Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 9X06: Who Are You Now?

Crítica | The Walking Dead – 9X06: Who Are You Now?

por Gabriel Carvalho
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-offFear the Walking Dead.

Com a despedida de Rick Grimes (Andrew Lincoln), saindo da série após o último capítulo exibido do programa, What Comes After, quais são os personagens que tomam a dianteira de The Walking Dead? Quem são eles agora, depois de tanto tempo passado? Judith Grimes (Calley Fleming) tornou-se uma extraordinária criança de 10 anos, como revelou o epílogo anterior, igualmente apresentando um novo grupo de sobreviventes, cerne desse recomeço narrativo. Já o cabelo de Carol (Melissa McBride) cresceu drasticamente, da mesma maneira que o corpo adolescente de Henry (Matt Lintz), interpretado pelo irmão mais velho do ator-mirim anterior, ambos caçulas da intérprete de Sophia. Daryl (Norman Reedus), além disso, vive como nômade e Aaron (Ross Marquand), entre as mudanças insignificantes de um momento para outro, adquiriu um curioso braço mecânico. The Walking Dead avança seis anos no futuro e reinicia completamente as suas premissas. Os sussurros de uma próspera retomada.

Michonne (Danai Gurira) não quer novos integrantes em Alexandria, mesmo que esses inéditos personagens, apresentados antes ao serem resgatados por Judith, realmente precisem de uma morada e aparentemente sejam inofensivos. O porquê do desafeto ainda é um enigma a ser desbravado futuramente, mas “tudo tem um motivo“, explica Siddiq (Avi Nash), pontuação significativa para que entendamos uma vertente no enredo a ser explorada verdadeiramente em passos seguintes, não uma reiteração de fracas ideias antigas, sem qualquer ar de renovação. A manutenção do discurso conciliador de Carl Grimes (Chandler Riggs) – e, derradeiramente, o de Rick também -, por parte da pequena Judith, exemplifica o poder de legados, sendo muito interessante uma resistência de ideias mesmo após o que aconteceu em Hilltop, situação misteriosa, extremamente engajante, que movimenta o interesse do espectador por explicações, assim como justifica essa Michonne inquieta em relação a novidades, demasiadamente cética.

Os seis anos de um episódio para o outro são compreendidos de um modo interessante. Os casais mais improváveis poderiam ter surgido, os acontecimentos mais improváveis poderiam ter acontecido. A recriação do universo que aprendemos a amar – e nos cansamos de acompanhar – é suficiente para uma reentrada a um mundo, de certa forma, novo, com dinâmicas renovadas. O inédito grupo é bem recebido inicialmente – a primeira cena empolga por mostrar rostos conhecidos com visuais levemente diferenciados -, porém, acaba sendo expulso consequentemente, decisão que é, porém, subvertida, para a felicidade dos forasteiros. O roteiro dá espaço para os novos personagens, que questionam, entre si, o futuro de um grupo sem rumo naquela situação, senão a óbvia permanência na comunidade. Luke (Dan Fogler), em outra instância, é um destaque desse meio, porque o artista que o interpreta transmite carisma, assim como retrata um misto de sorte e pesar inerentes ao ambiente sórdido do pós-apocalipse.

Das demais qualidades, o texto do episódio é muito superior ao texto de costume para a série, ou seja, uma nota positiva para o trabalho de Larry Teng. A sugestão assume papel crucial para o adiantamento de arcos, contudo, não o esvaziamento deles antes mesmo de tornarem-se reais, caso tornem-se reais. A cena que se encaminha à votação, ministrada pelo Padre Gabriel (Seth Gilliam), é excelente, justamente por causa da condução certeira da direção em relação aos diálogos engajantes, acompanhados por atores pontualmente escalados. O segmento detém de perguntas e respostas – em ritmo envolvente – que moldam personalidades criveis, com passados pungentes, se associando as facetas em oposição, à frente e atrás da mesa, por ambas serem sobreviventes a infernos e perdas anteriores ao agora. A sustentação do legado, portanto, quando Michonne – com uma misteriosa marca nas costas – encaminha o grupo à Hilltop, comunidade que será reconhecida novamente, por supostamente estar irreconhecível.

O impacto do homem que deixou marcas profundas nas pessoas ao seu entorno promove os sentimentos que acometem Michonne, conversando com o seu amante morto, assim como Rick, um dia, conversara com Lori através de alucinações, entretanto, esta é uma conversa mais auto-consciente de seu efeito catártico. Já Norman Reedus, assumindo a aparência de destaque nos créditos iniciais, participa de pequenas cenas, mas o suficiente para entendermos sua vida entre o agora e o longínquo tempo passado, com a sua competência em assumir esse escopo contemplativo-selvagem. O encontro do andarilho perdido com Carol, que se encaminha também à Hilltop, ao lado de Henry – assumindo a trama de Carl Grimes, acerca do anseio desesperador por mudança em sua vida, a adolescência falando mais alto -, é, novamente, promissor. Um último espaço para citação à criança que Michonne e Rick tiveram, encaixando-se com uma conversa passada do casal, e à interação entre Negan e Jude, além do bem e do mal.

Os anos se passam, as crianças crescem e as potenciais figuras maternas e paternas transformaram-se em reais figuras maternas e paternas – Michonne, por exemplo, é chamada de mãe por Judith, assim como Henry, em relação às pessoas que o criou esses anos todos. O príncipe quer se descobrir, enquanto os reis – Carol agora está casada com Ezekiel (Khary Payton) – nada mais têm a fazer senão permitirem essa descoberta. O jovem Matt Lintz ainda terá tempo para evidenciar uma competência interpretativa ainda não enaltecida, por envolver-se em um mini-arco, ao lado de sua “mãe”, que resolve as antigas desavenças de certos indivíduos, antigos moradores do Santuário – agora abandonado, tendo dividido seus habitantes entre as comunidades restantes -, com os protagonistas. O desfecho é extremamente apressado, enquanto o passado se une ao presente de uma maneira pouco orgânica. As rupturas nas estruturas do Reino prenunciam uma inversão das coisas como ainda se encontram, em pé.

Os mistérios continuam e, nesse último plano, assumem seu viés mais fantástico. Outros membros da comunidade, como Gabriel, ostentam uma visão mais expansiva do núcleo vigente de pessoas e comunidades, querendo desbravar mais territórios. A iniciativa em procurar novas pessoas, investigando frequências de rádio, resgata um arco que, nos quadrinhos, foi comandado por Eugene (Josh McDermitt), assumindo, porém, uma postura diferente, compartilhada, em Who Are You Now. O personagem participa da ação, inclusive da mais proeminente do capítulo. A afeição romântica que desenvolveu por Rosita (Christian Serratos), que, no entanto, está namorando Gabriel – aleatoriamente, porque sim – é pontuada notavelmente, de maneira cômica, mas também dramática, atmosférica. O cerco de mortos-vivos – quebrado levemente pelo intercalo com outras tramas, menos tensas – é horror competente, angustiante. Os sussurros, por fim, inesperados.

The Walking Dead – 9X06: Who Are You Now — EUA, 11 de novembro de 2018
Showrunner: Angela Kang
Direção: Eddie Guzelian
Roteiro: Larry Teng
Elenco: Norman Reedus, Danai Gurira, Calley Fleming, Melissa McBride, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Ross Marquand, Katelyn Nacon, Tom Payne, Khary Payton, Cooper Andrews, Matt Lintz, Traci Dinwiddie, Callan McAuliffe, Kerry Cahill, Rhys Coiro, Avi Nash, Matt Mangum, Aaron Farb, Mimi Kirkland, Briana Venskus, Mandi Christine Kerr, Jennifer Riker, Jeffrey Dean Morgan, Eleanor Matsuura, Nadia Hilker, Dan Fogler, Lauren Ridloff
Duração: 60 min.

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