da banda. E a famigerada sinfonia de três movimentos “Exogenesis”, tão comentada, de repercussões no melhor estilo “oito ou oitenta”, aclamada ou desprezada, é, para mim, o ponto mais fraco do álbum. Ela é apenas pura redundância. Uma repetição mais longa e chata de tudo o que já havia sido feito nas faixas anteriores do álbum – e tinha sido feito de maneira melhor. Mas é ao mesmo tempo uma oportunidade para Matthew Bellamy mostrar o quão Jeff Buckley ele pode ser. De fato, ele tem uma boa e potente voz. No entanto, a textura e a emoção de Buckley não se encontram em Bellamy, que se sai bem melhor em suas “explosões operáticas” do que em momentos de sutileza e falsetes. Lembrem-se que Buckley se saía bem nos dois quesitos. E em vários outros. Porém Jeff Buckley cantava apenas o que sua voz pedia para que ele cantasse. É por essas e outras que o Muse alcançaria melhores resultados se eles se ativessem a materiais que fossem compatíveis com os dons de seu vocalista e com isso se lembrassem de que, no fim das contas, eles são uma banda de rock. Se eles não quisessem virar Mozart e Beethoven de uma hora para outra no final de The Resistance, e tivessem se mantido focados nas boas canções pop à Queen, este poderia ter sido um ótimo disco.

Torçamos para que o Muse nos ofereça num futuro próximo mais “Supermassive Black Hole” e menos “MK Ultra”. Tenho fé.

The Resistance
Artista: Muse
País: Inglaterra
Lançamento: 11 de setembro de 2009
Gravadora: Warner Bros. Records
Estilo: Rock alternativo

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