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Crítica | Um Dia nas Corridas

por Luiz Santiago
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Seguindo o enorme sucesso de Uma Noite na Ópera (1935), os irmãos Marx deram à MGM uma outra grande comédia, o mais longo filme que fizeram e o único a receber uma indicação ao Oscar, Um Dia nas Corridas (1937).

A história acompanha a passagem do doutor Hugo Hackenbush (Groucho) pelo Standish Sanitarium, que estava para passar das mãos de uma jovem administradora para a de um grupo de empresários interessados em transformar o lugar em um Cassino. Aqui juntam-se os elementos mais comuns das comédias dos Marx, o “problema insolúvel”, o romance e o encontro do trio protagonista quase que por acaso.

Talvez por ter tido um grande número de roteiristas e uma produção complicada, havendo demissões e recusa da MGM em creditar Al Boasberg como um dos autores do texto, é natural que haja inconstâncias na narrativa da fita. Isso não justifica as falhas, mas nos ajuda a entender sua origem e dar maior crédito aos acertos da direção e do trabalho de Groucho, Chico e Harpo Marx, que é simplesmente maravilhoso. Ao importar números de suas turnês de vaudeville, eles conseguiram um resultado além de positivo, bastante inovador para o cinema, não fazendo feio frente aos grandes da comédia americana com bom uso de gags como Keaton, Lloyd e Chaplin.

O que chama a atenção aqui é a naturalidade com que a comédia é estabelecida dentro do mais improvável cenário e sob condições bem diferentes. Observe como cada um dos irmãos guia personagens completamente diferentes (sendo um deles, o de Harpo, mudo) e em perfeita sintonia um com o outro. A cena em que Dr. Hackenbush e Tony negociam uma aposta para a corrida de cavalos é uma das mais notáveis nesse quesito. A repetição de certas frases ou palavras é feita na medida certa e até o limite onde ela ainda é engraçada, situação que volta ao filme em outra sequência, no encontro romântico do doutor e o ping pong Thank you! Thank yo!.

A maior falha do filme, no entanto, não está na frágil linha do romance ou na implicação de um drama (a questão do Sanatório) que não se sustenta como tal — o que é compreensível, porque estamos falando de uma comédia com traços de vaudeville — mas sim na incursão de cenas de musical de maneira solta e pouco orgânica no decorrer da história. Ao contrário de Uma Noite na Ópera, onde os números musicais eram parte da trama, aqui, poucos são os momentos em que a música aparece como algo necessário. O melhor e mais bem localizado desses momentos é a noite em que Gil (Allan Jones) se apresenta. A sequência é longa e marcada por admiráveis (embora simples) efeitos especiais ligados às coreografias, que também são excelentes. O bloco é coroado com a imbatível cena de Harpo Marx ao piano e em seguida, com harpa.

Um Dia nas Corridas é uma bem vinda mistura de gêneros cinematográficos encenada pelos irmãos Marx e com ótima direção de Sam Wood. O número final de corrida de cavalos é bem orquestrado e recebe uma montagem precisa de Frank E. Hull, que jamais cansa o espectador. O longa foi muitíssimo bem recebido pelo público e desde o seu lançamento consta na lista das melhores produções dos irmão Marx, conquistando, anos depois, os integrantes do Queen, que resolveram nomear, mais uma vez, um de seus álbuns com o título de um filme dos comediantes americanos. Como se vê, nem os deuses do rock resistiram aos encantos dessa fantástica comédia.

Um Dia nas Corridas (A Day at the Races) — EUA, 1937
Direção: Sam Wood
Roteiro: Robert Pirosh, George Seaton, George Oppenheimer, Al Boasberg, Leon Gordon, George S. Kaufman
Elenco: Groucho Marx, Chico Marx, Harpo Marx, Allan Jones, Maureen O’Sullivan, Margaret Dumont, Leonard Ceeley, Douglass Dumbrille, Esther Muir, Sig Ruman, Robert Middlemass, Vivien Fay
Duração: 111 min.

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