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Crítica | Transformers: A Vingança dos Derrotados

por Ritter Fan
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Transformers: A Vingança dos Derrotados é tudo aquilo que de pior existe em Hollywood. Se um filme fez sucesso, então faça uma continuação. E não só isso. Faça uma continuação maior, mais cara, mais barulhenta e mais ininteligível, com mais personagens, mais explosões e mais, mais, mais de tudo e qualquer coisa. E, é claro, se o diretor for Michael Bay, então esse “mais, mais, mais”, se eleva a níveis estratosféricos. A única coisa costumeiramente de “menos” em uma continuação típica hollywoodiana – ainda que haja várias honrosas exceções – é roteiro. Afinal, coerência, lógica e diálogos inteligentes atrapalham as brigas de robôs, não é mesmo?

Dito isso, porém, não descarto o fator “entretenimento descerebrado” dessa continuação (e do original também). Afinal, não fosse esse aspecto, a franquia não faria o dinheiro que fez e continua fazendo. Mas, mesmo dentro da categoria de “entretenimento descerebrado”, há a Categoria 1, que carinhosamente apelidei de “Ameba” e a Categoria 2, ou “Esponja” e posso garantir que essa continuação não é uma “Esponja”, pois, se fosse, não reclamaria tanto. O grande problema é o espectador sair de 150 minutos de projeção com absolutamente nada para salientar sobre uma obra do lado técnico ou visual. Nada. A não ser que você queira falar dos dotes físicos de Megan Fox, que Michael Bay sabe explorar da mesma maneira que diretores de filmes pornôs fazem.

Bem, ultrapassada a parte de reclamações direcionadas aos fãs incondicionais que não sabem diferenciar seu amor pelos brinquedos dos anos 80 de filmes ruins, vamos abordar o que for abordável em Transformers: A Vingança dos Derrotados. Enquanto Transformers (o primeiro), é uma fita introdutória desse universo com algum nível de qualidade (algum, não muito), mas que simplesmente não nos permite, com seus cortes alucinantes e câmeras tremidas, entender o que está acontecendo ou mesmo diferenciar entre robôs e até entre humanos, o segundo filme é mais do mesmo, ou melhor, muito mais do mesmo. Michael Bay enlouqueceu de vez e criou as duas horas e meia mais incoerentes possíveis e olha que não é nem preciso entrar na questão da geografia usada na fita, pois ela é risível bastando dizer que os robôs vão das pirâmides do Egito à Petra, na Jordânia, como se fossem um do lado do outro literalmente. Bay poderia ter usado monumentos menos óbvios para fazer o que queria fazer, mas não, preferiu contar com o completo estupor do público.

De toda forma, o fiapo de história é algo assim: Sam Witwicky (Shia LaBeouf) encontra um pedaço do cubo do primeiro filme e absorve, sem querer, todo o conhecimento lá contido. Com isso, os Decepticons passam a persegui-lo enquanto os Autobots tentam salvá-lo. Bem complexo, não?

Bom, depois de apresentar uns robôs monstruosos logo no início, Bay parte para o clímax mais longo da História do Cinema. A batalha “final” no deserto deve ter facilmente uma hora de duração e não dá para entender quase nada que está acontecendo. Além disso, a lógica interna da obra começa a ruir completamente, com robôs que são super-poderosos um momento antes começando a cair facilmente com meia dúzia de tiros alguns minutos depois. Mesmo com um roteiro (que roteiro?) completamente falho e cheio de furos, era de se esperar ao menos a manutenção de uma estrutura narrativa coesa.

Quando o tal Fallen do título em inglês chega, que em tese é o mais poderoso dos Decepticons, bastam dois petelecos de Optimus Prime para que ele seja destruído sem qualquer cerimônia, demolindo a nesga de história e todo o suspense criado ao redor dele e criando um final anticlimático e desapontador mesmo dentro de todo o chamado “bayhem”. Sem estrutura, sem atuações minimamente aceitáveis e sem uma narrativa engajante, A Vingança dos Derrotados falha em quase todos os sentidos.

E “quase” é a palavra chave. Afinal, quando alguém remexe no lixo tempo suficiente, a lei das probabilidades determina que será possível encontrar alguma coisa aproveitável. Em Transformers 2, o aproveitável se limita a dois aspectos. O primeiro deles são os efeitos especiais. Apesar da confusão da montagem de Michael Bay e equipe, é inegável que o trabalho de computação gráfica da ILM é de se tirar o chapéu. A movimentação dos robôs é fluida, crível e perfeitamente imersa dentro do ambiente em que são inseridos e as cenas de combate são impressionantes ao fundir cenários e props físicos com seres inteiramente criados no computador.

O outro aspecto de destaque é o design do robô idoso Jetfire, um ex-Decepticon que se tornou um Autobot. Ele se transforma em um SR-71 Blackbird, um dos aviões mais bacanas já feitos e, na versão robô, tem barba e bengala, fugindo completamente do design pouco imaginativo dos demais extraterrestres metálicos. Em termos cinematográficos, sua diferenciação dos demais permite que ele – e, justiça seja feita, Prime e Bumblebee (o Camaro amarelo) – sejam os os únicos robôs discerníveis na fenomenal bagunça que é esse filme.

A “continuação Ameba” que é Transformers: A Vingança dos Derrotados, no final das contas, tem a capacidade de literalmente transformar várias continuações porcarias que vemos por aí em filmes bons em termos relativos. A continuação de Michael Bay, até mesmo para os baixíssimos padrões estabelecidos pela indústria hollywoodiana, fracassa de maneira retumbante.

Publicado originalmente em 12/07/2014.

Transformers: A Vingança dos Derrotados (Transformers: Revenge of the Fallen, EUA – 2009)
Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger, Roberto Orci, Alex Kurtzman
Elenco: Shia LaBeouf, Megan Fox, Josh Duhamel, Tyrese Gibson, John Turturro, Ramon Rodriguez, Kevin Dunn, Julie White, Isabel Lucas, John Benjamin Hickey, Peter Cullen, Mark Ryan, Reno Wilson, Jess Harnell, Robert Foxworth, Hugo Weaving, Tony Todd
Duração: 150 min.

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