Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead: 7X16 – The First Day of the Rest of Your Life

Crítica | The Walking Dead: 7X16 – The First Day of the Rest of Your Life

por Gabriel Carvalho
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-off, Fear the Walking Dead.

Em alguns aspectos, The First Day of the Rest of Your Life, último episódio da sétima temporada de The Walking Dead, lembra a já longínqua midseason finale da quarta temporada, Too Far Gone. Herói e vilão são colocados frente a frente. Herói tem ao seu lado um exército consideravelmente inferior ao oposto. Vilão possui um membro do grupo do mocinho como refém. A base estrutural é a mesma, com as devidas proporções ajustadas e a maior complexidade da situação de agora, que envolve muito mais fatores que a simples – mas extremamente eficiente – batalha do Governador.

Em meio as diversas negociações que permearam esta segunda metade da temporada, Rick, finalmente, posicionou-se contra Negan. Com o estranho povo do lixão ao seu lado, e os exércitos do Reino e da Colônia de Hilltop marchando para Alexandria, a vitória por um momento pareceu certa. Aliás, a mudança de time de Dwight em muito contribui com essa esperança. Mesmo com Daryl e Tara cogitando por alguns momentos a execução do assassino de Denise, o anti-herói permanece à disposição de Rick, e utiliza sua lealdade para atrasar os Salvadores. De início é interessante notar que Rick deixa a vida de Dwight a mercê de Daryl, sem meter-se na situação diretamente, enquanto Tara, que de repente foi de menina simpática para espírito da vingança, o conduz a executá-lo. Armas preparadas. Todos em sua posição. Como tudo isso poderia dar tão errado?

Sasha foi um dos principais – e melhores – focos da temporada. Aqui, encontramos o seu derradeiro fim em um belo tributo a uma das personagens femininas mais fortes que o seriado já teve. Pode não ter ocorrido menção alguma a Bob (além de sua jaqueta) ou Tyreese, dois de seus parceiros mais importantes em outras temporadas, porém suas presenças estão indiretamente ligadas ao o que a personagem se tornou. Somos relembrados, todavia, da relação de Sasha com Abraham, seu amante e com Maggie, sua amiga. Michael Cudlitz reaparece provendo um belo diálogo, tanto revelador da natureza de seu assassinato, quanto emocionante por remeter novamente a um dos relacionamentos mais inesperados – e mais honestos – da série. Por outro lado, Maggie e Sasha, em uma memória da última, apenas olham cada uma para seus próprios horizontes, sem cruzar olhares, mas cruzando seus sentimentos uma pela outra.

A condução de sua morte é feita cuidadosamente. A montagem é excepcional em conciliar e confundir o espectador para que na revelação final tudo tenha sido bem organizado. A direção de Greg Nicotero foca seus planos, dentro do caixão, no rosto de Sonequa Martin-Green, criando uma sensação de claustrofobia pelo espaço e pesar pela situação. A atriz transmite muito bem a personalidade de uma mulher decidida a morrer em prol dos seus próximos, mas ainda sim capaz de pegar-se em devaneios, enquanto ainda permanece lúcida para relembrar seu passado. As últimas palavras de Sasha, antes de falecer, ainda fora do caixão, indicam que ela crê no professor de ciências. Essa fala esperançosa colabora em aproximar Eugene de sua redenção, que ainda virá, se eu conheço o trabalho de Scott M. Gimple como showrunner.

Por falar em Eugene, sua mudança de time é outro ponto já consolidado e que ganha mais espaço, ao se revelar como um dos “Negan” para Rick e companhia. Suas intenções, contudo, são diferentes das de Dwight. Eugene apega-se mais a sua sobrevivência, enquanto D está interessado em sua vingança. É muito bom ouvir o monólogo de Josh McDermitt, ator já confortável em seu personagem, que aos poucos vem ganhando camadas mais profundas. Seu discurso pomposo dá margem à fracassada tentativa de Rosita em ativar a armadilha preparada pelo grupo de Rick e assim explodir os Salvadores, incluindo Eugene. Inesperadamente, Jadis e seu exército de caras bizarros estavam o tempo todo do lado do Santuário. Origina-se assim a tensão entre Alexandria e Santuário, que permearia o restante do episódio.

Com Negan papagaiando a vontade, Rick e os outros são colocados como refém, até que a negociação sobre o que se fará em seguida começa. O ex-xerife exige ver Sasha e então o líder do Santuário é surpreendido por uma guerreira já zumbificada, não sem antes sermos previamente avisados do que acontecerá. Diferentemente do que se pode pensar, ou seja, que o roteiro de Gimple entregou cedo demais o que aconteceria com Sasha, sua morte, na realidade, não precisaria ser realmente impactante, como em um jumpscare mal formulado. As coisas aqui são devidamente bem requintadas, com bastante sutileza e calma.

Na outra metade do episódio, após Sasha se revelar como um morto-vivo, a ação que tanto esperávamos começa. Tiros são ouvidos, nenhum personagem nominal é morto e estranhamente, o povo do lixão revela-se excepcionalmente ineficazes com armas a ponto de terem uma boa quantidade de seus membros sendo abatidos por uma dúzia de gato pingado. Neste ínterim, Michonne enfrenta corpo a corpo uma mulher do Lixão, reproduzindo, de maneira muito menos eficaz, o épico combate entre Andrea e um salvador nos quadrinhos. Ao menos, a sua presumida morte, complementa a ruptura do plano de Rick, com Carl (em mais uma atuação desnecessariamente robótica de Chandler Riggs) de joelhos a Negan, prestes a ser agraciado com a bença de Lucille.

Neste ponto que encontro a maior polaridade na minha argumentação. Idêntico aos quadrinhos, Shiva (ainda sem um trabalho de CGI totalmente crível) surgir do nada no clímax da tensão para salvar o dia e comer algumas faces alheias é algo, embora absurdamente conveniente, extremamente satisfatório. O seriado abraça por completo o clichê, como se fosse um velho amigo, ao vermos que Hilltop e o Reino chegaram exatamente no mesmo tempo. Não é do maior esmero textual a presença de tais comodidades, mas ouvir Ezekiel bradando que Alexandria não cairá é de encher o coração de euforia. Ainda sim ninguém mais relevante morre, dando tempo para que Negan ainda retire da sua cartola mágica mais algumas piadas de tio, que apesar de serem caricatas, poucas vezes perdem a graça. O que dizer da reação dele em ver Maggie atirando? Impagável. Infelizmente, a ação dura muito pouco, e Nicotero parece dirigi-la no piloto automático, tendo que recorrer a ótima mixagem de som e trilha sonora tensa para permitir a progressão do pouco entretenimento que a sequência promove, apesar do inquietante estado de êxtase no qual o espectador possa estar.

Rick e Carl caminham então para onde que Michonne encontra-se supostamente morta, para se depararem com a samurai destruída, mas ainda sim viva. Sobre os personagens secundários que ganham algum tratamento por parte do roteiro e direção, primeiramente temos Morgan, que aparenta um reflexo menos destruído, mas ainda sim abalado, daquele criado em Bury Me Here. Além dele, Daryl recebe um questionamento interessante já comentado anteriormente. A conclusão é outra convenção fácil, mas desta vez pouco compreensiva. O personagem de Norman Reedus encontrar a mensagem de Dwight é tão ilógico que até agora busco compreender quais seriam as probabilidades de Daryl estar naquele lugar e olhar exatamente para aquele ponto, sendo que qualquer outra pessoa poderia estar fazendo o que o personagem estava fazendo, ao invés do próprio. E tem um diálogo entre Jadis, Rick e Michonne no início do episódio que é cafona, sem sentido e apenas reduz a líder do lixão a mais uma cena aleatoriamente creepy.

Nos últimos minutos, o diálogo entre Maggie e Rick reconta o primeiro encontro entre Glenn e o policial, agora, por um olhar mais crítico. Mesmo que aparentemente o Rick de hoje é oriundo daquele Rick ainda preso a uma cama hospitalar, o homem com o título de líder provém de algum tempo depois, nas ruas de Atlanta, próximo a um tanque de guerra. Provém de Glenn, e a sua escolha de salvar um desconhecido e permitir que Rick lutasse por si mesmo. The First Day of the Rest of Your Life então termina, concluindo uma temporada irregular, mas sem deixar o espectador inteiramente desiludido com a que está por vir.

The Walking Dead – 7X16: The First Day of the Rest of Your Life — EUA, 2 de abril de 2017
Showrunner: 
Scott M. Gimple
Direção:
Greg Nicotero
Roteiro:
 Scott M. Gimple
Elenco: 
Andrew Lincoln, Norman Reedus, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Lennie James, Sonequa Martin-Green, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Ross Marquand, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Corey Hawkins, Kenric Green, Jason Douglas, Tom Payne, Xander Berkeley, R. Keith Harris, Khary Payton, Karl Makinen, Logan Miller, Austin Amelio, Christine Evangelista, Steven Ogg, Debora May, Sydney Park, Mimi Kirkland, Briana Venskus, Nicole Barré, Pollyanna McIntosh, Jeffrey Dean Morgan 
Duração: 
44 min.

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