Home Audiodramas Crítica | The Shadow Radio Show (1937 – 1938)

Crítica | The Shadow Radio Show (1937 – 1938)

por Luiz Santiago
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Fenômeno pulp colossal em todo o território americano, O Sombra (The Shadow) apareceu pela primeira vez como um misterioso narrador, no programa de rádio Detective Story Hour, em 31 de julho de 1930. Em poucas semanas, o público começou a perguntar nas bancas “onde estavam as revistas d’O Sombra”, interesse que não passou batido pela editora Street & Smith Publications, Inc., que contratou Walter B. Gibson, o criador do personagem no rádio, para pensar em um conceito visual e narrativo para este personagem do qual só conheciam a voz. A confiança da S&S era tamanha, que deram ao Sombra a sua própria revista pulp, não apenas uma parte de outras revistas baratinhas do gênero “histórias detetivescas” que se proliferavam naquela época. E em 1º de abril de 1931, o que era apenas uma insistência de pedidos, virou uma grande febre. Era publicada a primeira edição da The Shadow Magazine.

O enorme sucesso de vendas levou O Sombra para os quadrinhos, deu longevidade à sua revista pulp e uma série de rádio (e depois cinematográfica) só sua. Ele seguiu narrando histórias de outros personagens da Street & Smith, tendo pequenos contos seus aparecendo em programas por volta de 1932 e, principalmente, entre 1934 e 1935, pela CBS. Mas foi só em 1937 que ele ganharia o papel central de um programa de rádio, na segunda fase do The Shadow Radio Show, transmitido pela Mutual Broadcasting System. Assim como as revistas, esta fase do programa teve um enorme sucesso, ficando no ar de 26 de setembro de 1937 até 26 de dezembro de 1954. O Brasil também fez a sua própria versão de rádio para o personagem, exibida nas décadas de 30 e 40 pela Rádio Nacional (RJ), com o personagem principal narrado por Saint-Clair Lopes; e pela Rádio Record (SP), com o personagem principal narrado por Octávio Gabus Mendes. O programa também era transmitido pela Rádio Farroupilha, de Porto Alegre e pela Rádio Clube de Pernambuco, em Recife.

Abertura do programa O Sombra, no Brasil, na voz de Saint-Clair Lopes.

A versão do Sombra (Lamont Cranston) capitaneada por Orson Welles — aqui, acompanhado por Agnes Moorehead, que interpretava a noiva do personagem, Margot Lane –, iniciou em setembro de 1937, um ano antes da famosa, caótica e trolladora transmissão de Guerra dos Mundos, e contou, em sua primeira parte (ou seja, até o programa de 26 de dezembro daquele ano), com 14 episódios, dos quais 5 foram perdidos com o tempo, a saber, The Red Macaw, Danger in the Dark, Death Rides the Skyway, Terror Island e The House of Greed.

Um dos grandes desafios de Welles, já bastante respeitado no teatro e no rádio, era criar uma caraterização vocal para o Sombra que ao mesmo tempo desse a ideia de respeito e medo, além de combinar com as caraterísticas físicas que as artes de capa e os pulps do personagem tinham estabelecido sobre ele, citando: “homem de porte imponente, com nariz aquilino e ameaçadores olhos negros, sempre usando um chapéu, casaco e capa pretos, com a boca coberta por um lenço vermelho e um anel com um rubi enorme chamado Girassol. Ele possui uma pontaria inigualável e anda armado com pistolas semi-automáticas Colt 1911 45 ACP. Tem domínio de hipnose e diversos truques engenhosos de ilusionismo“. Em muita coisa, vê-se que O Sombra foi uma das grandes inspirações para o Batman, além de criar um precedente heroico que já abraçava sem medo a apelação.

Nos roteiros dos episódios que interpretou, em 1937, Welles tentou ao máximo fazer os dramas humanos e a própria personalidade do Sombra serem maiores do que as citações de suas “habilidades impossíveis”, sendo a mais difícil de comprar, nessa sequência, a cena de The Death House Rescue (Episódio 1), onde o protagonista lê a mente, “como em um filme“, de um homem condenado injustamente à cadeira elétrica. À parte este momento e o desfecho do confuso episódio The Three Ghosts (Episódio 6), todos os capítulos desta fase são aventuras muito boas, cada uma apresentando um tipo de trama envolvendo bandidos nada convencionais e uma porção de ingredientes sobrenaturais, vendo-se notar mais fortemente nos melhores seriais deste bloco, The Temple Bells of Neban (Episódio 5) e especialmente The Voice of Death (Episódio 14), este último, me lembrando muito o tipo de enredo de terror + ciência de um quadrinho que surgiria décadas depois, o Monstro do Pântano, especialmente no início da fase de Len Wein, em Gênese Sinistra (Raízes I) e um pouco em A Conspiração Leviatã (Raízes II).

.Abertura do programa The Shadow, nos EUA, na voz de Orson Welles.

Se mesmo para um espectador acostumado com a profusão de telas e já tendo milhares de exemplos de obras de terror, suspense e investigação em diversas mídias, O Sombra de Orson Welles ainda tem um forte impacto, imaginem o quão chocante foi o seu programa para a audiência dos anos 30 a 50. Uma verdadeira meia hora do medo.

Welles permaneceria na série radiofônica até o Finale da série de verão (1938), encerrando a sua jornada no episódio intitulado Professor X (Episódio 26), exibido em 18 de setembro. Ele foi substituído por Bill Johnstone, que abriria a fase seguinte com o episódio Traffic in Death. O que temos aqui é o exercício de um grande diretor e ator, muitíssimo bem acompanhado por Agnes Moorehead, em episódios com histórias de um gigante personagem pulp, que influenciaria muitos artistas, escritores, histórias e Universos pelos anos vindouros.

The Shadow Radio Show (EUA, 1937)
Direção: Orson Welles
Roteiro: Edward Hale Bierstadt, Walter B. Gibson, Carl L. Bixby
Elenco: Orson Welles, Agnes Moorehead, Bill Johnstone, Jeanette Nolan
Duração: 30 min. (cada episódio)

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