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Crítica | The Walking Dead – 5X15: Try

por Ritter Fan
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam a crítica de todas as demais temporadas, dos games e das HQs, aqui.

Não sei se isso aconteceu só comigo – duvido! – mas esse episódio funcionou para mim exatamente como funcionou para Rick Grimes. Como em uma panela de pressão, os acontecimentos foram sendo empilhados um sobre o outro, a tensão foi aumentando sem espaço para escapar e BUM, ela explodiu no fantástico momento final, com Rick ensanguentando, brandindo o revólver depois de sair no tapa com Pete e dizendo, em resumo, que a antiga Alexandria não existe mais e que, agora, as regras serão as dele. Senti essa mesma pressão e essa mesma vontade de estourar.

Desde a sequência antes da abertura, com Somewhat Damaged do Nine Inch Nails tocando diegeticamente no melancólico momento de dor da família de Deanna pela perda de Aiden, já percebemos o tom acachapante que o episódio tomará. É um som gutural, mas claudicante, com uma guitarra rasgada, quase engasgada, com um  ritmo incomum. É o fim de Alexandria como a conhecemos. Deanna sabe disso. Ela só não sabe exatamente como as coisas efetivamente se desenvolverão.

Mas os acontecimentos não demoram a ocorrer. No entanto, o roteiro de Angela Kang, que escreveu o simbólico midseason finale, Coda, não torna as coisas fáceis para o espectador. Muito ao contrário, aliás, pois a roteirista consegue abordar não só a história central – a espiral de loucura de Rick – como também o estado de espírito prestes a estourar de cada um dos membros principais. Glenn, desesperado com a morte de Noah, quer que Alexandria dê certo e, de seu próprio jeito, tem um momento tenso com o covarde e mentiroso Nicholas, em um claro prenúncio do conflito que está por vir. Michonne sai pela primeira da proteção do muro e se vê livre, de volta ao seu meio, exatamente como Sasha, que praticamente vive na torre de vigilância e também saíra para caçar zumbis. Elas sabem que Alexandria não é a realidade e precisam se cercar da “realidade real” para se sentirem verdadeiramente livres, mas é interessante ver Michonne efetivamente perceber isso ali, somente naquele momento.

Daryl e Aaron têm sua presença no episódio justificada muito mais para que o conflito maior seja apresentado. Com eles, acompanhamos a descoberta do que exatamente são os zumbis com W marcado na testa. Ok, não exatamente. Quem lê os quadrinhos já sabe o que vem por aí, mas quem não lê também sabe que não vem nada bom e isso para usar um eufemismo, lógico.

É interessante notar que até Carl e Enid, os jovens que vieram de fora para Alexandria, são também vistos no lado selvagem, efetivamente adaptados a esse ambiente inóspito em que Michonne e Sasha também se sentem tão bem. A sequência deles escondidos no oco da árvore, com uma atmosfera romântica e cercados de zumbis passantes é muito bem construída e nos dá um pouquinho de esperança por um mundo mais ou menos normal em futuro distante.

Mas o grande foco mesmo está em Rick. Voltando um pouco atrás, lembro-me que, quando o personagem, lá pela 3ª temporada, passou a receber aqueles telefonemas imaginários de sua esposa falecida, achei que sua loucura havia vindo rápido demais e de maneira aleatória. Sim, ele já havia sofrido muito, mas tudo aquilo havia parecido forçado e pouco desenvolvido. Esses, porém, eram outros tempos, quando a série ainda cambaleava como os zumbis que povoam esse universo. Quando Scott M. Gimple tornou-se o showrunner, logo na temporada seguinte, a construção dos personagens mudou e Rick recebeu o peso que merecia. Passamos a sentir o que ele carregava nos ombros e seus momentos de raiva e insanidade passaram a fazer muito mais sentido.

Tudo isso, toda sua vida protegendo sua família e seu grupo deságua em Try. Kang no roteiro e Michael E. Satrazemis na direção fazem uso de uma simples metáfora para simbolizar o estado de espírito do protagonista. Repararam no balão vermelho preso ao barquinho no tranquilo lago que Rick vê à noite? Reparem então como é a partir desse momento que o sangue de Rick começa a ferver, com Pete sendo escorraçado com aquele “continue andando” que mais parece uma lança espartana sendo arremessada em seu peito. Quando vemos o balão novamente, ele está na mão de Sam (claro que tinha que ser do agora protegido de Carol, não é?), sendo puxado e balançando como que querendo fugir. É Rick chegando ao ponto de ebulição. É quando ele se vira para encarar Jessie pela segunda vez, em um tenso e definidor diálogo.

Mas o balão aparece novamente. Durante a pancadaria entre Rick e Pete, no meio da rua em Alexandria. Vemos o balão voando, indo embora, provavelmente simbolizando o vapor explodindo da panela de pressão de tensão que Satrazemis e Kang construíram maravilhosamente bem. E a própria sequência da luta – selvagem, descontrolada, mortal – é fotografada com uma câmera intrusiva novamente, assim com na cena da morte de Noah em Spend, nos jogando inexoravelmente no meio da ação.

Assim que vemos um plano aberto novamente, Rick está de joelhos, com arma em punho, com sangue por todo o rosto (ele se “torna” o balão vermelho?) e fazendo seu discurso enraivecido retirado quase que palavra por palavra dos quadrinhos. Andrew Lincoln há muito não tinha um prato cheio para uma excelente performance e ele o tem em Try. Sua transformação ao longo do episódio é crível e assustadora, com um monólogo sofrido, relutante, mas forte na medida certa, dando a exata dimensão do que se passa na cabeça perturbada do personagem.

Perturbada??? – você pode me perguntar. Sim, perturbada. Rick é um caldeirão de emoções, o retrato do seu “ou luta ou morre”, a prova de que a civilização como a conhecemos realmente acabou (se pensarmos bem, ela já acabou e não precisamos de zumbis para isso…). Ele está certo em sua posição? Digam-me vocês o que acham. A vontade de Rick deve prevalecer? Essa vontade viciada por violência e morte, uma vontade que, a qualquer sinal de revés, determina a morte de alguém (sim, o que Pete faz é inominável, mas daí a querer executá-lo…), uma vontade que foi estraçalhada talvez por sua inevitável desumanidade. Ou será que é Deanna quem está certa? Alguém que insiste na civilização “antiga” a qualquer custo, que mantém valores há muito perdidos, que, por outro lado, friamente aceita o sacrifício de Jesse em prol de um alegado bem comum, já que seu marido é um cirurgião, profissão não muito fácil de se encontrar – e extremamente útil – em apocalipses zumbis.

É claro que a resposta a essa pergunta está em uma espécie de meio termo. Mas o meio termo parece ser impossível. Alexandria é paraíso ou inferno. Não pode ser os dois. Alguém tem que ceder tudo. E minhas fichas estão com Rick, mesmo depois que Michonne o acerta com uma pedra (foi uma pedra, não?) para que ele pare de falar. Ah, não se enganem, Michonne não fez aquilo em prol do povo de Alexandria. Não mesmo! Ela queria proteger Rick e sua raiva incontida precisava parar para que não houvesse uma guerra ou uma desgraça qualquer. Michonne sabe exatamente o que Rick quer fazer e concorda com ele. Afinal, o passeio dela atrás de Sasha logo antes, com direitos a flashbacks para seu tempo de Rambo não foi sem querer. Michonne se achou novamente e, sendo mais cabeça fria que Rick, tratou de silenciá-lo.

Mas só por enquanto.

Ah, e você não me respondeu. De que lado está, Rick ou Deanna?

p.s. Deve ter alguma coisa errada comigo… Já é a terceira vez seguida que dou nota máxima para um episódio de The Walking Dead

The Walking Dead – 5X15: Try (Idem, EUA – 2015)
Showrunner: Scott M. Gimple
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Angela Kang
Elenco: Andrew Lincoln, Norman Reedus, Steven Yeun, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Michael Cudlitz, Sonequa Martin-Green, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Tyler James Williams, Ross Marquand, Jordan Woods-Robinson, Austin Abrams, Katelyn Naco, Tovah Feldshuh, Alexandra Breckenridge, Corey Brill
Duração: 43 min. (aprox.)

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