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Crítica | Velocidade Máxima

por Leonardo Campos
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A velocidade sempre foi um tema desejado pelo cinema hollywoodiano e por seus consumidores, público que geralmente observa na tela, a projeção de seus impulsos que podem até ganhar forma na realidade, haja vista uma série de reportagens sobre condutores bêbados ou presos por estar acima do limite permitido. É na ficção, no entanto, que estas repressões de uma vida dentro da legalidade ganham projeção, pois as pessoas estão no terreno da simulação, da expressão imaginada de seus desejos. E, se a história terminar com um romance bem descolado, por que não amar, correto? Essa foi a minha linha de pensamento ao retomar Velocidade Máxima, clássico moderno dos filmes de ação, uma produção bem “a cara” de sua década de lançamento, prévia de um segmento cinematográfico que se tornaria um festival de CGI futuramente, com muitos casos bem-sucedidos, muitos sem o charme de uma dupla protagonista tão cativante, tampouco um antagonista que beira, mas não despenca na representação cartunesca.

Dirigido por Jan De Bont, cineasta guiado pelo roteiro de Graham Yost, Velocidade Máxima nos apresenta um homem transtornado, Howard Payne (Dennis Hooper), transformado em um monstro por causa de alguns desacertos com a sociedade que segundo o seu discurso, precisa lhe pagar um preço alto por questões que se desdobram aos poucos ao longo da história. O problema de Payne é que em seu caminho, há o charmoso e competente policial Jack Traven (Keanu Reeves), parte integrante das ações que envolvem desarmar as bombas e demais armadilhas programadas pelo terrorista. No primeiro momento, ele precisa salvar as pessoas de um elevador prestes a despencar. Êxito e condecorações para Jack, pois a sua habilidade conseguiu salvar várias pessoas. O mesmo não ocorre numa cena posterior com um ônibus que explode. Agora, o policial precisa ser ágil para salvar as pessoas do próximo alvo, outro ônibus cheio de passageiros que atravessam a cidade para dar conta de suas demandas cotidianas.

Guiado pela direção de fotografia de Andrzej Bartkowiak, eficiente ao acompanhar o seu ritmo frenético em busca de resolução para o próximo grandioso conflito, Jack passa por diversas dificuldades até chegar ao modal que será um dos cenários de maior longevidade nos 116 minutos de filme. Antes, acompanhamos a tentativa de Annie Potter (Sandra Bullock), uma jovem passageira que passa de simples coadjuvante para o centro da narrativa quando os conflitos se tornam mais “explosivos”. Ela é uma garota que teve a sua carteira de habilitação caçada, haja vista o seu despreparo emocional para assumir o volante de um automóvel em circunstâncias “normais”. Sempre apoiado remotamente por Harry (Jeff Daniels), Jack consegue encontrar o alvo de Payne, luta constantemente, assusta o motorista com o emblemático cartaz “tem uma bomba no ônibus”, seguido da solicitação de não diminuir a velocidade.

Quem o ajuda é o alívio cômico Jaguar Owner (Glenn Plummer), homem que é pego de surpresa e precisa emprestar o seu carro intacto para Jack alcançar a condução que possui uma bomba implantada. Os exageros já esperados em um filme de ação dos anos 1990 e com esse argumento narrativo não estragam o desenvolvimento da história. Jack Traven aqui é um dos super-heróis que o cinema industrial tanto ama, mas sem nenhum superpoder que vá além da força física de um homem comum, algo que não chega nem perto dos brutamontes ao estilo Schwanegger ou Stallone. Aqui, o comando pede mais inteligência e observação do comportamento alheio e de suas próprias estratégias de condução do caso. E um detalhe: a química entre os personagens de Reeves e Bullock é o que faz o filme funcionar tão bem. Talvez não fosse tão empolgante com outro elenco.

Dentro do ônibus, um modal que trafega sob o comando de Sam (Hawthorne James), os passageiros representam o caldeirão multicultural estadunidense, com pessoas diante necessidades dramáticas diversas. Há o turista, o empreiteiro, a dona de casa, o criminoso que aparentemente foge de algum delito, em suma, um caldeirão pulsante e prestes a sucumbir. Depois que Sam é alvejado num conflito no interior do veículo, Anne assume o comando insano de uma travessia que não pode ter a velocidade diminuída. Depois de ter avançado os 50 km/h, a bomba implantada pelo terrorista é acionada e fica programada para explodir assim que seu alvo abaixar para qualquer número menor que a tal velocidade ultrapassada. A tensão fica entre os ânimos da moça no volante, os obstáculos pelo meio do caminho, dentre eles, os engarrafamentos, as obras nas vias públicas, os semáforos e faixa de pedestres e a mídia faminta pelas melhores imagens em seus helicópteros.

Toda essa tensão é trabalhada pela edição eficiente de John Wright, juntamente com a trilha sonora empolgante de Mark Mancina, setores que ganham a colaboração do premiado design de som de Stephen Hunter. O equilíbrio dos nervos diante das peripécias do terrorista ganha contornos na relação de Jack e Anne, algo que saberemos, obviamente, se transformam num flerte que depois será motivo para o estabelecimento de um relacionamento. Depois de muitos desafios, a dupla fica no ônibus, levado para uma zona mais aberta. Os supervisores de Jack ajudam na contenção das imagens veiculadas pela mídia e o terrorista, ainda crente dos distúrbios de seu plano para explodir o ônibus, sequer imagina que a situação foi contornada. Quando descobre, a sua ira se transforma na necessidade de detonar outro modal, o metrô, parte que encerra de maneira igualmente exagerada e absurda, mas não menos empolgante e divertida, a narrativa de ação que ganhou uma continuação ainda mais turbinada e insana.

O final é como esperamos. Um provável casal surge diante das dificuldades enfrentadas ao longo do dia de emoções, o vilão é dizimado, a contagem de corpos não é muito grande, mas considerável e Sandra Bullock se preparou para enfrentar outro lunático no desnecessário e divertido Velocidade Máxima 2, situado num luxuoso navio de cruzeiro que se torna alvo de um ataque terrorista sem precedentes. Farol para muitas produções de ação dos anos 1990, o primeiro filme é um dos clássicos onde a velocidade e o ritmo frenético dos acontecimentos e das coisas manipuladas pela humanidade ultrapassam todos os limites possíveis. O terrorista desempenhado de maneira formidável por Dennis Hooper traz o caos para dentro da própria civilização que em algum momento, o transformou em alguém desequilibrado. Sem equilíbrio, não há sinal vermelho, faixa para pedestres com criancinhas ou qualquer outra representação de ordem numa sociedade despreparada para enfrentar tamanho desafio.

Velocidade Máxima (Speed, EUA – 1994)
Direção: Jan de Bont
Roteiro: Graham Yost
Elenco: Keanu Reeves, Dennis Hopper, Sandra Bullock, Joe Morton, Jeff Daniels, Alan Ruck, Glenn Plummer, Richard Lineback, Beth Grant, Hawthorne James, Carlos Carrasco
Duração: 116 min.

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