Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Titeuf – Vol.1: Deus, o Sexo e os Suspensórios

Crítica | Titeuf – Vol.1: Deus, o Sexo e os Suspensórios

por Luiz Santiago
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Philippe Chappuis, que adotou o nome artístico de Zep, deu início às publicações de pranchas com histórias sobre um menininho loiro, entre 8 e 10 anos e exibindo um topete enorme, em um fanzine chamado Sauve Qui Peut, em março de 1992. Titeuf era o nome do menino e a temática das histórias de Zep era o jogo entre inocência e malícia que o olhar de uma criança dessa idade tem sobre o mundo adulto, cabendo aí cenas do cotidiano com a família, momentos constrangedores na frente dos colegas em sala de aula, brigas e maldades com outras crianças na hora do recreio, conceitos de atualidades e outros conhecimentos na visão da criança (aqui, a história de Titeuf com medo de fazer um Raio X é soberba) e conversas com os amigos sobre frases entreouvidas de adultos, praticamente todas ligadas ao sexo. Aliás, a sexualidade, o corpo e a visão de Titeuf e seus amigos sobre esses temas são recorrentes na obra de Zep.

Descoberto por Jean-Claude Camano, da Editora Glénat, o fanzine com as primeiras aventuras de Titeuf ganhou a confiança da casa francesa e teve o seu primeiro tomo — Deus, o Sexo e os Suspensórios — publicado em preto e branco, em dezembro de 1992 (com data de capa de janeiro de 1993), ganhando sua versão colorida apenas numa reedição em 2000. No álbum, temos todos os ingredientes de apresentação do personagem em hilárias situações cotidianas. O que sempre chamou a atenção nas aventuras do personagem foi a forma muito real e facilmente identificável como Zep brinca com as descobertas do protagonista. No caso desse primeiro tomo, histórias como A Mulher Sem Bolas, O Viciado, O Grande Mistério e Sexo e Violência são exemplos de como um menino entre oito e dez anos interpreta, questiona e abstrai cada uma dessas situações.

Como o uso dos desenhos de Zep variam bastante ao longo da edição, o leitor tem a oportunidade de ver histórias com roteiros um pouquinho mais bem trabalhados — na medida da simplicidade e comicidade entre malícia e inocência que a série propõe — e pranchas apenas com desenhos, normalmente com algum tipo de travessura do pequeno Titeuf, sozinho ou ao lado dos amigos. Um ponto diferente nesse meio é a aplaudível e imensamente engraçada prova de História do menino, com o tema “A América“. O conteúdo do texto de Titeuf, nesse ponto, já tinha sido mais ou menos sugerido pelo autor na prancha ZZZ, quando vemos o menino assistir aulas sobre Egito, Roma, Idade Média e colonização da América (foco aí nos EUA), mas em cada uma dessas situações, imaginando os eventos de uma forma um tanto… pessoal. O resultado, claro, só poderia ser uma prova capaz de fazer qualquer um se esborrachar de rir.

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A Mulher Sem Bolas, prancha de abertura desse volume.

O crescimento da série na França foi espantoso. Inicialmente com uma tiragem de uns poucos mil exemplares, o título chegou ao seu 15º tomo, em 2017, com 175.000 exemplares vendidos só em seu país de origem — sem contar que ao longo do tempo, os álbuns de Titeuf apareceram diversas vezes na lista de quadrinhos mais vendidos do ano. E conhecendo a obra, não é de se espantar. Aventuras com crianças aprendendo coisas, descobrindo o mundo, encontro-se com situações inusitadas pela primeira vez geram um grande foco de curiosidade e identificação, seja em um campo de ordem mais realista, como este, seja em Universos com um cânone mais exigente, vide a série Academia Jedi.

Com temas tão diversos quanto o próprio título desse álbum de estreia sugere, Titeuf nos fisga por completo já em sua primeira saga. São poucos os quadros em que o autor termina num tom em falso, em uma piada sem graça ou mesmo datada. O que temos aqui é um ótimo início de série, uma fantástica apresentação do menininho topetudo e curioso que, além de muitos risos e interessantes caminhos ao apresentar temas adultos às crianças de sua idade — com aquele olhar peculiar que tão bem conhecemos –, seria também acompanhado por algumas polêmicas… Como não podia deixar de ser.

Se Deus está entre nós, como a professora disse, com certeza não é o Hugo, que é gordo demais; nem Manu, nem François, porque eles usam óculos… Dimi nem pensar, ele nem fala direito… Sobrou, então, o Ludo. Mas, nesse caso, seria dizer que Deus nem sabe fazer xixi em pé.

Titeuf

Titeuf – 1: Dieu, le Sexe et les Bretelles (França, Suíça, 1993)
Editora original:
Glénat
No Brasil:
 Vergara & Riba Editoras (V&R), maio de 2012
Roteiro: Zep
Arte: Zep
50 páginas

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