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Crítica | Toda Forma de Amor

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Primeiro grande sucesso de Mike Mills, Toda Forma de Amor é o exemplo de um filme despreocupado e sem capricho nenhum, que no fim das contas (e misteriosamente) acaba dando certo, seja pela conquista do espectador, pelo acúmulo dos poucos momentos bons e pela suavização dos inúmeros momentos ruins, ou por todas essas coisas juntas. O fato é que ao término do filme não dá para torcer o nariz completamente, já que uma pequena simpatia parece se instalar em nossa opinião final.

Há um grande problema em alguns filmes que abordam temas tabus. A maior parte deles tomam o objeto central como vítima absoluta de todos os males do mundo, e não é segredo para ninguém que o final dessa abordagem é a nivelação por baixo de um assunto que poderia render muito mas acaba tendo apenas uma situação provocativa e constrangedora, digna de ser descartada. No caso de Toda Forma de Amor, não temos esse tipo de abordagem. Apesar do roteiro de Mike Mills não ser a sétima maravilha do mundo, ele consegue trazer a história de um velho doente que declara ao filho ser gay, e com o passar do tempo, discutir o “tipo” de relação física e amorosa que tinha com a esposa. Moralmente, vê-se que a situação não é nem de perto socialmente aceita, e poderia facilmente se tornar um mar de lamentações e justificativas, mas ao contrário disso, nos deparamos com a busca de um indivíduo por encontrar-se, independente de quanto tempo tenha esperado para isso.

O cinema queer atual tem se mostrado prolífico e menos bairrista do que fora, em geral, até pouco tempo. Uma personagem gay, em um filme, seguia uma cartilha de lamento, aceitação, sofrimento e eliminação, bem como as histórias nunca poderiam estar envolvidas em tramas cujo o “ser gay” não fosse a discussão. Era como se a orientação sexual impedisse essas personagens de viverem histórias comuns em vidas comuns. Felizmente, essa tendência tem diminuído bastante, e temos contextualizações muito interessantes dessa temática em obras como Direito de Amar, Mal dos Trópicos, Não Gosto dos Meninos, dentre outras. Em Toda Forma de Amor, a personagem interpretada por Christopher Plummer tem sua importância cidadã e social, é um crítico de arte que sai do armário mas também lida com um namorado um tanto problemático e tenta se aproximar mais do filho, além da aceitação pessoal de que vive um estágio terminal de câncer.

Vejam que o roteiro cerca o espectador de problemas a fim de criar uma supra identificação, e quase consegue fazer isso por completo, não fosse o inimigo mortal do filme, a edição. É difícil entender a intenção do editor dinamarquês Olivier Bugge Coutté ao picotar a trama inteira em pelo menos três tempos distintos, todos eles inter-relacionados da maneira mais imediata e impessoal possível. Os saltos temporais ajudam a encobrir a crateras do roteiro, mas por outro lado deixam o filme esburacado no que diz respeito à própria narrativa, problema ainda mais agravado pela tentativa do diretor em inserir um ponto cool & cult, através da voz off de Ewan McGregor e de elementos externos ao filme como fotografias e cartazes publicitários expostos no centro da tela como demonstrações documentais do passado. É fato que se trata, também, de um filme sobre a memória de um passado específico e a tentativa de dar o primeiro passo em outra direção (vide o título original do filme), mas o aspecto geral é tacanho demais, e voltamos ao ponto inicial, o filme é salvo pela simpatia.

O elenco está bem localizado e entrosado, com interpretações muito boas de Plummer, McGregor e especialmente da bela Mélanie Laurent, cabendo até elogios pontuais para Goran Visnjic, Kai Lennox e Mary Page Keller. O desenvolvimento das personagens acontece mais pela caracterização das personagens do que por elementos do roteiro de Mike Mills. A fotografia é opaca, sem brilhantismo dramático nenhum. No campo técnico, destacam-se apenas o figurino e a trilha sonora, essa sim, digna de louvor.

Toda forma de Amor é um filme simpático e com final aberto, algo que incomoda a muitos espectadores, mas pelo menos nos deixa a oportunidade de criar teorias a respeito dos propósitos da reta final. À parte essas especulações que serão diferentes de um espectador para o outro, vale dizer que o longa não é um primor de realização, mas valeria a pena ser visto nem que fosse só pelo cachorrinho, embora, felizmente, haja muito mais coisas a serem vistas.

Toda Forma de Amor (Beginners, EUA, 2011)
Direção: Mike Mills
Roteiro: Mike Mills
Elenco: Christopher Plummer, Ewan McGregor, Mélanie Laurent, Goran Visnjic, Kai Lennox, Mary Page Keller, Keegan Boos, China Shavers, Melissa Tang, Amanda Payton, Luke Diliberto
Duração: 105min.

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