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Crítica | The Walking Dead – 5X08: Coda

por Ritter Fan
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam a crítica de todas as demais temporadas, dos games e das HQs, aqui.

Coda é um episódio esperto – mas estranho e, em última análise, falho – que encerra a primeira metade da 5ª temporada de The Walking Dead.

A esperteza já começa em seu nome. Coda é um termo relacionado à música, especificamente a um trecho inserido ao final, para encerrá-la. Quem é o personagem com mais tino musical da série? Beth, evidentemente. Nós já a ouvimos cantar algumas vezes ao longo da série. Portanto, desde o começo, há um tom finalista na narrativa, algo que começa no título e continua por todo o episódio, não que necessariamente a morte da jovem fosse algo completamente previsível ou até necessário – e prometo que chegarei a isso mais para a frente.

Antes de abordarmos esse aspecto – a morte “súbita” de Beth – tenho que continuar salientando a tal esperteza do episódio, que traz à mente momentos chave não só dessa meia temporada, como da série como um todo. Afinal, o que dizer da sequência na igreja do padre Gabriel, quando Michonne e Carl não têm alternativa que não fugir e trancar os zumbis lá dentro? Quando eles fecham a porta e os mortos vivos tentam arrombá-la, a conexão é imediata com talvez a mais lembrada cena de toda a série até agora: os zumbis no hospital tentando também abrir portas acorrentadas, com a macabra inscrição don’t enter dead inside.

E a própria história do padre Gabriel também tem sua “coda”, com o mesmo que ele fez com seu rebanho acontecendo com ele. Lembram-se que ele se recusou a abrir a igreja a seus fieis e esse é o pecado pelo qual ele se contorce? Pois bem, quando ele, desesperado, tenta voltar para a igreja depois que foge ao final de Crossed, ele implora para que Michonne e Carl abram as portas.

Há “coda” também para o grupo de Abraham, que finalmente volta a se juntar com o pessoal da igreja e também a Rick e os demais bem no finalzinho. Com isso, o roteiro circular dessa primeira metade está completo, inclusive com a volta ao mistério de Morgan em uma longa “coda” – mais conhecida, nesse caso, como sequência pós-créditos – que o mostra chegando à escola visitada pelo padre Gabriel e, finalmente, à igreja. No entanto, ao encontrar o mapa em que Abraham deixou um bilhete com o nome de Rick, a câmera se volta ao rosto do homem e ele se mostra surpreso. Quer dizer então que, nesse tempo todo, ele não estava seguindo símbolos (deixados por Carl?) para se reunir ao grupo de Rick? Tudo foi uma coincidência? Espero que não, pois seria ridículo demais, exagerado demais. Confio que Gimple tenha um plano maior, mais intrincado para trazer Morgan para o grupo e que esse plano certamente será a força motriz da segunda metade da temporada, quando o personagem (e os símbolos cavados nas árvores) deve receber mais destaque.

Mas a “coda” mais importante é mesmo a de Beth. Se olharmos para trás, lembraremos que Daryl já carregou Beth uma vez no colo (na 4ª temporada) exatamente como ele a carrega no final do episódio. E, em Consumed, o mesmo Daryl carrega uma criança zumbi envolta em um pano para a fogueira que ele preparara. Certamente prenúncios bem engendrados por Gimple em seu plano maquiavélico para nos chocar. Essas referências costuradas por todo o episódio passam a perfeita sensação de que “ele sempre teve um plano”, plano esse que remonta à primeira temporada, desde quando Gimple nem showrunner era. Claro que isso é para inglês ver, mas a sensação é boa. Pontos para o roteiro que foi bem esperto (e sim, estou me repetindo, mas considerem isso minha forma pouco original de fazer referência a mim mesmo…).

De toda maneira, tenho problemas com as circunstâncias da morte de Beth. O que ela pretendeu naquele momento em que sacou a tesoura para espetar Dawn? O que ela viu nos olhos da neurótica policial? Certamente o tiro subsequente foi reflexo – um reflexo estranho, conveniente demais, com um tiro para cima, atravessando a cabeça da garota – pelo que é difícil julgar se esse era o resultado que Beth queria alcançar. E em que isso ajuda a narrativa em alguma coisa? Ok, nada de batalha campal do grupo de Rick versus o grupo de Dawn, o que por um lado é bom, pois evita a repetição da invasão da prisão pelo Governador, mas, por outro, sem que o hospital seja varrido do mapa, a que propósito a morte de Beth serviu? Nem mesmo deu tempo de sofrermos pela situação, sendo necessário o choro desesperado de Maggie para isso. Se o objetivo era simplesmente a “troca” de Beth por Noah, havia outras formas de se fazer isso. E olha que venho pregando, desde o começo da temporada, que o grupo de Rick precisava ser, digamos, podado. Mas não assim, dessa maneira um tanto atabalhoada.

É nesse ponto que o roteiro “esperto” derrapa feio. Não torna esse um episódio ruim, pois os momentos que levam à morte de Beth, como descrevi acima, são muito bem construídos. Aliás, falando nesses momentos, não posso encerrar sem falar de mais uma demonstração de que Rick Grimes realmente está no fundo do poço, mas um poço muito mais fundo do que aquele em que ele se meteu quando sua esposa morreu e ele começou a falar ao telefone com ela. Seu lado sombrio não é mais um lado. Tomou todo seu ser. Essa conclusão já era evidente com o massacre dos canibais em Four Walls and a Roof, mas lá eles era canibais, caramba! Canibais têm que morrer mesmo. Agora, estamos falando de um colega policial – Lamson – que, apesar de ter enganado Sasha ao final do capítulo anterior, foi descrito como “um dos mocinhos”, com Rick claramente sabendo que ele é um pai de família. Com isso, aquela angustiante sequência inicial, com a perseguição de Lamson por um furioso Rick é brutal, aterrorizante mesmo, com um encerramento em contraluz que mostra Rick no escuro mesmo à luz do dia. Perfeita fotografia novamente, elemento esse que marcou constantemente essa meia temporada.

E Ernest Dickerson, na direção, também quase compensa o final estranho, ao não só mostrar sua capacidade com a sequência de Rick que descrevi acima, que ainda conta com uma excitante montagem que troca, rapidamente, entre Lamson a pé e Rick de carro, como também com o tenso momento final no corredor do Grady Memorial. Para acentuar a estranheza do momento, Dickerson e seu diretor de fotografia trabalharam com uma dose saudável do chamado “ângulo holandês”, em que a câmera é virada levemente na diagonal. Com isso, a sequência ganha mais “espaço” no apertado corredor e nos passa inquietude e uma sensação evidente de que aquilo simplesmente não pode acabar bem.

Coda é um midseason finale digno e eficiente, com grandes momentos pontilhados por todo ele. Direção, fotografia e montagem do mais alto gabarito, com um roteiro auto-referencial, bem escrito que, porém, não é capaz de tornar a impactante morte de Beth – que deveria ser o ponto alto do capítulo – em algo realmente memorável ou que tenha relação imediata com o futuro do grupo de Rick. Coda quase terminou de maneira perfeita, mas errou feio na afinação, ainda que a melodia não tenha sido drasticamente comprometida.

The Walking Dead – 5X08: Coda (Idem, EUA – 2014)
Showrunner: Scott M. Gimple
Direção: Ernest Dickerson
Roteiro: Angela Kang
Elenco: Andrew Lincoln, Norman Reedus, Steven Yeun, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Michael Cudlitz, Chad Coleman, Sonequa Martin-Green, Lawrence Gilliard, Josh McDermitt, Christian Serratos, Andrew J. West, Seth Gilliam, Andrew J. West, Christine Woods, Erik Jensen, Tyler James Williams, Keisha Castle-Hughes, Cullen Moss
Duração: 43 min. (aprox.)

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