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Crítica | The Walking Dead – Vol. 10: O que nos Tornamos

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

– Contém spoilers.

– Leiam as críticas dos demais volumes da série em quadrinhos, aqui.

A jornada para Washington foi iniciada e mais uma vez os personagens centrais de The Walking Dead se veem na estrada, após um longo período de estagnação na prisão (ainda que ação não faltava naquele lugar). Em O que nos Tornamos, décimo volume dos quadrinhos em questão, Robert Kirkman mostra como utilizar elementos já introduzidos em sua história, resgatando-os de forma que temos um senso de continuidade e coesão. Apesar disso, temos aqui uma edição que é consideravelmente mais lenta que as demais e acaba focando em alguns pontos que prejudicam um pouco o ritmo da leitura.

Após se unirem com o grupo de Abraham e deixarem a fazenda de Hershel, Rick e os outros lentamente progridem para Washington em um comboio formado pelo caminhão do exército e o carro adquirido por Grimes. Desde o princípio já sabemos que essa não será uma viagem curta, visto que as rodovias estão repletas de veículos que obrigam a equipe a parar constantemente, isso sem falar no constante perigo dos zumbis. O autor, contudo, procura não enfatizar esses elementos e sim o psicológico de seus personagens, que ainda estão lidando com as perdas sofridas nas mãos do Governador.

twd-vol-10-coverDito isso, um dos trechos mais dramáticos desta edição é a tentativa de suicídio de Maggie, que é utilizada muito bem para criar uma tensão entre Rick e Abraham, que acaba desenvolvendo em uma orgânica revelação acerca do passado do militar. Maggie em si, porém, por mais que Glenn se esforce para conversar com ela após o ocorrido, é um tanto deixada de lado e o evento logo escapa nossa memória, não surtindo grande efeito narrativo. O mesmo se estende para o posição de Sophia, que apenas dá as caras uma vez no volume inteiro, quando poderia ser melhor trabalhada agora que quase perdeu sua segunda mãe.

O que nos Tornamos, por outro lado, faz um ótimo trabalho em contemplar a mudança do protagonista desde as primeiras edições. O título, que muito bem reflete essa metamorfose, deixa claro esse enfoque e as similares situações pelas quais Abraham passou são inseridas no roteiro a fim de evocar essa reflexão em Grimes. Kirkman, então, faz a escolha certa em nos levar de volta para a cidade natal do protagonista, ilustrando toda essa questão com bastante clareza, especialmente ao mostrar Morgan novamente, o primeiro sobrevivente encontrado por Rick. Já faz um ano desde que o protagonista saíra do coma e essa edição é praticamente feita para nos lembrarmos de tudo o que aconteceu, como tudo começou e para onde a trama irá caminhar daqui para a frente.

Nesse sentido, porém, tirando o desenvolvimento psicológico dos personagens, não há um grande avanço no enredo. Não fosse a adição de Morgan à equipe, poderíamos pular esse volume e não sentiríamos falta de nada. O que minimiza essa nossa percepção é justamente o fato de que o roteiro de Robert busca, sempre, enfatizar os dramas pessoais de cada um dos sobreviventes. Para não dizer que nenhum cliffhanger é deixado, a insatisfação de Dale nos deixa um tanto temerosos em relação ao que está por vir, o que pode gerar consequências drásticas, seja para ele como indivíduo ou para o grupo como um todo – mais uma vez os quadrinhos nos deixam em uma bolha de incerteza que praticamente nos obriga a continuar adiante, por mais que o presente número tenha deixado um pouco a desejar.

Na esfera da arte, por sua vez, algo nos chama bastante a atenção. Charlie Adlard evidentemente tem seu traço refinado e nos traz uma caracterização mais limpa de cada personagem, mostrando como o talento do artista apenas evolui ao passo que sua familiaridade com a obra aumenta. É bastante visível essa diferença e, com isso, a leitura apenas se torna mais fluida, diminuindo nossa percepção negativa de alguns pontos do texto.

O que nos Tornamos é um volume notadamente mais lento de The Walking Dead, que se encaixa com a proposta do autor em focar na mente de seus personagens, mas que acaba não nos oferecendo muito em termos de progressão narrativa. Isso não quer dizer, porém, que a história dessa edição tenha sido ruim, apenas se trata de um estado de transição, que deixa algumas pontas soltas a serem desenvolvidas. Resta saber se as conclusões de algumas subtramas apresentadas sejam realizadas de forma que nos envolva mais que a presente edição.

The Walking Dead – Vol. 10: O que nos Tornamos (The Walking Dead – Vol. 10: What We Become)
Contendo: The Walking Dead #55 a 60
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Charlie Adlard
Arte-final: Cliff Rathburn
Capas: Charlie Adlard
Letras: Robert Kirkman
Editora nos EUA: Image Comics
Data original de publicação: janeiro a abril de 2008
Editora no Brasil: HQM
Data original de publicação no Brasil: novembro de 2012
Páginas: 148

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