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Crítica | Truque de Mestre: O 2º Ato

por Luiz Santiago
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Um filme com Harry Potter, Lex Luthor, Alfred, Lucius Fox e Hulk no elenco merecia um melhor rumo.

Em Truque de Mestre (2013), havia uma grande diferença entre a primeira e a segunda parte da fita. Ela começava muitíssimo bem, divertida e inteligente, mas terminava insossa, após mudar, no meio, o foco central do roteiro, saindo de uma espécie de gangue de Robin Hoods mágicos para uma perseguição policial enjoativa com elementos de vingança arquitetada a longo prazo. A frustração era intensa, dado o começo muito bom, mas o espectador se divertia muito pelo menos metade da obra. Já aqui em Truque de Mestre: O 2º Ato (2016), o filme se mantém em um nível menor o tempo todo, entretendo em um ou dois momentos pela inventividade das gags, mas jogando errado o jogo do “enganei vocês”. O resultado? Uma obra ruim baseada em uma ideia boa e isolados momentos competentes.

Dirigido por Jon M. Chu e também com alteração na equipe de roteiro (Ed Solomon assina o texto sozinho desta vez, concebido a partir dos personagens criados com os parceiros do filme de 2013 e de uma história que desenvolveu com Pete Chiarelli), este 2º Ato funciona parcialmente como um espetáculo de mágica, mas se desvia tanto do mistério por trás do Olho, aludido no filme anterior, quanto do verdadeiro foco da fita, que deveria criar mágica por um motivo que caracterizasse os personagens pelo que são — mesquinhos, anti-heróis, politicamente incorretos — não escancará-los como arautos de uma justiça social que não se tem por meios legais. É forçar demais a barra aí.

O ponto de partida já é bastante frágil, porque não existe uma ligação coesa e bem inserida no roteiro (exposição en passant não é uma coisa nem outra) para a ausência da personagem de Isla Fisher, que não pode assinar o contrato para esta continuação devido a gravidez já avançada. Em seu lugar, temos a divertida Lula (Lizzy Caplan), que faz uma entrada triunfal — assim como o personagem de Daniel Radcliffe –, mas fica completamente perdida no meio dos outros mágicos, porque sua inserção não possui necessidade alguma. O roteirista percebeu isso e viu que era um problema, criando diálogos encaixados e forçados para que a própria Lula justificasse, ironizasse e brincasse diante de sua presença no grupo, como se a repetição de que ela fazia parte dos Cavaleiros convencesse o espectador de que aquilo era algo bom, orgânico e que funcionava a contento. Bem… não funcionou.

Como não existe um elemento sólido para dar início a esta nova aventura — só alguém muito ingênuo ou realmente com o cérebro desligado comprou de bom grado o mote “tenham paciência, o Olho em breve terá uma nova missão para vocês” –, o texto de Solomon aposta na total e deslocada suspensão da nossa descrença, empilhando cenas de revelações e “desrevelações” como curativo para um roteiro sem força, que se vale unicamente da solidez de alguns personagens e situações do filme anterior para criar seus motivos e impulsionar uma história de pouco mais de duas horas de duração. Neste ponto, é válido perguntar: qual a justificativa para a existência do personagem de Daniel Radcliffe? Qual a necessidade de uma exposição professoral sobre o Olho e seu QG (ou apenas um deles?) no final? Qual a lógica por trás da revelação para o papel de Morgan Freeman nessa saga? Culpa? Medo? É sério que Ed Solomon pensou que tais linhas dramáticas sustentariam um ato como aquele?

O que vale a sessão são momentos em que nos divertimos vendo mágicas acontecerem dentro de algo que tenha um princípio verdadeiro na obra. Aí entra, claro, toda a excelente sequência em que eles precisam roubar uma certa coisa — o elenco nunca estava tão bem conectado como neste momento. Ali está não só o melhor trabalho da direção de Jon M. Chu, como o melhor trabalho do roteiro de Solomon e a melhor parte da edição de Stan Salfas, que é de fato um bom editor, mas não faz aqui o seu melhor, considerando o produto por inteiro.

Já a fotografia de Peter Deming é o melhor ponto técnico da obra. Ele não tem as “mãos de espetáculo” da dupla de fotógrafos do filme anterior, mas faz tomadas e iluminações muito boas, dentro daquilo que o filme pede e precisa. Seu trabalho em externas aqui é o seu calcanhar de Aquiles, mas nada que denote um mal trabalho, apenas algo menor em comparação aos espaços internos (a loja de Li e sua avó e a cena do roubo são o grande destaque) ou a espaços externos apertados, como a divertida cena na feira em uma rua sem saída.

Na reta final, o espectador é jogado com toda a força para um texto megalomaníaco. Na ânsia de surpreender e ser “o roteiro inteligente” da vez, Solomon usou e abusou de revelações, atalhos e afluentes emotivos para os Cavaleiros, quase dizendo que o Olho são os Illuminati e tornando mística uma experiência que no início era apenas um truque bem feito, algo divertido e um pouco ilegal que tinha sua graça justamente por serem essas coisas.

A evolução desse patamar para um tablado de “verdades para o mundo” faz dos Cavaleiros um grupo de mágicos afastados do sentido do primeiro filme, terminando com um tipo de revelação que por pouco não nos convida a embarcar na viagem de Malick em A Árvore da Vida. Porque se for para ver algo de “mistérios que estão em todos os lugares e não vemos“, é preferível ver isto em sua forma mais intensa e coerente com o que prega. Só falta haver uma Catedral de Mágicos e um grupo de fanáticos pregando a salvação pela magia na continuação — sim, haverá uma continuação! — deste filme. Quem sabem não acertam na terceira vez?

Truque de Mestre: O 2º Ato (Now You See Me 2) — EUA, 2016
Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Ed Solomon
Elenco: Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Dave Franco, Daniel Radcliffe, Lizzy Caplan, Jay Chou, Sanaa Lathan, Michael Caine, Morgan Freeman, David Warshofsky, Tsai Chin
Duração: 129 min.

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