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Crítica | Twin Peaks – The Return: Part 7

por Luiz Santiago
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Desde o seu retorno, Twin Peaks não apresentou um episódio tão “pé no chão” como foi esta Parte 7. E desde a dobradinha de estreia, as partes 1 e 2, não trouxe um episódio com qualidade tão grande. Pela primeira vez nesta 3ª Temporada, temos o diretor David Lynch e o co-roteirista Mark Frost fazendo um mergulho de corpo completo na essência dos anos 90 do programa, talvez o primeiro momento em que os saudosistas mais fechados tenham encontrado um “abrigo dramático” na nova série, o que é perfeitamente compreensível, embora me perturbe um pouco a falta de paciência de alguns fãs e a neurótica necessidade de querer que todas as coisas tenham explicação imediata. É como se uma parcela ainda não tivesse entendido que estamos assistindo a uma série do diretor de Eraserhead, Veludo Azul e Estrada Perdida.

Focado em estabelecer o andamento de uma boa quantidade de mistérios deste ano — e não exatamente em apresentar novas interrogações, se bem que coisas novas, como o homem que Andy deveria encontrar em uma estrada, duas horas depois, seja algo para perseguirmos –, este capítulo engloba as principais pistas desta nova fase e retorna ao sempre instigante mistério do Diário Secreto de Laura Palmer, com Hawk e Frank, em uma cena plácida, mostrando para o público uma parte do conteúdo e falando algo que aconteceu no passado, quando Leland achava que seria preso e escondeu as páginas no banheiro da delegacia. É evidente que Lynch e Frost esperaram até o miolo da temporada para começar a dar nuances sólidas dos rumos para a nova série, mas eu não imaginei que viesse em algo assim tão bojudo e tão bem arquitetado como foi aqui. Sem deixar de lado o ponto sombrio e simbólico do show, a Parte Sete traz mais Twin Peaks (a cidade) e mais drama investigativo do que apenas viagens interdimensionais e ações surreais.

Para terror de alguns, é estabelecido em definitivo o Bad Cooper (Sr. C), que anda com BOB no corpo; algo que, para alguns, já tinha ficado claro, mas que ainda gerava dúvidas em discussões sobre os duplos deste personagem nessa Terra — particularmente acho que essa parcela de fãs não assistiram ao segundo episódio com atenção –. A conversa que o Xerife Frank Truman tem com Doc Hayward (Warren Frost, pai de Mark Frost, falecido em fevereiro deste ano) também estabelece o óbvio momento em que isto aconteceu, o que nos leva de novo para o último episódio da 2ª Temporada, Além da Vida e da Morte. A ligação entre passado e presente está cada vez mais forte e a atmosfera que lembra Arquivo X dá piscadelas para o espectador, vide Jerry Horne chapado na floresta. Sem contar que Dougie mantém um mistério no andamento de sua história. Uma hora, ele está apenas rabiscando e parece cada vez mais alheio ao mundo. Em outra, para utilizar a fala de uma das testemunhas oculares, ele “se move como uma cobra” e desarma o anão que deveria assassiná-lo. Será que ele acorda agora? A aparição da Árvore da Evolução do Braço indica um papel maior nisso tudo?

A montagem aqui é eficiente na ligação entre os blocos, e exceto pela sequência com a chateante Naomi Watts respondendo aos detetives sobre o carro, cada sequência possui uma duração bem pensada, além de trazer um interessante mosaico de lugares que às vezes nos deixa confusos, mas que é perfeitamente possível ser entendido com um pouco de organização de pensamento e boa vontade do espectador. Sem facilitar, mas também sem complicar a trama que já é um puro enigma, o roteiro deste episódio quase resolve as primeiras ações dentro dos núcleo dramáticos, iniciando a jornada que fará o Sr. C encontrar-se com Cooper ou pelo menos tentar fazer algo para matá-lo e manter a sua presença maculada na Terra. Sabemos que ele está fugindo das forças do Black Lodge e que sabe muito bem que existe uma série de novas ordens em andamento. O movimento que ele fez para sair da prisão aqui é um exemplo definitivo disso.

Os temas de Angelo Badalamenti tem sido filtrados para ações específicas nesta nova versão e, até agora, apenas uma grande cena da série nos trouxe sua força clássica, quando Bobby (que deveria aparecer mais vezes, embora a gente saiba que ele está trabalhando no controle da fronteira) vê a foto de Laura Palmer e se emociona, na Parte 4. Mas aqui, um dos temas de Badalamenti surgem na cena do bar, com a revelação de mais um descendente da família Renault, agora, o Sr. Jean Michel. E na linha de revelações, descobrimos que o corpo encontrado na estreia corresponde (até que se diga o contrário) ao Major Briggs, embora a idade não combine — lembram da cabeça flutuante (decepada) lá da Parte 2? –; além da possibilidade de o Great Northern Hotel esconder alguma coisa referente a Cooper. Com a volta de Diane e o grande momento dela diante do Sr. C, junto com um pavimentar muito maior de caminhos de investigação na série, a Parte 7 desta temporada é uma verdadeira pausa para respirar e entender melhor a linha que entrelaça tudo. Diga-se de passagem, nós realmente precisávamos disso.

Twin Peaks – The Return (3ª Temporada): Part 7 (EUA, 18 de junho de 2017)
Direção: David Lynch
Roteiro: Mark Frost, David Lynch
Elenco: Kyle MacLachlan, Jane Adams, Stephanie Allynne, Mädchen Amick, Chrysta Bell, Richard Beymer, Brent Briscoe, Larry Clarke, Laura Dern, Hugh Dillon, Ted Dowling, Judith Drake, Eric Edelstein, Miguel Ferrer, Rebecca Field, Robert Forster, Warren Frost, Ivy George, Harry Goaz, George Griffith, Andrea Hays, Michael Horse, Ernie Hudson, Jesse Johnson, Ashley Judd, David Patrick Kelly, David Koechner, James Morrison, Don Murray, Walter Olkewicz, Adele René, Naomi Watts
Duração: 58 min.

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