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Crítica | Triplo X

por Guilherme Coral
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estrelas 1

Ao longo de seus mais de cinquenta anos de história, os filmes de James Bond geraram centenas de outras obras inspiradas no espião mais famoso do cinema, muitas das quais se espelharam na era de Roger Moore e os anos finais de Sean Connery, que colocaram 007 com inúmeros gadgets (vulgo mequetrefes), carros armados até os dentes, dentre outros adereços. Sim, desde Goldfinger já tínhamos alguns desses elementos, mas foi com Moore que o personagem se tornou um palhaço a tal ponto que foi necessário um disfarçado reboot para garantir seu renascimento na tela grande, através de Cassino RoyaleTriplo X vem como uma dessas muitas produções, que bebe da fonte dos longas baseados nos livros de Ian Fleming, dando uma nova roupagem à figura do espião.

Xander Cage (Vin Diesel) é um homem que faz de tudo: ele pula de paraquedas, anda de skate, snowboard, dirige carros a alta velocidade, dentre outras coisas que o fariam o material perfeito para um agente secreto, não é mesmo? Ao menos é isso o que acredita Augustus Gibbons (Samuel L. Jackson), um agente da inteligência americana que o obriga a servir seu país para não ser preso. Sua missão: se infiltrar em uma organização criminosa e descobrir quais os planos do vilanesco Yorgi (Marton Csokas), que aparentemente planeja utilizar uma arma biológica desenvolvida por cientistas russos (claro, pois a guerra fria ainda não havia acabado em 2002, os livros de História que estão errados).

De fato, Triplo X é simplesmente 007 com um homem forte, careca e tatuado, nada mais, visto que há até a presença de uma Bond Girl (no caso Cage Girl, embora a tradução passe uma horrorosa conotação). O problema de substituir o famosos espião que todos conhecemos por um outro é que a ausência de construção de personagem se torna evidente. Ninguém espera que um filme de James Bond nos conte quem é o protagonista, afinal, todos nós o conhecemos, mas quando esse é trocado por um qualquer o mínimo que poderíamos esperar é um conhecer um pouco dele, ao menos os eventos que transformaram ele no homem que vemos em tela, ao invés de simplesmente termos um personagem jogado no meio da trama com uma justificativa para lá de duvidosa.

A obra chega a herdar também os hilários exageros presentes no filme do espião inglês após Chantagem Atômica, visto que presenciamos Cage em sua moto voadora logo no primeiro terço da projeção. Falo hilários pois o negócio é tão mirabolante que não há como encarar tais cenas com o mínimo de seriedade, isso sem falar nos cenários que parecem, convenientemente, colocar uma rampa presente sempre que possível e impossível. Naturalmente, que o diretor Rob Cohen elevaria tudo à décima potência ao inserir algumas câmeras lentas nessas ocasiões, a fim de mostrar o quão semi-deus é o protagonista de seu longa-metragem.

Felizmente, apesar dos 124 minutos de projeção, o roteiro consegue fazer a trama progredir em um ritmo bastante fluido, tropeçando apenas no exageradamente prolongado desfecho. O problema maior está na não-atuação de Vin Diesel, que traz a mesma cara durante todo o longa e não consegue nos cativar com seu carisma. Aqui o vemos interpretar o mesmo papel de sempre: o cara “fodão” que fica se gabando de si próprio. Até tentam colocar no protagonista uma dose de bom moço através de sua preocupação com seu par feminino no longa, mas que definitivamente não soa como algo orgânico, visto que esse “romance” é simplesmente jogado em nossas caras e “construído” através de meia dúzia de olhares e diálogos que vão de mau a pior. Curiosamente, na maior parte da projeção, só queremos que ele exploda as coisas – aliás, tudo explode, até cabanas de madeira.

Dito isso, não podemos pensar em uma palavra que resuma Triplo X melhor que exagerado. Tudo aqui é colocado da maneira mais dramática possível, na tentativa de ostentar esse espião sem qualquer carisma. Evidente que se o espectador procura nada mais que um entretenimento descerebrado, com “tiro, porrada e bomba”, ele irá encontrar aqui, mas se quiser um filme de espião aos moldes de James Bond que seja, de fato, uma diversão mais bem pensada, sugiro que se atenham a Kingsman, ou, é claro, algum dos (bons) protagonizados pelo agente secreto mais famoso do cinema.

Triplo X (xXx) — EUA, 2002
Direção: 
Rob Cohen
Roteiro: Rich Wilkes
Elenco: Vin Diesel, Asia Argento, Marton Csokas, Samuel L. Jackson, Michael Roof, Richy Müller,  Werner Daehn, Petr Jákl
Duração: 124 min.

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