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Entenda Melhor | Batman – Aniversário de 75 Anos: Parte Quatro (Anos 1990)

por Luiz Santiago
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Depois de um artigo inteiro para falar da reformulação geral do Batman nos anos 1980, o retorno massivo de sua popularidade e o “milagre das obras-primas”, chegamos a uma nova década. Se você perdeu os textos anteriores, não deixe de ler a Parte Um (1930 – 1950); a Parte Dois (1960 – 1980) e a Parte Três (1981 – 1989).

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O biênio 1990 – 1992

A ligação entre a década de 1980 e 1990 nas histórias do Batman se deu basicamente com as motivações da DC em criar elementos chocantes para o personagem, tendo também a ideia de acrescentar “gente nova” (não só vilões) que teriam importante papel no futuro, como é o caso de Timothy Drake, que aparece pela primeira vez em Batman #436, em agosto de 1989, mas que voltaria progressivamente, até se tornar o Robin III na Batman #442 e aparecer de forma fixa de 1990 para frente.

Com Marv Wolfman e Jim Aparo na revista Batman e Alan Grant e Norm Breyfogle na Detective Comics, o início dos anos 90 trouxe histórias realmente interessantes, com abordagens humanas e que tentavam fugir do clichê da demonização de certas posturas ou padrões baratos para as tramas (veja, por exemplo, como Alan Grant e Norm Breyfogle concebem Lixo — Detective Comics #613). A linha das one-shots também apresentava novas abordagens, basta vermos a trilogia formada por Chuva Rubra, Tempestade de Sangue e Bruma Escarlate, lançada entre 1991 e 1999. Esses esforços, no entanto, tinham uma atmosfera crepuscular que incomodava a editora. O Batman parecia estar cansado.

… e em seguida, Batman o pegou pela mão e ambos desapareceram na Batcaverna.

Mesmo assim, a DC acreditava que pequenos riscos editoriais valiam a pena, o que fez com que a editora criasse várias séries/minisséries sobre o universo do Batman (e família) a fim de chamar a atenção dos leitores e ampliar o leque de variedades das histórias. Na aba abaixo, eu listo as principais séries/minisséries ou volumes de séries que tiveram início nessa década de 1990.

Batman: além das séries comuns

As publicações abaixo estão acompanhadas de seu mês e ano de lançamento nos Estados Unidos (edição #1). Também segue entre parênteses a duração da série e sua data de cancelamento. Séries baseadas nas animações para TV estão devidamente sinalizadas.

1) junho de 1992 – A Sombra do Batman (94 edições. Cancelada em fevereiro de 2000);

2) outubro de 1992 – The Batman Adventures (Baseada no universo de Batman – A Série Animada. 36 edições. Cancelada em outubro de 1995);

3) agosto de 1993 – Mulher-Gato Vol.2 (94 edições. Cancelada em julho de 2001);

4) novembro de 1993 – Outsiders Vol.2 (24 edições. Cancelada em novembro de 1995);

5) novembro de 1993 – Robin Vol.2 (183 edições. Cancelada em abril de 2009);

6) fevereiro de 1995 – Azrael (46 edições. Cancelada em maio de 2003);

7) julho de 1995 – The Batman Chronicles (23 edições. Cancelada em 2001);

8) outubro de 1995 – The Batman and Robin Adventures (Baseada do universo da série The Adventures of Batman & Robin. 25 edições. Cancelada em dezembro de 1997);

9) outubro de 1996 – Asa Noturna Vol.2 (153 edições. Cancelada em abril de 2009);

10) junho de 1998 – Batman: Gotham Adventures (60 edições. Cancelada em maio de 2003);

11) janeiro de 1999 – Aves de Rapina (127 edições. Cancelada em abril de 2009);

12) maio/dezembro de 1999 – Anarquia (Baseado no vilão criado por Alan Grant e Norm Breyfogle);

13) novembro de 1999 – Batman Beyond Vol.2 (Baseada no universo da série Batman Beyond. 24 edições. Cancelada em outubro de 2001).

Talvez a “salvação” temporária tenha vindo com Batman – O Retorno, filme de Tim Burton que dava continuação a Batman (1989) e, claro, foi responsável por mais uma febre sazonal relacionada ao personagem. A Warner não perdeu tempo e criou, ainda em 1992 (o primeiro episódio foi ao ar em setembro desse ano) Batman – A Série Animada, um dos maiores sucessos do Morcegão na TV, permanecendo no ar até novembro de 1998.

As empresas de Games também estiveram atentas às possibilidades do universo do Morcego. Em 1990, a Special FX entregou ao mercado Batman: The Caped Crusader, aventura com dois blocos de ação, uma para o Coringa e outra para o Pinguim; e a Ocean Software lançou Batman – The Video Game, baseando seu universo no filme de 1989, com cinco estágios de possibilidades para o jogador, todos eles com base no filme. E 1992 nós tivemos Batman Returns, baseado no universo do mesmo filme e Batman Return/Revenge of the Joker. Em 1994 foi lançado The Adventures of Batman & Robin; em 1996, Batman Forever: The Arcade Game (minha primeira experiência com games do Batman) e, para fechar a década, o horroroso e odiado Batman & Robin (baseado em um filme igualmente horroroso e odiado).

A era das sombras e da catástrofe (1992 – 1999)

A forma mais eficaz que a DC encontrou para conseguir upar vendas e emplacar um grandioso hype de publicação foi apelar para histórias com títulos e tramas chocantes, ao menos isso se provou funcional com o lançamento de A Morte do Superman. Daí veio a ideia de levar a catástrofe para o universo do Batman e então tivemos a saga A Queda do Morcego (Knight Fall, 1993), que trouxe um novo e mortal vilão para a galeria do Morcego: Bane (criado por Chuck Dixon, Doug Moench e Graham Nolan), vilão que fez o impensável: quebrou a coluna do Batman.

Era uma vez um Morcego…

O vigilante de Gotham, depois do “incidente Bane”, passa por um longo período de recuperação e, nesse meio tempo, surge um novo Morcego, Azrael (Jean Paul Valley), que, posteriormente (após o afastamento de Bruce Wayne de Gotham), acaba se “desviando” do caminho moral seguido pelo seu antecessor e chegando ao limite de ‘assumir-se’ como vigilante assassino, empregando grande violência em suas ações e mudando bastante o uniforme.

Após recorrer a ninguém menos que Lady Shiva para que o (re)treinasse, depois do tempo afastado devido ao estrago feito por Bane, Batman retorna a Gotham e enfrenta Azrael, retomando assim o seu lugar no panteão do vigilantismo. Ou quase.

Abalado psicologicamente, Bruce Wayne/Batman ainda não conseguia se ver assumindo por completo o posto que antes ocupara com tanto afinco. Após a vitória sobre Azrael, ele entrega o manto a Dick Greyson, o ex-Robin que agora era Asa Noturna — eventos narrados em Filho Pródigo (1994) -. Greyson também não parecia muito certo de sua decisão e a maior indicação disso foi o uso do uniforme totalmente preto como marca. O pessimismo, a atmosfera gótica e catastrófica parecia ter se abatido sobre Gotham, e os escritores e artistas investiram pesado nisso, tanto nas histórias relacionadas à cidade e vilões, quanto na psicologia dos próprios heróis locais.

Gotham em caos.

Os arcos-catástrofe se proliferaram. Em 1996 veio Contágio, seguido de Terremoto (Cataclysm, 1998), Caminho Para Terra de Ninguém (Aftershock / Road to No Man’s Land, 1998 – 1999) e Terra de Ninguém (No Man’s Land, 1999). Vírus, terremoto e caos vieram assombrar o universo do Morcego, que, paralelamente, vinha tendo algumas abordagens interessantes nas revistas intermediárias, com abertura para questões do passado de alguns vilões “B” e relações entre o Morcego e seus inimigos que não seriam facilmente imaginadas pelos leitores, como é o caso visto em O Advogado do Diabo (1996), de Chuck Dixon, Graham Nolan e Scott Hanna, onde Batman defende o Coringa de um crime que ele não cometeu.

Essa onda mais sombria para o universo do Morcego foi um contraste interessante em relação às abordagens do biênio inicial da década e teve um ótimo resultado em vendas e sagas/arcos e minisséries interessantes, mesmo com algumas vergonhas no meio do processo. As vendas agradavam a diretoria da DC e uma safra de boas histórias marcaram o período de 1994 a 1996, dentre as quais podemos citar a dobradinha da dupla Jeph Loeb e Tim Sale (O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria). Até os dois tenebrosos filmes de Joel Schumacher (Batman Eternamente e Batman & Robin) tiveram seu papel na onda de popularidade do Morcego nos anos 90, que, mais para o final da década, foi perdendo o ar trágico e sombrio para (voltar a) ganhar um ar mais detetivesco, com aventuras pontuadas por tecnologia, instituições sociais em mal funcionamento, corrupção… enfim, uma proximidade maior com a realidade do Novo Milênioque se aproximava.

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