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Crítica | The Walking Dead – 6X03: Thank You

por Ritter Fan
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam a crítica de todas as demais temporadas, dos games e das HQs, aqui.

Muito interessante e ambicioso o que Scott M. Gimple está fazendo. Ele parece ter preparado uma tetralogia de episódios (e o quarto, assim como o primeiro, aparentemente terá 65 minutos de duração) que se passam todos durante apenas um dia – algumas horas de um dia, na verdade – e que funcionam como a abertura de sua 6ª temporada, ao mesmo tempo em que efetivamente introduzem a feracidade dos Lobos, a loucura que é lidar com uma horda de milhares e milhares de zumbis e a inter-relação sempre complexa entre o grupo de Rick e os habitantes de Alexandria. E, até agora, o showrunner tem feito bonito.

Para início de conversa, confesso que fiquei meio confuso com a linha temporal que Thank You acaba estabelecendo, não que isso seja um problema sério claro. Mas reparem que o episódio começa com a buzina do caminhão (conforme descobrimos em JSS) ainda tocando e ela para não muito tempo depois. Como é que Morgan chegou tão rápido em Alexandria, considerando que Rick, Michonne, Gleen e os demais ainda estão no meio da floresta e o episódio vai deixando bem claro o quão distante eles estavam da cidade murada? Estou sendo chato? Talvez. Mas aqui é o campo propício para os espectadores da série conjecturarem e, por isso, levanto a bola para vocês me ajudarem aqui.

Como disse, porém, a linha temporal da corrida do Usain… digo Morgan até Alexandria é o de menos, pois o foco de Thank You recai todo na desesperada tentativa de Rick de fazer seu plano mirabolante dar certo ainda. Mas, como tudo tem que piorar antes de melhorar, isso é exatamente o que acontece e, não demora, a situação torna-se insustentável, com Rick correndo sozinho de volta ao trailer usado como escora para o muro na encruzilhada da estrada e Michonne e Glenn guiando um grupo de alexandrinos, dentre eles o recém-chegado Heath e o problemático Nicholas, de volta para a vila.

O roteiro não perdoa e a morte de “indigentes” continua. Esse é um aspecto que tem me incomodado desde o primeiro episódio desta temporada. Claro que entendo perfeitamente bem que Gimple não pode sair matando seu grupo-base sem antes recheá-lo de novos e importantes personagens (Heath provavelmente é um candidato, diria), até por que ele não é muito grande. Mas, desde a morte de Carter, passando pelos vários assassinatos de alexandrinos pelos Lobos, tudo o que vemos são personagens sem nome morrendo. É difícil nos identificarmos com eles e as mortes parecem levemente gratuitas, ainda que dentro da lógica do que está acontecendo com os personagens. E sim, falarei de Glenn em breve e sua “morte” (as aspas serão justificadas, calma), seria suficiente para equilibrar esse problema dos roteiros até aqui.

Com pouco foco em Rick e emprestando um papel frustrante para Daryl em um roteiro que parece não ter uso algum para ele, mas que precisava mostrá-lo mais do que por alguns segundos por uma questão de audiência, a atenção cai toda em Michonne, Glenn e os demais tentando voltar para casa. É nesse ponto que podemos ver as distâncias e entender um pouco melhor (ou não…) a geografia da região. O espectador também consegue acompanhar os acontecimentos em JSS pela buzina e ausência dela e pelos tiros que são ouvidos mais para frente e também pelos Lobos atacando Rick, em um ótimo exercício de acontecimentos paralelos sem que Michael Slovis tenha que recorrer a montagens que nos levam de um ponto a outro.

De certa forma, a fuga desesperada do grupo parece “mais do mesmo”, mas, como os momentos que a compõe fazem parte do entrelaçamento maior entre os quatro episódios iniciais da temporada, ela ganha contornos mais urgentes do que os usuais, com um senso de fim, morte e sombras pairando sobre cada personagem. Vale nota o conflito interno que afeta fortemente Nicholas, o covarde responsável pela horrível morte de Noah em Spend, na temporada anterior.

Nicholas também tentou matar Glenn depois e, mesmo assim, Glenn resolveu ajudá-lo a amadurecer, a lutar contra seu lado negro. Essa complicada relação já vinha do final da 5ª temporada e intensificou-se logo em First Time Again, funcionando como uma espécie de luz no fim do túnel para um comportamento civilizado, que não leva a ferro e a fogo a Lei de Talião e que efetivamente pretende construir o tão almejado e tão clichê “mundo melhor”. Glenn parece ser a única pessoa do grupo de Rick que ainda carrega essa esperança entranhada em seu ser e Nicholas é seu projeto especial para mostrar a todos que mudar é possível sim. É, portanto, particularmente doloroso ver o choque tomando conta do personagem na medida em que o episódio progride, primeiro na floresta, depois quando ele vai matar um rapaz transformado em zumbi que fora de seu grupo e, finalmente, no fatídico momento em que ele, cercado em cima de uma lixeira em um beco sem saída cercado de dezenas de zumbis, se entrega, agradece Glenn e, então, se suicida.

É, por si só, um momento forte e, por mais que possamos não gostar (detestar talvez seja o verbo correto…) de Nicholas por seus atos passados, acho difícil não sentir uma pontada de tristeza ali, mesmo durante toda aquela tensão. Na verdade, eu acharia difícil, pois o texto de Angela Kang simplesmente não nos dá tempo de sentir nada ao, no momento seguinte, fazer com que o acontecido tenha como resultado a queda de Glenn em meio aos desmortos para a morte certa.

Ou será que não?

Notem que Slovis fecha o plano na parte superior do torso e no rosto de Glenn, com os monstros aparentemente comendo seu intestino. A câmera fechada pode ser uma pista de que o que vemos, na verdade, é Nicholas, em cima de Glenn, servindo de lanche para os zumbis, o que talvez leve à fuga do amado personagem usando a velha tática de se lambuzar de sangue tão usada por vários personagens ao longo das temporadas. Mas vejam, trata-se apenas de pura especulação da minha parte, unicamente baseado no fato de que Glenn é um personagem adorado pelos fãs e um dos cinco principais personagens da saga. Particularmente, não vejo problema algum em sua morte (Game of Thrones famosamente notabilizou-se por literalmente matar qualquer um e continua uma série forte com enorme audiência), ainda que sinta pena de Maggie já que ela então perderia todos ao seu redor, pois essa morte chocante funcionaria muito bem como uma espécie de balança dramática que equilibraria as mencionadas mortes de “indigentes” e daria peso para a narrativa, com verdadeiro e profundo sentimento de perda e novamente – dessa vez a ironia das ironias – pelas mãos de Nicholas.

A direção de Slovis nos momentos mais tensos é muito inspirada, com uma câmera que nos coloca dentro da cabeça dos personagens, algo que é especialmente sentido na sequência da lixeira, em que a lente tremida e em constante movimento nos desnorteia assim como deve ser a sensação de desespero de Glenn e Nicholas lá em cima. E o diretor mostra que sabe assustar quando quer – ainda que longe da eficiência quase criminosa de Jennifer Lynch – como no caso da sequência no trailer de Rick com os Lobos fugindo de Alexandria.

O que parecia uma trilogia de abertura tornou-se uma tetralogia e uma com aparentemente gravíssimas consequências para todo o grupo. Resta agora saber se Glenn realmente morreu e se Gimple conseguirá fechar com chave de ouro seu tenso e frenético início de temporada.

The Walking Dead – 6X03: Thank You (EUA, 2015)
Showrunner: Scott M. Gimple
Direção: Michael Slovis
Roteiro: Angela Kang
Elenco: Andrew Lincoln, Norman Reedus, Steven Yeun, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Michael Cudlitz, Lennie James, Sonequa Martin-Green, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Alexandra Breckenridge, Ross Marquand, Austin Nichols, Tovah Feldshuh, Michael Traynor, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Corey Hawkins, Kenric Green, Ethan Embry, Jason Douglas
Duração: 43 min.

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