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Crítica | Turma da Mônica – Laços

por Luiz Santiago
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Todo jovem ou adulto já sofreu os doces e amargos efeitos da nostalgia. Em tempos de internet e redes sociais, temos constante acesso a imagens, músicas, fotos que nos lembram momentos muito queridos do passado, momentos que parecem ganhar novas cores, como uma aquarela constantemente retocada. Assim, brinquedos, personagens e quadrinhos da nossa infância são vistos com um carinho redobrado, um misto de reconstrução parcial de alguns minutos do passado.

Como a maioria das crianças brasileiras nascidas nos anos 80, eu cresci lendo as revistas da Turma da Mônica. Cebolinha e o Louco eram os meus favoritos, assim como as revistas do Chico Bento, e as histórias da Turma do Penadinho ou as tiras/páginas do Horácio. O tempo me fez distanciar da Turma, especialmente na vida adulta, quando entendi e rejeitei o despotismo do Mauricio em relação aos artistas da TM, algo que me incomoda profundamente. Mas nunca deixei de gostar de suas personagens, portanto, foi com uma alegria imensa que recebi o projeto MSP 50 e mais ainda, o projeto Graphic MSP. Ver liberdade artística atrelada a personagens tão queridos da infância era algo que não só eu, mas creio que muitos leitores esperavam. Então veio Astronauta: Magnetar, e em seguida, esta maravilhosa Laços.

A história contada pelos irmãos Cafaggi é um típico conto da turminha, só que estendido e com uma ameaça bem maior. Talvez por esse motivo a trama não seja assim tão indicada para o público infantil. Não que a inocência das personagens tenha se perdido e outras configurações psicológicas tenham sido inventadas pelos autores. Nada disso. Os Cafaggi deixam intocáveis a alma da Turma, mas o perigo e o forte toque familiar e fraterno do álbum não vai ser totalmente compreendido por crianças.

lacos turma da monica

Cascão de moicano, Cebolinha com esses fantásticos fios de cabelo e Mônica e Magali no controle da situação, observando um plano de resgate nascer.

Num trabalho narrativo em três ciclos históricos, os autores criam pontes entre a primeira infância do Cebolinha e a adolescência da Turma já formada. Em primeiro lugar, vemos ele ainda bebê ganhando o Floquinho de presente; depois pulamos para o desaparecimento do Floquinho já na adolescência do garoto, como parte da Turma; e depois temos um epílogo com todos eles na pré-escola, em cantos diferentes da sala de espera, na hora da saída. O Floquinho volta a aparecer nesse momento e é o motivo da reunião dos quatro futuros amigos. O primeiro encontro de uma vida toda.

Um forte sentimento de amizade e união familiar pode ser observado nessa Graphic Novel. A aventura tem até ares cinematográficos e traz alguns pequenos espaços de ação e perigo para o grupo que lembram filmes desse tipo para crianças, tipo Os Batutinhas, mas nunca se desviando do objetivo principal. Da abertura até o desfecho da narrativa principal, vemos cada um dos protagonistas receberem a devida atenção no roteiro e agirem exatamente como sabemos que agiriam: o Cebolinha com seus planos infalíveis, o Cascão sempre pronto para fazer coisas heróicas e sempre um fã do melhor amigo, a Mônica brava e a Magali com fome. Até as pontas do Titi, Xaveco e Denise se localizam bem na história, o que traz maior amplitude cênica para o Limoeiro e não isolam o grupo principal num mundinho só deles. Temos até uma “turma inimiga” aparecendo na história!

O trabalho artístico dos Cafaggi é simplesmente incrível. Eu já comentei da concepção temporal da dupla para o roteiro, e devo dizer que a arte dos dois acompanham muito bem essas mudanças. Até o tratamento em sépia na introdução e no epílogo tem características diferentes de quadro e envelhecimento. O modelo de “fotografia velha” para a moldura/página é o mesmo, mas os traços dos desenhos, o granulado e o tom de envelhecimento muda, obedecendo a timeline das crianças.

lacos turma da monica mauricio de souza

O bebê Cebolinha ganha o Floquinho.

Essa mudança pode ser observada no miolo da história através do incrível trabalho de cores realizado por Vitor Cafaggi e Priscila Tramontano. Como os eventos da busca pelo Floquinho duram 3 dias, já é de se esperar que as variações entre dia e noite sejam as mais complexas, simplesmente porque elas não acontecem no mesmo lugar, logo, foi preciso imaginar vários focos de luz e um tipo de “luz-ambiente” para cada cenário em geral ou conjunto de quadros, algo que qualquer pessoa minimamente familiarizada com arte sabe que não é fácil de fazer, mesmo no computador. Nesse caso a questão não é a aplicação e sim a concepção. Do contrário, teríamos aqueles quadros chapados e ausência total de meios-tons e outras sutilezas aqui observadas. E vale ainda citar que no meio dessa história tem uma espécie de flashback, vindo de um relato da Mônica, contando uma história do seu pai. Assim como no início e final do livro, o “modelo polaroide” é utilizado, mas com outra característica de traço e arte-final, obedecendo a variação artística dos autores para cada espaço-tempo.

Laços foi uma história que pegou muita gente de surpresa. Como a história do Astronauta não foi recebida com muito calor pelo público, alguns tinham um pé atrás em relação ao que iam encontrar no lançamento seguinte da Graphic MSP, mas o que encontraram foi um pedaço da infância desenhada e roteirizada com primor e sentimento. O restante pode ser explicado pelo sorriso, pelos batimentos cardíacos acelerados ou pelas lágrimas dos leitores após a última página.

Turma da Mônica – Laços – Brasil, 2013
Graphic MSP #2
Roteiro: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi
Arte: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi
Cores: Vitor Cafaggi e Priscila Tramontano
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 82

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