Home QuadrinhosMangá Crítica | Vinland Saga – Vols. 1 a 4

Crítica | Vinland Saga – Vols. 1 a 4

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

O Autor

Makoto Yukimura, nascido em 8 de Maio de 1976, iniciou sua carreira como assistente de Shin Morimura, conhecido por mangás como Aishiteru.

Em janeiro de 1999, Yukimura deu início a sua primeira produção, o mangá Planetes, que nos traz a história de um grupo de coletores de detritos espaciais no ano 2075. A série é conhecida pelo seu realismoe também por um traço mais cuidadoso, do próprio autor, além da retratação das diversas situações passadas pelos personagens. Makoto recebeu, por esta sua obra, o prêmio Seiun, de melhor série de ficção científica, ganhando, assim, grande visibilidade no cenário mangaká.

Após o sucesso de sua produção estreante, Yukimura, então, voltou seu olhar para o passado, mais especificamente para o Oeste da Europa no século XI. Eis que surge Vinland Saga.

O mangá foi inicialmente lançado na revista Weekly Shonen Magazine, contudo, tanto por problemas de produção (o autor não cumpria os prazos estritos da revista) quanto pelo grau superior de violência, a história passou a fazer parte da revista Afternoon, voltada para um público youngadult/adulto, ou seinen.

A mudança da estrutura semanal para mensal significou uma evidente melhoria no traço do mangá, algo que pode ser visto claramente pelas capas de cada capítulo, que passaram a contar com mais detalhes. O mesmo vale para as páginas em si, possibilitando um ar ainda mais realista à obra.

Por Vinland Saga, Yukimura recebeu, em 2009, o Grande Prêmio do mangá pela premiação do Japan Media Arts.

Vinland Saga

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Ao contrário do que o nome sugere, o mangá não procura nos contar as expedições rumo à América do Norte. Ao invés disso, temos uma retratação das invasões ao território da Grã-Bretanha no século X, portanto, uma manipulação histórica da Vinland original. Àquela altura, a ilha já estava dividida entre as terras britânicas, sob o domínio do rei inglês e o Danelaw, um vasto território conquistado pelos nórdicos, consistindo do centro-norte e leste da ilha.

Vinland Saga, apesar de seu óbvio lado fictício, conta com um forte cunho histórico, em especial na criação desse vasto pano de fundo. Makoto Yukimura não se esquece de nos contextualizar naquele cenário, trazendo não só uma visão sobre o presente dos personagens, como de seus passados. As invasões romanas sobre a Bretanha são mencionadas mais de uma vez, garantindo uma maior riqueza ao mundo criado em suas páginas.

O realismo da obra, porém, se estende muito além disso. Yukimura procura construir uma evidente crueza tanto no roteiro quanto na arte, deixando clara a brutalidade empregada nas invasões vikings. Diversas vezes acompanhamos os pesados atos que se sucedem durante a pilhagem de uma vila, nos sendo mostrado a falta de piedade que caracterizara tais invasões. Não temos um olhar amenizado, no qual mulheres e crianças se salvam dentro de tais ataques. Ao contrário, na verdade: a violência tem uma presença forte e atua como uma das principais características do mangá, nesse ponto.

vinland3Este é, paradoxalmente, um dos principais argumentos que sustentam o caráter pacifista da obra. Yukimura não pretende apenas nos mostrar cenas repletas de violência e sim causar em nós um evidente desconforto, tirando toda a glória da morte e a exibindo sem floreios em suas páginas em preto e branco. Essa característica ganha uma visibilidade ainda maior, ao passo que afeta diretamente os personagens centrais, colocando neles notável amargura quando se trata da guerra.

Tendo esse aspecto em mente, Vinland Saga ganha um teor cultural  claramente japonês, embora retrate um pedaço da história dos escandinavos. O conceito e as regras do Bushido se fazem sutilmente presentes e vão ganhando maior enfoque, em especial por intermédio do personagem principal, Thorfinn.  Aos poucos, podemos notar consideráveis similaridades com outras famosas e clássicas obras do mangá, como Vagabond ou Rurouni Kenshin (Samurai X). O simples fato de agora estarmos diante de vikings e não do samurai garante um novo sopro de vida à história – por mais que a mensagem seja quase a mesma, vemos um diferente tratamento.

O autor ainda utiliza diferentes focos e não apenas seu protagonista para nos mostrar os pontos de vista de cada personagem acerca das mesmas situações. Essa característica dá um ar mais geral às invasões retratadas, funcionando mais como a história de um povo. Isso não significa, contudo, que o autor deixa de lado o desenvolvimento de personagens centrais.

A história tem início direto no campo de batalha. Uma fortaleza inglesa está sendo invadida pelos franceses, mas esses mal utilizam táticas de guerra e decidem atacar diretamente os portões da fortificação. Aproveitando essa oportunidade, um grupo de vikings, liderados por Askeladd, decide “ajudar”, exigindo, é claro, uma participação nos espólios. O líder francês acata a exigência e toma por aliado temporário esse bando de piratas.

Desde esse ponto, já podemos observar o tratamento que o autor dá aos guerreiros nórdicos. Todos eles são retratados como superiores aos outros europeus, possuindo não só mais força, como um maior senso de estratégia. Logo, porém, descobrimos que tal inteligência por trás das incursões é fruto da mente de Askeladd, que evita ao máximo um conflito direto, optando por estratégias como enviar um único garoto para trazer-lhe a cabeça do general inimigo.

Esse garoto, contudo, não é qualquer um. Trata-se de Thorfinn, o protagonista da história e que figura na primeira capa do mangá. Entraremos em mais detalhes sobre ele adiante, por enquanto, tudo o que o leitor precisa saber é que suas habilidades superam em muito seu tamanho e idade. Desde já a conturbada relação entre os dois é mostrada e somente descobrimos o porquê tendo passado algumas páginas da história.

Dessa forma, Makoto Yukimura realiza um ótimo prólogo para sua Saga, nos mostrando, de relance, o que encontraremos com o passar dos capítulos. Após esse pequeno trecho inicial, voltamos alguns anos para o passado, a fim de conhecermos a história de Thorfinn. A princípio, esse método soa um tanto didático, mas logo se sustenta firmemente, captando toda a atenção do leitor. Quando a breve retrospectiva acaba, já estamos completamente imersos na história e ela apenas melhora a partir desse ponto.

A partir de então, vemos ocorrer as invasões à Bretanha e, com algumas páginas explicativas, o autor nos oferece uma pequena aula de História, nos situando no cenário que se desenrolará. Rapidamente, essas guerras ganham propósito narrativo ainda maior, ao inserir a figura de um antagonista que Thorfinn e Askeladd procuram, ao máximo, evitar. As aventuras, então, passam a se diferenciar ainda mais, nos trazendo situações cada vez mais adversas e diferentes e criativas táticas para combater ou até mesmo fugir do oponente.

E Yukimura não tem medo de dar complexidade ainda maior à sua história, introduzindo dezenas de personagens conforme avançamos nos capítulos. Essas introduções, contudo, em nada confundem o leitor e cada um dos indivíduos apresentados desempenha um papel ativo dentro da narrativa, contribuindo ainda mais para o teor realista da obra.

Vinland Saga – Volumes 1 ao 4 (idem, Japão – 2005)
Roteiro: 
Makoto Yukimura
Arte: Makoto Yukimura
Editora (no Japão): Kodansha
Editora (no Brasil): Panini
Páginas: 1140

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