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Crítica | Trilogia Divergente

por Melissa Andrade
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Assim como o cinema tem suas fases sequenciais de filmes épicos, de heróis, trágicos, e etc., a literatura também usufrui de tal artifício. Visando atender a demanda do mercado, as editoras correm atrás de títulos de mesmo tema para criar assim uma concorrência direta. Óbvio que a tática funciona e é o que tem solidificado o mercado por pelo menos uns 10 anos, começando lá atrás com Harry Potter e bruxos e magia, passando para vampiros com Crepúsculo, anjos caídos com Sussurro, mitologia grega e romana com Percy Jackson e finalmente culminando no ponto onde estamos agora: as distopias.

Para aqueles que não sabem, distopias são universos paralelos ao nosso, ainda assim próximos, que tratam de assuntos como totalitarismo, autoritarismo, retratando uma sociedade corrompida, até mesmo anárquica, moral e/ou pandêmica. O leque de opções é enorme.

Com o fim de Harry Potter e Crepúsculo criou-se essa lacuna que precisava ser preenchida e a bola da vez foi Jogos Vorazes, uma distopia anárquica centralizada na luta de sua personagem principal contra um governo tirano e opressor. A trilogia rapidamente conquistou seus fãs e pronto, iniciava o tempo de distopias no mundo literário e, por conseguinte, também nos cinemas. Mas, diferentemente de antes onde uma série de um tema encerrava para dar lugar a outra, agora, elas brigam de igual para igual. E entrando para disputar juntamente com Jogos Vorazes, temos Divergente, que apesar de possuir elementos semelhantes a trilogia da Suzanne Collins, possui uma narrativa superior e personagens bem mais complexos.

Divergente se passa em uma Chicago futurista e abandonada, onde a sociedade é dividida em cinco facções:
– Abnegação, considerados os altruístas foram colocados como os responsáveis pelo governo.
– Erudição, os inteligentes e responsáveis pela ciência e tecnologia.
– Amizade, os bondosos e responsáveis por cuidar das plantações e distribuição de comida.
– Franqueza, os sinceros e responsáveis pela criação e veiculação das leis.
– Audácia, os destemidos e responsáveis pela guarda da cidade e outras funções de segurança.

Beatrice Pior nasceu numa família de Abnegados e seus pais, Natalie e Andrew são membros importantes da sociedade. Com eles, ela aprendeu as regras pelas quais sua vida é regida. Só que Beatrice quer um pouco além daquilo e sempre se sentiu inferior ao seu irmão Caleb, que possui todos os traços da facção. Com a aproximação da cerimônia que irá determinar se Beatrice permanece em sua facção ou escolhe outro caminho, ela não poderia estar mais confusa, o que só complica quando o resultado do seu teste, que deveria lhe dar respostas é inconclusivo. Tori, sua instrutora, lhe diz que alterou o resultado e que ela deve guardar segredo. A garota não entende bem o que está acontecendo e rapidamente Tori lhe explica, o resultado do teste apontou três possibilidades o que é bem raro, significando que ela é na verdade uma divergente, alguém que não pode ser controlada e muito temida pelo governo. No dia da cerimônia, Caleb decide por Erudição e ela escolhe a Audácia. Seus pais ficam completamente surpresos e ela não tem tempo de se despedir seguindo juntamente com os iniciados.

Os membros da Audácia, iniciados e transferidos, não tem muito tempo para celebrar, pois logo começam os testes que irá mostrar quem serão os escolhidos no final. Aqueles que não passarem, irão se torna sem-facção. Muito esmirrada, Beatrice que agora atende por Tris, precisa se esforçar ao máximo para conseguir superar os outros, e principalmente a si mesma. Alvo fácil, Tris passará por duras provações até aprender a se erguer sozinha. Mas, é quando sua divergência começa a se destacar que os problemas se tornam realmente sérios.

E isso não chega a ser nem metade do primeiro livro. O universo criado por Veronica Roth é vasto, complexo, intrincado e humano. O fato de ser distópico não influencia na construção da história, tampouco dificulta do leitor se relacionar com a mesma. Posso afirmar que o grande trunfo desse livro se encontra em sua narrativa simples e direta, sem parar para enrolações, personagens desnecessários ou qualquer coisa do gênero. Não há tempo e por isso é tão difícil larga-lo antes de chegar a última página. Seus personagens são humanos, com falhas e qualidades que procuram sempre encontrar a melhor saída, assim como nós faríamos. Eles evoluem e se aprimoram conforme as páginas vão passando. A personagem principal, mesmo diante de inúmeras dificuldades, não se abate ou faz um drama enorme, incomodando a todos a sua volta, ou mesmo pedindo indiretamente que eles resolvam seus problemas. Não, ela é determinada e prefere encarar as adversidades de frente.

Mesmo que pareça simples, a trama criada por Roth é complexa e consegue surpreender a todos, pois quando pensamos que acabou ela vai e abre outra porta em Insurgente, apresentando novas situações, personagens, que mesmo tendo sido mencionados anteriormente, mal temos tempo de pensar neles, a não ser quando ela os trás de volta. E em Convergente, o último livro, quando as portas enfim se abrem por completo é que temos a noção real com o que estávamos lidando desde o início, fazendo com que nossas primeiras impressões da história, acabem mudando totalmente.

Veronica Roth é uma autora que conhece a fundo os personagens que criou e sabe que nem todos podem ter um final feliz. Impiedosa, mas justa, ela sabe o momento exato em que cada um cumpriu seu propósito e como e quando eles devem morrer o que me faz querer tirar o chapéu para ela, pois matar personagens não é apenas narrar que morreu, mas sim, dar a eles um final condizente com o apresentado até o momento e isso ela faz muito bem.

Portanto, não se deixe levar pelas inúmeras comparações a outras trilogias. Divergente é bem mais do que parece ser e surpreende, positivamente, a todos que se aventuram a ler. Foi um dos melhores livros que li em 2013.

Trilogia Divergente
Autora: 
Veronica Roth
Editora EUA: Katherine Tegen Books
Editora Brasil: Rocco
Páginas: Divergente (504 páginas), Insurgente (512 páginas) e Convergente (528 páginas).

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