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Crítica | Vampiro Americano – Vol.2

por Daniel Tristao
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Estamos agora em 1936, Las Vegas, uma década marcada nos EUA pelas consequências da então recente crise de 1929. Onze anos após os acontecimentos do primeiro volume de Vampiro Americano, acompanhamos o chefe de polícia Cash McCogan, um policial linha dura que tenta manter em ordem uma cidade que começa a ficar famosa pelos jogos ilegais, prostituição e vários outros crimes, que parecem ser as principais atividades econômicas do local. Cash agora investiga brutais assassinatos que envolvem os donos de grandes empresas que se uniram na construção de uma represa. Paralelamente, Hattie tenta sobreviver com um único intuito em mente: concretizar sua vingança contra Pearl Jones.

Assim, logo percebemos que o protagonismo de Skinner e Pearl é parcialmente transferido para Cash e Hattie. Por mais que os dois vampiros americanos estejam diretamente ligados à trama, a mudança de foco certamente serve para ajudar na expansão do universo de Snyder. Além destes dois, surgem também Jack Straw e Felicia Book, membros da organização chamada Vassalos da Estrela da Manhã (VEM), dedicada ao extermínio de todas as espécies de vampiros. Isso mesmo, espécies, pois agora descobrimos que os vampiros não são divididos em duas raças somente (os europeus e os americanos); há várias outras e uma delas conhecemos neste volume. É uma espécie antiga, ancestral dos europeus, com pele grossa, mais resistente ao sol e que possui asas quando está totalmente transformada.

Esta fase da saga possui alguns elementos que dificilmente escapam a uma aproximação com o filme Os Intocáveis, de 1987. O momento histórico em que ambos se passam é praticamente o mesmo (com uma diferença de três anos); justamente por isso a estética dos desenhos de Rafael Albuquerque e Mateus Santolouco (representada nos carros, roupas, armas e ambientes internos) guarda semelhanças com o que vemos no filme de Brian De Palma (ambos inspirados pelos costumes e objetos da época). O Cash de VA lembra bastante o Eliot Ness de Kevin Costner, e não somente pelo aspecto físico: um pai de família, equilibrado e justo tanto na vida pessoal quanto na sua profissão, mas enérgico quando preciso (esta última característica mais comumente percebida no âmbito profissional). Além disso, Cash não está sozinho; ao lado de Jack e Felicia eles formam a equipe que parte em busca do responsável pelas misteriosas mortes.

O roteiro busca desenvolver o background de vários personagens, criando assim diversas linhas narrativas e núcleos que podem ser explorados a qualquer momento. Além dos já citados neste texto, outros como Abilena, Hobbes e Henry têm boas participações, com trajetórias importantes na trama (introduzidos ainda no primeiro volume). Abilena, por exemplo, é viúva do Xerife James Book, o grande perseguidor de Skinner nos anos 1880, que foi transformado em vampiro em seus dias derradeiros (mas preferiu se matar do que sucumbir aos instintos vampíricos). Hoje em dia, ela e sua filha Felicia são membros dos VEM e buscam vingar o pai e esposo. Já Henry é um humano e marido de Pearl. Ou seja, quando ele tiver idade e aparência de oitenta anos ela parecerá ter uns trinta somente; a não ser que Pearl o transforme em vampiro, coisa que ele não quer. E Hobbes, por sua vez, ocupa uma posição de liderança dentro dos VEM e seu passado ainda é misterioso.

Um aspecto que parece recorrente em Vampiro Americano é o fato de Snyder sempre se preocupar em contar uma história que intercala momentos do presente e do passado, explicando ao leitor os antecedentes de certos personagens. Esta foi sua principal abordagem no volume anterior e está presente neste também, quando conhecemos a infância de Cash e a relação com seu pai. Neste caso até se justifica, se levarmos em conta o fato de que o pai de Cash se torna peça fundamental no desenrolar da trama. No entanto, a quebra de ritmo é inevitável sempre que há uma pausa para contar o que veio antes, o que pode criar a sensação de que a história não avança. Talvez, se algumas informações fossem inseridas de forma mais natural no texto, menos sequências do passado seriam necessárias, minimizando tais quebras de ritmo.

Este volume reúne edições que servem para expandir o universo do novo vampiro do século XX. A série ainda não parece ter chegado ao seu cerne, com uma trama principal estabelecida; vários elementos estão ainda sendo apresentados até que isso ocorra. Desta forma, este segundo encadernado não possui eventos grandiosos e nem um cliffhanger verdadeiramente empolgante, que fará com que o leitor se sinta impelido a continuar acompanhando a série.

Porém, talvez o futuro de VA não seja revelar uma grande trama principal. Acredito que a série seja simplesmente sobre Skinner e Pearl, onde todo o resto seja mero adorno, desafios e percalços pelos quais ambos passem, responsáveis por promover profundas mudanças nos protagonistas ao longo do tempo. Mesmo que em dados momentos estejam intimamente envolvidos em grandes conflitos ou batalhas contra o mal, que perdurem por várias edições, a única constante seria suas trajetórias pessoais. Afinal de contas, são vampiros; criaturas que transcendem gerações e cuja única certeza é a de que ainda têm muitos e muitos dias de vida (ou de morte) pela frente.

American Vampire 6 – 11 (EUA, 2010/ 2011)
No brasil: Vampiro Americano 2 (2013)
Roteiro: Scott Snyder
Arte: Rafael Albuquerque, Mateus Santolouco
Editora no Brasil: Panini Comics
164 páginas

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