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Crítica | Um Suburbano Sortudo

por Leonardo Campos
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Rir pelo estereótipo é um dos caminhos mais fáceis do humor. Na comédia stand up é quase uma muleta. Como disse certa vez um comediante desta modalidade, o dia não está bom, ninguém da plateia está rindo, basta tocar no estereótipo e/ou na caricatura para arrancar algumas risadas. É com esta premissa que Um Suburbano Sortudo teve o seu relativo sucesso nas salas de cinema do Brasil, tendo em mira flertar com alguns clichês comuns ao universo do que se convencionou chamar de “gente pobre”, “classe C” ou “classe emergente”.

Roberto Santucci, de maneira muito inteligente, capitalizou em torno das comédias para se estabelecer dentro do círculo de produção industrial cinematográfica. Depois das parcerias com Ingrid Guimarães e Leandro Hassum, ambas ligadas, salvas as devidas proporções, a questões como ascensão social e o desenvolvimento econômico do brasileiro, foi a vez do cineasta trabalhar com Rodrigo Sant’anna, outra “febre” da comédia contemporânea.

A trama é comum: um homem humilde, que trabalha como vendedor ambulante, descobre que é herdeiro de uma fortuna. O que diferencia este de outros tantos filmes sobre o assunto? A forma como é desenvolvida por seu protagonista, o talentoso Rodrigo Sant’anna, ator que nesta trama, infelizmente, não consegue se desvencilhar da caricatura. Com apoio dos já mencionados, de alguns elementos da escatologia e da caricatura da classe C já proposta há algum tempo pelas infames telenovelas da Rede Globo, o filme aposta no riso fácil e em alguns momentos até consegue ser bem sucedido.

Há as cenas exageradas da relação entre pobreza e riqueza, luxo e miséria, um par romântico com a atriz Carol Castro, bem como cenas empolgantes para o público já acostumado com a dieta das comédias brasileiras contemporâneas, eixo de produção que em sua maioria, não produz nada que esteja desconectado do caricato para promover gargalhadas.

No que tange aos aspectos críticos, a trama até esboça um discurso político sobre um dos temas mais polêmicos do Brasil recente: o ódio da classe média alta e da elite em relação ao compartilhamento de espaços em aeroportos, restaurantes, etc. Como dito certa vez, “viajar para os Estados Unidos já não é mais interessante, pois você pode encontrar o porteiro de férias por lá”. Discursos como estes, cada vez mais comuns com a popularização de determinados espaços sociais estão presentes em Um Suburbano Sortudo, mas toda vez que há a possível discussão consistente, a narrativa se esquiva.

Ademais, é preciso destacar a constante necessidade de relação entre cinema brasileiro e televisão, uma troca que garante o bom desempenho nas bilheterias. A estratégia no campo da economia pode ser interessante, mas às vezes perde em qualidade, pois o humor do filme acaba se espelhando no agonizante riso forçado de programas cretinos como Zorra Total.

O que resta para o público é a velha e boa garimpagem, afinal, cinema brasileiro de qualidade é o que não nos falta, e como podemos observar nas lições deixadas por Molière, Shakespeare, Woody Allen, entre outros, nem sempre fazer a crítica pelo riso é destinar-se ao discurso medíocre, pois para quem sabe fazer, a comédia pode ser redentora, o que não é o caso de Um Suburbano Sortudo, obviamente, pois como fenômeno industrial e sociológico, a trama rende discussões constantes, mas no campo da estética fica com saldo negativo abaixo da linha da miséria artística.

Um Suburbano Sortudo — Brasil, 2016
Direção: Roberto Santucci
Roteiro: Roberto Santucci
Elenco: Carol Castro, Cláudia Alencar, Guida Vianna, Rodrigo Sant’anna, Stepan Nercessian, Victor Leal
Duração: 110 min

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