Home TVEpisódio Crítica | Titãs – 1X02: Hawk and Dove

Crítica | Titãs – 1X02: Hawk and Dove

por Gabriel Carvalho
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Contém spoilers.

A polêmica série Titãs, em seu segundo episódio, decide segurar os passos dispostos anteriormente – a apresentação contida de Estelar (Anna Diop) e a aparição conclusiva de Mutano (Ryan Potter) – e desenvolver apenas a narrativa envolvendo Dick Grayson (Brenton Thwaites), o Robin, e Rachel Roth (Teagan Croft), a Ravena. A repentina freagem é interessante, mas diminui ainda mais a deixa empobrecida envolvendo o personagem de Ryan Potter, oriundo de uma tentativa fracassada – diga-se, desonesta – de transportar o espectador de um episódio para o outro, no caso, do primeiro para o segundo. Hawk and Dove, ao mesmo passo, substitui-os, presenças mais protagonistas, por outros dois personagens, coadjuvantes, mas, aqui, homônimos ao título, Rapina e Columba, relevantíssimos para a trama respectiva, que, possivelmente, também dá origem à primeira casualidade significativa da temporada. O começo, por sua vez, também é promissor, apresentando ambas as figuras de maneira envolvente. Um flashback então surge, para nos imergir ainda mais dentro do relacionamento amoroso entre os personagens, a conexão existente entre eles, com direito a trilha sonora própria. O surgimento do Robin, de repente, a quebra – Columba o olha pelo seu visor e, em bonito plano, entendemos os trâmites em questão. Paralelamente, vilões misteriosos, a Família Nuclear, são originados de uma ruptura estético-atemporal – existe uma imagem retrô atrelada a eles.

Os passos seguintes, porém, não são tão bem sucedidos quanto os primeiros. Na premissa, Robin quer levar Rachel para ser cuidada por eles. Enquanto Hank Hall (Alan Ritchson), o Rapina, perde o seu charme inicial, em situação onde zombava, divertidamente, dos criminosos ao seu redor, apesar da posição extremamente desvantajosa, Dawn (Minka Kelly), a Columba, mostra-se mais engajante como personagem construída, dado os indícios de um poderoso relacionamento passado entre a heroína e Dick Grayson, noção que também ajuda a entendermos as mudanças pela quais o Menino Prodígio passou, dos quatro anos atrás ao presente infortúnio. Já o parceiro da heroína permanece o restante do episódio, da sequência inicial em diante, na mesma tecla, em diálogos repetitivos envolvendo ciúmes, em um claro sinal de histeria. O episódio mostra-se, contudo, preocupado em justificar esse comportamento, evidenciando os sinais de fragilidade existentes no personagem, as inúmeras lesões pelo corpo, cheio de cicatrizes, e a impotência sexual. Por outro lado, obviamente, química se perde, deixando a desejar, por parte dos roteiristas, as cenas entre os personagens em momentos posteriores ao introdutório, que, além de poucas, não exprimem um sentimento maior do que os ciúmes, insuficientes para o sustento dramático necessário a conclusão do episódio.

Ademais, as cenas de ação são, nesse segundo capítulo, consideravelmente boas, auferindo um processo estético bem parecido com o que Zack Snyder, diretor de Watchmen e Batman Vs Superman, conferiria a uma produção sua. O segmento inicial, por exemplo, até mesmo possui uma canção no mesmo estilo das espécies de videoclipes criados pelo cineasta em oportunidades anteriores. O sangue, para justificar a classificação indicativa, é plasticamente – em uma artificialidade, devida a computação gráfica consequente, para a adição do efeito, nenhum pouco incômoda – jorrado. A sequência na qual Robin confronta diversos criminosos por conta própria, especialmente, possui uma fervorosa qualidade do “herói” pela agressividade, captando perfeitamente o que entendemos por violência mais domesticada e violência à beira do desumano, quase como um anseio infindável pelas consequências de socos, chutes e cortes. Os cenários permanecem sendo soturnos, indicativos da escolha pelo tom sombrio da série, pouco convidativo, mas também para uma maquiagem dos efeitos especiais, tomados como cruciais para uma série contendo seres super-poderosos. Hawk and Dove, particularmente, pouco contém disso, apenas relances repentinos do demônio interior de Rachel – o susto com a fotografia do homem que matou, no episódio anterior, é autêntico.

A juventude ganha asas, mas estamos falando de duas pessoas à beira do fim dessa fase de suas vidas – a passagem da adolescente para eles representa isso. A idade os alcança, pois não serem mais garotos. O destaque vai mesmo para a trivialidade que impulsiona o contato entre Dick e Rachel, solidificando-o. Hawk and Dove também se interessa por referências, mas exagera em certas linhas do texto, enquanto, em outras, aproxima o roteiro dessa construção de relacionamento afetivo. O episódio engasga no que quer comentar sobre o desinteresse de Dick Grayson na criação, mas o plano discursivo é claro e extremamente coerente, definido sobre um tabuleiro sobre pais e filhos. A relação, de certa forma, é tão parecida a isso quanto a uma relação entre irmãos, possibilidade para desenvolvimento futuro. O universo é mais coeso e até mesmo uma presença importantíssima é referenciada, com direito a uma espécie de “aparição”, por meio de voz, amarrada à narrativa e, portanto, ultrapassando a barreira do referencial despropositado, meramente decorativo, de Alfred Pennyworth. Hawk and Dove, dessa maneira, continua a apresentar-nos esse mundo super-heroico revisitado, mas auto-compreendido melhor do que outras produções derivadas da DC Comics. Titãs melhora, empolga pelo sentimento subjacente a sua existência, mas deve aprender a contar mais certeiramente essa história sobre juventude.

Titãs – 01X02: Hawk and Dove– EUA, 19 de outubro de 2018
Criação: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Brad Anderson
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Brenton Thwaites, Teagan Croft, Ryan Potter, Lindsey Gort, Jeni Ross, Logan Thompson, Melody Johnson, Jeff Clarke, Alan Ritchson, Minka Kelly
Duração: 45 min.

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