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Crítica | Valérian e Laureline: O Império dos Mil Planetas

por Luiz Santiago
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Depois de três aventuras na Terra em momentos históricos diferentes, Pierre Christin e Jean-Claude Mézières resolveram voar para longe e trazer ao público uma história totalmente passada em outro planeta, em outro Sistema. Publicado entre as edições #520 a 541 (23 de outubro de 1969 a 19 de março de 1970) da revista PiloteO Império dos Mil Planetas é um arco encantador, em diversos sentidos.

A história já começa com o andamento de uma ação de exploração. Valérian envia o seu 4º relatório para Galaxity. Ele e Laureline estão a caminho de Syrte-a-Magnífica, o planeta-capital do Império dos 1000 Planetas. Rapidamente, o autor nos fala do Palácio Imperial e suas condições de segurança máxima, impedindo a população de acessar o lugar; dos misteriosos e temidos Sábios; do grande mercado e da Liga de Mercadores de Syrte, com produtos fantásticos como “Schamils do Planeta Glimius; Pedras Vivas de Arphal; raríssimos Spiglics Telepatas de Bluxte” e mais alguns quadros de contexto geográfico e de organização do planeta para então voltarmos aos agentes espaço-temporais e entendermos sua missão.

Todas essas informações iniciais são preciosas para o andamento da história, evitando que haja explicações didáticas ou acontecimentos que o leitor possa questionar, por não entender como funcionam as coias no planeta. Claro que não existe tempo para explicar tudo, mas a apresentação do básico torna qualquer ação mais coerente e serve como gancho dentro da própria história, como as informações sobre a liberdade de se aportar e sair de Syrte; a floresta; os isolados templos dos Sábios; a perigosa Marcyam (serpente d’água de cor azul cuja pele tem um alto valor no mercado) e a exposição que a arte nos faz das diversas espécies, roupas, cultura e condições sociais.

Valérian e Laureline plano critico O Império dos Mil Planetas

Excelente apresentação geográfica e social de Syrte-a-Magnífica.

Adotando de vez o caminho da space opera e não se prendendo apenas na temática da viagem temporal + paradoxos vistos nos álbuns anteriores, Christin teve a oportunidade de mostrar a dupla de agentes lidando com os problemas de maneira mais agressiva, incluindo também grandes batalhas e acordos com nativos que acabam englobando muita gente. O maior destaque neste ponto é a relação que Valérian e Laureline têm com Elmir, o Mestre da Guilda de Comércio, que tem apoio dos planetas vizinhos e guia, ao lado dos jovens, a derrubada dos Sábios, percebendo depois que o povo entrava em uma revolução contra a ordem vigente e, como qualquer bom comerciante, já pensava em tirar vantagem daquilo, de como era possível comprar e vender produtos, cargos e pessoas nesta nova versão social que a população de Syrte estava colocando no poder.

Durante a guerra, somos presenteados com belos painéis de naves dos planetas apoiadores da causa de Elmir. Em uma aplaudível diagramação de uma página, mostrando os esforços de guerra, vemos características de Glam, um planeta-floresta; Murmyl, lugar dos maiores arquitetos da Galáxia; Mintel, uma poderosa base industrial; Simius e Slomp, um asteroide remoto com uso de trabalho escravo. O texto é totalmente integrado com questões sociais que conhecemos muito bem em nosso dia a dia e que podem ser vistas misturadas à fantasia e ao sci-fi nesta saga. Outro ponto interessante é que tanto na riqueza do Universo quanto na inventiva arte da aventura, temos imagens que nos mostram de onde a equipe de criação artística de Star Wars tirou dezenas de referências visuais, principalmente na cena em que Valérian é interrogado pelos Sábios, remetendo-nos imediatamente ao congelamento de Han Solo em carbonita, no Episódio V.

Deixando de lado o pequeno sabor anticlimático que a cena final da trama nos coloca, este primeiro contato de Syrte com habitantes da Terra, a abertura para comércio com outros planetas e a derrocada de um temoroso regime que então se estruturava garantem a alta qualidade da história, não apenas divertindo e encantando com tantas imagens, como também fazendo o leitor pensar, dar palpites de como organizar o melhor planeta e tornar o Império ainda maior. Ninguém resiste à tentação de se tornar também um agente espaço-temporal ao ler os arcos de Valérian e Laureline.

Valérian e Laureline: O Império dos Mil Planetas (Valérian et Laureline: L’Empire des mille planètes) — França, outubro de 1969 a março de 1970
No Brasil: Valérian Integral N°1 (Edição Especial – Sesi-SP Editora, 2017)
Roteiro: Pierre Christin
Arte: Jean-Claude Mézières
Cores: Évelyne Tranlé
45 páginas

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