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Crítica | Truman (2015)

por Rodrigo Pereira
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É possível imaginar que a história do reencontro de dois amigos de infância que não se vêem há décadas e estão separados pelo oceano Atlântico será extremamente triste e melancólica? A resposta é “sim”, já que um deles está com câncer terminal e não lhe resta muito tempo de vida. A propósito, isso não é um spoiler.

Por sabermos que um dos personagens está morrendo desde o início do filme, o diretor espanhol Cesc Gay poderia ter dado um tiro no próprio pé, pois a trama corria o risco de não conseguir manter um nível de dramaticidade satisfatório ao longo das quase duas horas da película. Felizmente, tal preocupação não passa de devaneio e somos apresentados a uma intensa, pesada e emocionante jornada de um homem tentando encontrar a melhor maneira de aceitar sua condição e partir dessa vida, ao passo que tenta aproveitar seus últimos momentos com seu grande amigo.

O homem em questão é Julián (Ricardo Darín), um ator argentino que vive na Espanha e leva uma vida comum, com exceção de sua já citada enfermidade em estado avançado. Separado, solteiro de meia-idade e pai do jovem Nico (Oriol Pla), que mora e estuda em Amsterdam, Julián não é mais solitário apenas por causa da existência de Truman, seu enorme cachorro boxer e companheiro de longos anos com quem tem uma relação de extrema conexão e fidelidade. E Truman não está no filme simplesmente como uma forma de tocar seus espectadores, já que animais frequentemente conseguem amolecer e emocionar mesmo os corações mais rígidos, ele possui um porquê de estar ali.

A explicação aparece, essencialmente, em dois momentos do filme: no início, quando Tomás (Javier Cámara), o amigo de Julián, chega na Espanha; e no final, quando Tomás está no aeroporto voltando para casa. Logo após reencontrar seu grande amigo, Julián solicita a Tomás que leve Truman para dar um passeio enquanto se veste para saírem. Tal ato serve para demonstrar o quão amigos ambos são, pois Julián entrega seu amado companheiro para Tomás sem expressar nenhum tipo de medo ou preocupação (algo que o vemos fazer em alguns momentos posteriormente). Mais para o final do filme, após falhar em encontrar um novo lar para Truman, Julián resolve confidenciar à Tomás a tarefa de zelar por seu amado cão, já que não lhe resta muito mais tempo de vida, e o entrega para que vá morar com seu amigo no Canadá.

É evidente a importância do animal no longa, no entanto o melhor de tudo é perceber que há um propósito narrativo para ele. Mais do que evocar lágrimas em quem assiste os tristes momentos de separação de Truman e Julián, o cão mostra o quão próximos são os dois amigos ao mesmo tempo que, ao voltar com Tomás para o Canadá, é como se uma parte de Julián fosse junto com seu amigo. Amigos que ambos os protagonistas interpretam com extrema qualidade. Desde os momentos de diversão até as situações de divergências e brigas, tanto Darín quanto Cámara entregam ótimas atuações, tornando a relação totalmente verossímil e possibilitando que qualquer pessoa que possua uma grande amizade com outrem possa se identificar com a tocante história.

Tecnicamente, o destaque vai para a fotografia de Andreu Rebés. Entregando belas cenas, a principal virtude de sua execução é a iluminação especial na linha do protagonista, na qual ressalta o estado de saúde de Julián. Numa cena na funerária, por exemplo, Julián está sentado em um sofá e é iluminado por uma forte luz que entra pela janela, dando claramente a impressão de que o “lado divino” está abrindo suas portas para receber o ator.

Apesar do roteiro simples e até meio previsível em alguns momentos, Cesc Gay entrega uma obra muito coesa e bem acabada, que trata de um tema delicado e pouco discutido como a morte de forma totalmente madura e humana. Contando, também, com excelentes atuações, Truman é um ótimo filme que emociona ao mesmo tempo que diverte quem assiste. Uma grande obra.

Truman — Argentina, Espanha, 2015
Direção: Cesc Gay
Roteiro: Cesc Gay, Tomàs Aragay
Elenco: Ricardo Darín, Javier Cámara, Dolores Fonzi, Eduard Fernández, Troilo, Alex Brendemühl, Pedro Casablanc, José Luis Gómez, Javier Gutiérrez, Elvira Mínguez, Oriol Pla, Nathalie Poza, Àgata Roca, Susi Sánchez, Francesc Orella
Duração: 108 minutos

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