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Crítica | Trekkies

por Pedro Cunha
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  • Leia tudo o que temos de Star Trek aqui.

Em 1964, Gene Roddenberry fez uma proposta para uma produtora , o ex-piloto teria criado uma série sobre viagens espaciais. Como esse não era um gênero muito explorado, mesmo com o interesse popular crescendo em todos o EUA, a produtora decidiu por financiar o piloto do seriado.

Jornada nas Estrelas não teve um grande início, seu episódio piloto, chamado The Cage, foi recusado pelos produtores por conta de ser algo muito cerebral e com pouca ação. Porém, a ideia de Gene era boa e os chefões da época decidiram por dar mais uma chance para essa “pequena” ideia.

As gravações do segundo piloto começaram em 1965, Star Trek trouxe algo diferente para as series de TV da época, ali via-se pessoas de cores, raças e planetas diferentes convivendo em uma grande harmonia dentro da Enterprise. Mesmo tendo de entregar algo mais leve e agitado, Gene foi muito sábio e conseguiu inserir elementos da ficção cientifica dentro da nave.

Apesar de ser algo revolucionário, a série quase foi cancelada na sua segunda temporada, deixando muitos fãs enfurecidos, que até chegaram a mandar cartas para o presidente da NBC exigindo que o seriado continuasse. A emissora renovou o programa, porém seu orçamento foi muito reduzido. Era óbvio que o apelo dos fãs não pesaria mais do que o prejuízo que Jornada nas Estrelas estava dando para o canal, então a jornada foi encerrada na sua prematura terceira temporada.

A Paramount, a fim de recuperar o prejuízo que a série trouxe, abriu para venda as 3 temporadas já feitas. Foi ai que Star Trek surpreendeu, entre 1969 e 1970 as reprises já tinham sido vendidas para mais de 150 canais, tanto americanos quando internacionais. O público que antes via o apelo como algo chato, passou a entender aquilo de forma mais cult, isso fez com que a Enterprise entrasse em dobra, em uma velocidade nunca antes vista.

A reviravolta inesperada fez a Paramount se juntar com a Filmation para produzir, Jornada nas Estrelas: A Série Animada. A animação foi ao ar durante dois anos, tendo 22 episódios de meia hora. Como Kirk e sua tripulação já eram um tremendo sucesso, a produtora chamou Roddenberry para iniciar o projeto Fase II. Mas a indústria da comunicação se transformou depois da estreia de Star Wars, e essa mudança atingiu o projeto de Roddenberry alterando o piloto da série, que não seria mais um episódio e sim um filme: Jornada nas Estrelas: O Filme. Este foi lançado em 1979  e sua bilheteria de 139 milhões foi um pouco abaixo do esperado. Mesmo não sendo um grande sucesso, a produtora insistiu na obra, tirando Gene do comando.

Com isso, a Paramount produziu os filmes de 1979 a 1991 e Star Trek rendeu toneladas de conteúdo, em formato de longas, séries e quadrinhos, mas mais do que obras, a serie conquistou fãs, e é justamente sobre ele que o documentário Trekkies fala.

Hoje, a cultura nerd é muito “pop”. As Comic-Cons estão cada vez mais lotadas, os filmes sobre heróis, livros e até mesmo games estão tendo cada vez mais investimento das produtoras. O que antes era visto como algo fora do normal, agora é visto como algo legal. Mas ser geek nem sempre foi tão “cool”, no documentário Trekkies, temos uma viagem no tempo, direto para a época que toda a cultura nerd foi formada.

Dirigido por Roger Nygard, o documentário, que pode ser considerado como uma comédia, começa com a seguinte frase: Trekkies são os únicos fãs listados com um nome no dicionário de inglês Oxford. A partir daí, o longa narra toda a força que o fandom da franquia possui. Vemos manifestações de todas as intensidades e o que mais choca é ver, não apenas um, mais vários fãs da série vivendo como se estivessem dentro do mundo comandado pela Federação.

Roger mostra uma mulher que simplesmente acredita ser uma oficial da Federação, e por isso usa o uniforme da frota 24 horas por dia. Um homem que decidiu transformar seu consultório odontológico em uma caverna de Star Trek, o doutor vai atender de uniforme da Enterprise e, quando volta para casa, toda a sua família esta vestida a caráter. Vemos também um menino de 14 anos que desde pequeno é amante da série, e que hoje simplesmente vive por Spock, Kirk, McCoy e companhia.

Mas não são apenas esse casos extremos que o filme documenta, ha vários casos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela obra. Nygard faz questão de mostrar que o contato que o elenco tem com os fãs tem um impacto tremendo, tanto na vida útil da série, quanto na vida das pessoas.

Todo o documentário é narrado, o diretor intercala os locutores, em alguns momentos são fãs que contam do seu dia a dia, e como eles conseguem encaixar Star Trek no seu cotidiano. Também vemos a participação dos renomados atores no filme, isso abrilhanta muito a obra, trazendo histórias incríveis para essa maravilhosa obra. Jornada nas Estrelas é uma fábrica de contos, não apenas na ficção, o elenco original conta casos maravilhosos durante todo o documentário, ouvimos relatos de uma serie que tratava de representatividade, união e reflexão.

A Enterprise ficou muito tempo sem decolar, porém nunca vimos a franquia morrer, Trekkies nos mostra por que a serie continua e continuará viva para sempre. Os fãs, sendo eles malucos ou “normais”, são o verdadeiro motor de dobra da nave de Star Trek. São eles que mantém e mantiveram a serie viva até o dias de hoje. Foi graças aos apaixonados pela obra que hoje vemos as grandes convenções sendo realizadas, foram os trekkies que tiveram a excelente ideia de unir pessoas que gostam das mesmas coisas em um mesmo local.

O documentário acerta muito em mostrar todo o amor incondicional que Star Trek possui, porém não espere uma obra que conte a história da Saga, Trekkies é um filme que tem como missão principal mostrar todo o fandom da franquia, e toda a revolução que esse grupo de apaixonados trouxe para a cultura pop.

Com uma pitada de humor nas suas bizarrices, mas um grande contraponto na gravidade que é ver uma pessoa que não vive nesse mundo, o documentário pode ser considerado dúbio em sua proposta. Acredito que essa era a intenção de Roger Nygard; mostrar que algo bom pode ter dois resultados totalmente diferentes, quando aplicado para o bem só ajuda, mas quando confundido e levado ao extremos só prejudica.

Por mais dúbia que seja a sua proposta, Trekkies acaba com um grande e único argumento, Star Trek é pura reflexão, e parafraseando o eterno Leonard Nimoy, “enquanto a obra estiver levando as pessoas a reflexão, ela ainda é válida”. Então, meu querido Spock, Jornada nas Estrelas será para todo o sempre válido.

Trekkie — EUA 1997
Direção: Roger Nygard
Com: Denise Crosby, Frank D’Amico, Barbara Adams, DeForest Kelley, James Doohan, Walter Koenig, Nichelle Nichols, Leonard Nimoy, William Shatner, George Takei
Duração: 86 min.

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