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Crítica | Westworld – 1X05: Contrapasso

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Confira as críticas para os outros episódios da série aqui. Os textos possuem spoilers!

Westworld definitivamente não é uma série fácil de se assistir. E não digo isso por ser ruim, muito pelo contrário, nesses cinco capítulos o seriado já mais que provara seu valor na televisão. É uma obra que nos obriga a pensar, juntar as peças desse intrincado quebra-cabeças, que, a cada episódio, acrescenta muito para o quadro geral. Dificilmente assistimos alguma série que, a cada semana, consiga nos trazer tantos eventos, todos fazendo parte de um grande tabuleiro, conectado em diferentes formas, todas apontando para o misterioso labirinto, que dialoga perfeitamente com o espectador – nós próprios estamos dentro dele e a cada capítulo percorremos um novo corredor, sem saber se iremos nos deparar com um beco sem saída ou a novas bifurcações.

Contrapasso é um dos episódios mais focados da séria da HBO. Embora conte com dezenas de personagens, são apenas alguns que ganham o enfoque aqui: Dolores, William e o Homem de Preto são os destaques. Aos poucos enxergamos a primeira anfitriã lentamente assumir a posição de protagonista da série – mais que apenas se dar conta da frágil realidade que a envolve, ela passa por metamorfoses a cada capítulo vai abandonando sua posição de donzela em perigo, culminando no que vimos no desfecho dessa semana.

Naturalmente, quem segue pelo mesmo caminho é William, que ganhara uma maior profundidade aqui. Ele deixa de ser o ingênuo “mocinho” e, à sua própria maneira, se torna um renegado ao abandonar para os lobos o seu chefe psicopata da vida real. E aqui entra o brilhantismo do roteiro de Westworld. Mais que a clássica narrativa da rebelião das máquinas (ou da inteligência artificial), o seriado lida com o propósito da vida e enxergamos isso em cada um dos personagens. Dolores procura escapar de seu ciclo, sua ilusão; William sempre seguira um caminho passivo em sua vida e agora está começando a tomar as rédeas dela; o Homem de Preto busca o centro do enigma do parque, como se sua vida dependesse disso e, de fato, estamos diante de um homem bem sucedido no mundo de fora, alguém que tem tudo e que entrara em um questionamento existencial.

Mesmo aqueles ligados à administração do parque tem seu olhar sobre a existência contemplados. Ford, por exemplo, se enxerga como um deus, algo deixado explícito em Dissonance Theory e que se mantem em cada linha de seus diálogos aqui em Contrapasso. Dolores pergunta se eles são velhos amigos e ele responde não. É claro que não são, ele é o criador, é superior a tudo aquilo. Entramos, portanto, em uma analogia com a religião – se Ford é Deus, então seu parceiro, Arnold, seria o diabo? Ou seria o contrário? Um deles se suicidara, se apaixonara demais pela sua criação e, no fim, procurou destruí-la, como a primeira anfitriã revela, mas, curiosamente, Henry parece seguir pelo mesmo caminho. Se continuarmos pela analogia, contudo, podemos ter outra interpretação: Ford, junto de Bernard, gradualmente garantem o livre-arbítrio a suas criações – cada um a sua própria maneira.

Permitam-me, portanto, adentrar ainda mais nesse paralelo. Ford jamais desce da posição de criador, como demonstra controlando todos a sua volta. Ele é o Deus do Velho Testamento, utilizando ações grandiosas (vide a escavadeira – que realmente existe – do capítulo anterior) e se mantendo frio perante sua criação. Bernard, por sua vez, enxerga a beleza desse mundo artificial, ele se apaixona pelos detalhes, como sutis movimentos das mãos e conversa mais diretamente com os anfitriões que ele próprio programa. Evidentemente ele é uma versão de Henry, alguém que se importa com esses androides, é o Deus do Novo Testamento, ou seu Filho, ligado diretamente ao conceito do amor – ele oferece respostas, mostra o caminho para o labirinto e não simplesmente deixa sua criação no escuro.

Evidente que o seriado não se limita ao texto bíblico e muito traz do clássico mito da caverna, com o homem lentamente passando a enxergar mais que as sombras refletidas na parede. Novamente voltamos à busca do propósito de nossa existência, a procura daquela luz distante que gera toda essa ilusão. Ironicamente, aqui o mundo das ideias é a nosso mundo real, enquanto que o parque é essa mera reprodução. O labirinto, pois, representa a escadaria que os levaria para fora desse universo, ao menos é o que especulamos. Por outro lado, Maeve encontrou sua própria maneira de se desvencilhar de sua realidade e, sendo isso possível, qual a necessidade de buscar um lugar aparentemente lendário? Respostas que, esperamos, ser trazidas na segunda metade da temporada.

Westworld é enigmático, nos obriga a pensar, criar paralelos, analogias, que dialogam constantemente com nossa filosofia ocidental. É uma série que se desenvolve em diversas camadas, que geram inevitáveis diferentes interpretações e o que torna o seriado tão interessante é que, qualquer uma dessas explicações, que nós próprios nos oferecemos, não deixa de ser verdadeira. Definitivamente não é uma série fácil de se assistir e ela simplesmente se torna cada vez mais apaixonante em virtude disso.

Westworld – 1X05: Contrapasso (Estados Unidos, 30 de Outubro de 2016)
Direção: Jonny Campbell
Roteiro: Lisa Joy
Elenco: Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Jeffrey Wright, James Marsden, Ben Barnes, Ingrid Bolsø Berdal, Luke Hemsworth, Tessa Thompson, Sidse Babett Knudsen , Simon Quarterman, Angela Sarafyan, Rodrigo Santoro, Jimmi Simpson, Shannon Woodward, Ed Harris, Anthony Hopkins
Duração: 60 min.

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