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Crítica | Youngblood #0 a 4 (1992)

por Ritter Fan
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Youngblood é o título que marca o começo da Image Comics, selo editorial que nasceu como um movimento de artistas de quadrinhos insatisfeitos com o direcionamento e controle das grandes editoras (leia-se Marvel Comics e DC Comics) sobre suas criações ao final dos anos 80 e começo dos anos 90. Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liefeld, Marc Silvestri, Erik Larsen, Jim Valentino, Whilce Portacio e Chris Claremont, em conjunto com a Malibu Comics, editora pequena que concordou em ser o veículo de efetivo lançamento das obras, então, iniciaram o movimento que ficou conhecido como X-Odus (uma brincadeira com a palavra “êxodo” com destaque no X, por vários deles serem de títulos relacionados com os mutantes da Marvel), que resultou na fundação da nova empreitada.

As regras eram simples: autoria e liberdade. Os personagens criados permaneceriam como de autoria de seus respectivos autores e cada um poderia fazer o que quisesse. Rob Liefeld, que ganhara destaque por seu trabalho em Novos Mutantes e, depois, em X-Force e que famosamente criara Deadpool em 1991, inspirado de certa forma no Exterminador, notório e querido vilão da DC Comics, especialmente do grupo Novos Titãs, ressuscitou Youngblood, uma de suas criações anteriores, publicada no one-shot  independente Megaton: Explosion, de 1987.

Trata-se de uma equipe patrocinada pelo governo americano e formada por super-heróis das mais variadas origens, normalmente geneticamente alterados, mas também alguns sem poderes (apenas habilidades especiais) e alguns extra-terrestres que, em sua origem, eram divididos em dois grupos distintos, mas que constantemente faziam crossover: o interno, lidando com ameaças em solo americano e o externo, lidando com ameaças fora dos EUA. A base inspiradora do grupo – conforme o próprio Liefeld – foi os Novos Titãs, da DC Comics, ainda que o resultado final, como no caso de Deadpool, seja radicalmente diferente. Mas outro conceito serviu de alicerce para o grupo: o de que, se heróis realmente existissem, eles seriam celebridades.

Portanto, os membros do Youngblood, além de serem super-soldados a serviço dos Estados Unidos, também são tratados como astros de Hollywood, tendo que se preocupar com a aparência, relações públicas, marketing e merchandising, incluindo a venda de brinquedos). E esse conceito sem dúvida é interessante. No entanto, Rob Liefeld, além de sua notória “arte”, que abordarei mais para frente, é extremamente inábil na construção de um roteiro lógico e que tenha um mínimo de desenvolvimento de personagens.

Para começar, seus personagens são recortes em cartolina baseado em inspirações tiradas de personagens já estabelecidos de outras editoras que ele reúne em uma apanhado desordenado para que leitores desavisados absorvam como absorvem a franquia Transformers de Michael Bay e filmes desse naipe. No time interno há Shaft, o arqueiro genérico obviamente inspirado em todos os arqueiros da Marvel e da DC, Diehard, uma espécie de Superman sombrio, Capela, o Justiceiro de Liefeld, Bedrock, um ser parecido com Concreto (de Paul Chadwick), mas que tem muito do Coisa. No time externo, há Brahma, a versão sem pelos do Fera, Fóton, que conceitualmente é a mistura de todos os heróis a base de fogo (como o Tocha Humana) já feitos, Psi-Fire, a versão violenta e sanguinária dos telepatas e o obrigatório Wolverine genérico, Cougar. Há até um sujeito congelado (Profeta) desde a 2ª Guerra Mundial como o Capitão América…

Mas o problema não está nas inspirações em si. Afinal, na arte nada se cria, tudo se copia e assim a vida continua.  O ponto nodal é que todos esses nomes bonitos e personagens espalhafatos que Liefeld cria não tem sequer a profundidade do proverbial pires. É como tentar identificar os ingredientes em uma sopa homogênea. Todo mundo se parece com todo mundo e ninguém realmente apresenta algo de especial. Claro que isso acontece em outros quadrinhos por aí, mas, nesse começo de Youngblood, sente-se claramente que o autor fez algo nas coxas, de qualquer jeito, unicamente para publicar algo, pior que fosse.

Ah, e se alguém procura uma história nesses números iniciais, não a encontrará. O que vemos são ações de um e outro grupo contra inimigos inspirados na vida real (como uma versão de Sadam Husseim) e também contra inimigos clichê, como um grupo rival e entidades robóticas. É uma panaceia de criações arquetípicas que não acrescentam nada a ninguém e nunca, em momento algum, consegue criar algum tipo de tensão.  

E isso nos leva ao quesito arte. Já é lugar-comum falar extremamente mal do trabalho de Liefeld. De certa forma, ele é o grande responsável por uma tendência ao exagero que marcou a década de 90 nos quadrinhos, com uniformes espalhafatosos, expressões constipadas ou de bocarra aberta nos rostos, peitorais inflados, coxas disformes e pés que caberiam no sapatinho de cristal da Cinderela.

E tudo isso realmente está presente em Youngblood e muito mais. Os desenhos têm o mesmo efeito no leitor que enfiar um garfo em uma tomada de 220 volts. O choque explode a retina, bombardeia o cérebro com cores vibrantes, músculos sobre músculos, dentes brancos e desproporções fisiológicas, atordoando os sentidos e, aos poucos, extinguindo sinapses e reduzindo o QI de quem lê a história. É o equivalente em quadrinhos de bater repetidamente a cabeça na parede com toda a força ou de arrancar um dente sem anestesia.

Youngblood marcou uma era e começou o que hoje é a melhor editora de quadrinhos (daí a estrela solitária que ganhou na avaliação). Mas, nessa fase inicial (e, convenhamos, em quase todas as posteriores), a criação de Liefeld é tenebrosa e completamente descartável.

Youngblood #0 a #4 (Idem, EUA – 1992)
Roteiro: Rob Liefeld
Arte: Rob Liefeld
Cores: Digital Chameleon, Brian Murray
Letras: Hank Kanalz
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: abril de 1992 a fevereiro de 1993
Páginas: 25 por edição

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