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Crítica | The Walking Dead – Vol. 1: Dias Passados

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Tendo inspirado dezenas de outras obras, como Extermínio, e ganhado uma própria adaptação televisiva, com números estonteantes de audiência, The Walking Dead certamente se qualifica como um marco dentro de seu próprio subgênero. Ao contrário do que vemos na quase totalidade das outras produções com zumbis, como A Noite dos Mortos Vivos (e suas continuações), os quadrinhos de Robert Kirkman buscam nos trazer um olhar diferenciado sobre o apocalipse zumbi, no qual o maior perigo não são as criaturas mortas-vivas e sim o próprio homem, que é levado a extremos diante de uma situação de caos irreversível. Os seres canibais são quase um elemento natural agora e o comportamento do ser humano diante disso é, de fato, o enfoque do autor.

Tudo começa em um tiroteio em uma pequena cidade nos arredores de Atlanta. O policial Rick Grimes é baleado, o que o leva a um coma, do qual ele acorda meses depois. Seu universo, contudo, parece ter sido colocado de cabeça para baixo, ao passo que encontra o hospital no qual desperta abandonado e repleto de pessoas decrépitas e cadavéricas que parecem querer nada menos que devorá-lo. Dito isso, Rick é forçado a fugir em uma busca constante por sobrevivência, condição que se mantém mesmo ao reencontrar sua família, que tinha dado como morta. O primeiro volume, Dias Passados faz o ótimo trabalho de inserir esse novo status do mundo e pouco a pouco constrói seus personagens centrais ao mesmo tempo que revela o verdadeiro perigo desta nova ordem mundial.

twd-vol1Já tendo lido os volumes posteriores dos quadrinhos, é muito interessante observar a mudança pela qual Grimes, que se mantém como o protagonista, se sujeita. Temos aqui, no início, um homem ainda preocupado com valores morais, com as leis e com esperança de uma salvação por parte do governo. Gradualmente Kirkman transforma Rick através de pontuais eventos marcantes não só para o personagem como nós leitores. Em momento algum sentimos segurança ao ler as páginas de The Walking Dead – cada novo quadro pode trazer uma surpresa, seja através de um diálogo, seja por meio de um ataque (vindo ele de um zumbi ou não). Já no encerramento deste primeiro volume já presenciamos o primeiros dos muitos marcos que a obra traz, ao mesmo tempo que demonstra toda a capacidade de síntese do autor – uma história verdadeiramente ágil sem deixar de ser orgânica.

Acima disso tudo, Kirkman utiliza sua criação para criticar nossa sociedade, problematizando questões como o machismo, o porte de armas, dentro centenas de outras questões éticas e morais. Há uma constante construção e desconstrução de valores que garantem às páginas uma evidente profundidade. Um exemplo claro disso é o questionamento de Donna em porquê as mulheres devem lavar as roupas e os homens caçar – à princípio a resposta é porque eles, de fato, sabem atirar. Robert, então, ironiza toda essa questão ao fazer de Andrea a melhor atiradora do grupo, uma mulher com talento nato para tal – com isso, o autor já começa a dizer que o gênero de nada importa, são suas habilidades, sua mente e, é claro, sua sorte, que o manterão vivo. Com esses questionamentos o velho mundo se choca com o novo e a cada diálogo percebemos que estereótipos antigos não mais valerão aqui.

A arte bastante limpa de Tony Moore consegue trabalhar com esses focos sempre mantendo um nítido dinamismo. Seus traços conseguem deixar claro o que cada personagem sente, com expressões bastante definidas. Moore, nas edições seguintes, é substituído por Charlie Adlard e Cliff Rathburn – mudança que causa um estranhamento de imediato, mas que logo nos acostumamos. A utilização do preto e branco faz uma clara homenagem aos filmes de zumbi antigos, como o já mencionado A Noite dos Mortos Vivos e ao mesmo tempo dialoga com uma questão crucial de suas páginas: o mundo não é tão preto e branco quanto parece ser. Cada personagem tem, ao mesmo tempo, potencial para ser bom e mau, o que o define são suas experiências.

Dias Passados já demonstra toda a força da obra de Robert Kirkman, trazendo um novo sopro de vida a um subgênero que já estava mais morto que vivo. Certamente é um quadrinho digno de nota, cujas páginas podem ser apreciadas mesmo por quem não gosta de histórias de zumbi. Afinal, eles são apenas como mais uma força da natureza na criação de Kirkman, o verdadeiro problema são os humanos.

The Walking Dead – Vol. 1: Dias Passados (The Walking Dead – Vol. 1: Days Gone Bye)
Contendo:
The Walking Dead # 1 a 6
Roteiro:
 Robert Kirkman
Arte: Tony Moore
Arte-final: Tony Moore
Capas: Tony Moore
Letras: Robert Kirkman
Editora nos EUA: Image Comics
Data original de publicação: outubro de 2003 a março de 2004
Editora no Brasil: HQM
Data original de publicação no Brasil: maio de 2006 (encadernado)
Páginas: 144

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