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Crítica | Twin Peaks – The Return: Part 4

por Luiz Santiago
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A aparência desta Parte 4 da 3ª Temporada de Twin Peaks é de uma maior solidez se comparada à viagem dimensional do capítulo anterior. Mesmo com um amontoado de pistas — algumas deixadas para melhor aproveitamento futuro, como o fato de Cooper ver, no satélite, os números 3 e 15 e a chave do quarto de hotel de Twin Peaks que ele tem no bolso conter o número 315; ou mesmo a apresentação do coelho como símbolo agregado a esta miríade de duplos que surgem na série –, o capítulo três permaneceu com uma esfera fortemente etérea, algo que se dissipa no presente episódio. O roteiro busca estabelecer laços entre os muitos mundos e dá indícios do que poderia ser a “Rosa Azul” (o código para os casos secretos de Gordon na série — possivelmente ligado ao Project Blue Book, administrado pelo Major Briggs e por Windom Earle na série original).

Duas principais coisas são mostradas aqui. A primeira, a adaptação de Cooper/Dougie/Sr. Jackpots no mundo moderno, após 25 anos no Black Lodge. A segunda, peças de diferentes investigações que de alguma forma estão conetadas ou farão as pessoas se conectarem. Volto a insistir que a aparente aleatoriedade das coisas é apenas uma distração. As Forças do Mal e BOB não passaram este tempo inteiro adormecidas. Por um tipo de regra cósmica, tudo isso precisava de um prazo para acontecer (os 25 anos citados por Laura Palmer em Além da Vida e da Morte), mas uma série de cosias postas em andamento alguns anos antes chegam a este ponto em um estágio que expõe Cooper a um verdadeiro perigo. Segundo o Homem de Um Braço, ele foi enganado. Ao que tudo indica não era Dougie que deveria ir para o Salão Negro, mas o Sr. C/Bad Cooper.

Este ponto do episódio me fez pausar um pouco e fazer uma série de anotações sobre o que sabemos de cada uma dessas personas ligadas à face de Kyle MacLachlan até agora. Se não era para Dougie ir embora, então o representante de Cooper no mundo é o Sr. C? E se a resposta para esta pergunta for afirmativa, qual é a de Dougie, então? Existe outra cópia ainda não apresentada, na jogada? Me chama muito a atenção o fato de exatamente esta versão ter o anel verde com a inscrição da Caverna da Coruja, o mesmo anel que passou por outros personagens da série como o Homem de Outro Lugar (que muito provavelmente é hoje a Árvore da Evolução do Braço de MIKE); Phillip Jeffries e Teresa Banks (personagens de David Bowie e Pamela Gidley em Os Últimos Dias de Laura Palmer); e Annie (personagem de Heather Graham, o interesse romântico de Cooper na 2ª Temporada).

Os muitos conceitos de identidades possíveis estão entre os verdadeiros encantos deste início de série, que mais uma vez nos convida para espiar o lacaniano modelo do indivíduo versus o seu espelho, sobre o qual o leitor pode ler aqui. A família de Dougie também não é exatamente normal, o que nos deixa atentos para o fato de serem armações de BOB para Cooper ou parte dos “ajudantes” plantados por MIKE e outras Forças em nosso mundo. Naomi Watts volta a trabalhar com Lynch e interpreta um papel interessante. Ela está ligada a uma cópia de uma pessoa e com uma sacola de dinheiro nas mãos. Os sininhos do glorioso Cidade dos Sonhos já começaram a badalar na cabeça de vocês? E falando em Cidade dos Sonhos, o diretor de fotografia Peter Deming realmente importou muito do clima daquele longa para este episódio. O “crepúsculo azul” entre Gordon e Cole, além de marcar um excelente diálogo, evoca a cena de imersão melancólica no Club Silencio, da mesma forma que toda a preocupação de MIKE em guiar Cooper neste mundo me lembra bastante o mestre de cerimônias/mágico daquele lugar, cuja frase é uma chave para decifrar da realidade, mas que à primeira vista, não percebemos: “NO HAY BANDA!“.

A grande pergunta é: estamos caminhando para um transe ou acordando de um, para a realidade? Ou estamos tendo flashes desses dois momentos ao mesmo tempo? Acredito que as duas coisas estão caminhando juntas aqui e até mesmo a resolução das coisas irá acontecer com esse trânsito entre realidades, lugares e tempos. Peguemos como exemplo dessas interações a hilária e poética citação do Darma que Wally Brando faz para o Xerife Truman, irmão do Xerife Truman. Ou aquela que, para mim, é a melhor cena da série até o momento, a melodramática, bela e humana cena com Bobby (Dana Ashbrook está incrível!), agora um policial, vendo a fotografia de Laura Palmer e caindo no choro, sendo acompanhando pelo tema clássico de Angelo Badalamenti. Que cena poderosa!

É nesse tráfego entre realidades, tempos e forças do Bem e do Mal se enfrentando que rondamos, por enquanto, totalmente às escuras. Mesmo com algumas dificuldades narrativas nas Partes 3 e 4, esse caminhar às cegas tem sido uma experiência e tanto. Pelo visto, o Fogo anda conosco.

Twin Peaks – The Return (3ª Temporada): Part 3 (EUA, 29 de maio de 2017)
Direção: David Lynch
Roteiro: Mark Frost, David Lynch
Elenco: Kyle MacLachlan, Jane Adams, Dana Ashbrook, Chrysta Bell, Brent Briscoe, Michael Cera, Richard Chamberlain, David Dastmalchian, David Duchovny, Miguel Ferrer, Robert Forster, Pierce Gagnon, Brett Gelman, Harry Goaz, James David Grixoni, Michael Horse, Stephen Kearin, Dep Kirkland, Jay Larson, Sheryl Lee, Karl Makinen, James Morrison, Sara Paxton, John Pirruccello, Linda Porter, Kimmy Robertson, Al Strobel, Ethan Suplee, Sabrina S. Sutherland, Jodi Thelen, Naomi Watts, Heather D’Angelo
Duração: 56 min.

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